Por Zhai Yun Tan, da IPS –
Washington, Estados Unidos, 27/7/2015 – Dois informes da organização de direitos humanos Human Rights Watch destacam a difícil situação que vive a minoria uigur na China, e lançam luz sobre a sorte que correm os que tentam encontrar um abrigo seguro na região. No dia 10 deste mês, a HRW, com sede em Nova York, divulgou uma declaração condenando o governo da Tailândia por deportar cem imigrantes uigures para a China, onde essa comunidade é perseguida, segundo a organização.
Os uigures lutam contra o controle do governo central chinês há décadas, e muitos de seus ativistas estão no exílio ou nas prisões. Outro documento da HRW, divulgado no dia 13 deste mês, revela as restrições de viagem internacional que Pequim impõe às minorias religiosas, incluídos os uigures – que são majoritariamente muçulmanos – por motivos de “estudo religioso e de peregrinação”. Um sistema de solicitação de passaporte aplicado há 12 anos exclui os uigures e outras minorias, segundo o informe.
“As autoridades chinesas devem agir rapidamente para desmantelar esse sistema de passaporte descaradamente discriminatório”, destacou Sophie Richardson, da HRW, na declaração do dia 10. “As restrições também violam a liberdade de cultos ao negar ou limitar a capacidade das minorias religiosas de participarem de peregrinações fora da China”, acrescentou.
O Ministério das Relações Exteriores da Turquia divulgou, no dia 9, um comunicado à imprensa condenando a Tailândia pela repatriação dos uigures para a China. As deportações geraram protestos diante da embaixada chinesa e do consulado honorário da Tailândia em Ancara, a capital turca.
A Região Autônoma Uigur de Sinkiang fica no oeste da China, a mais de três mil quilômetros de Pequim. Também conhecida como Turquistão Oriental, é o lar de grupos étnicos com ascendência e idioma turcos. Segundo a Associação Uigur Norte-Americana, ali há mais de 15 milhões de uigures.
Alim Seytoff, presidente da Associação com sede em Washington, afirmou, em uma declaração, que a deportação dos refugiados uigures foi uma violação de sua segurança. “A comunidade internacional deve adotar uma posição firme para garantir os direitos dos refugiados uigures”, ressaltou. “Na medida em que mais uigures fugirem da repressão no Turquistão Oriental, e que Pequim continuar pressionando por seu regresso, os governos interessados e os órgãos multilaterais não deverão permitir que a China ignore as normas internacionais de direitos humanos”, ressaltou.
Além das restrições impostas às viagens com fins de peregrinação, também se afirma que os uigures na China são proibidos de realizar o jejum religioso durante o Ramadã, mês sagrado dos islâmicos. Segundo o Congresso Mundial Uigur e vários portais de notícias, departamentos locais do governo chinês publicaram comunicados na internet alertando estudantes, funcionários e membros do partido comunista que não podiam jejuar, participar de atividades religiosas ou entrar em mesquitas.
O órgão legislativo de Sinkiang aprovou, em janeiro, um regulamento que proíbe o uso da burca, a tradicional vestimenta de algumas mulheres muçulmanas. “Isto não é novo, mas as restrições têm sido cada vez mais rígidas nos últimos anos”, afirmou Greg Fay, do Projeto de Direitos Humanos Uigur, com sede em Washington.
Os uigures mantêm relações tensas com Pequim desde a fundação da República Popular da China, em 1949. Uma série de ataques violentos em 2014 levou o governo a declarar o “combate ao separatismo, o extremismo religioso e o terrorismo”, em uma repressão que durou um ano. As detenções duplicaram desde o anúncio oficial, com um total de 27.164 prisões.
Em março de 2014, um ataque com facas em Kunming, a 2.677 quilômetros de Pequim, causou 30 mortes. Dois meses mais tarde, uma bomba explodiu em Urumqi, capital de Sinkiang, matando 31 pessoas. Em julho, um atentado contra delegacias de polícia, repartições públicas e veículos nessa cidade deixou pelo menos 50 mortos. As autoridades responsabilizam os separatistas de Sinkiang pela violência.
No começo de 2009, distúrbios em Urumqi causaram cerca de 140 mortes, o que levou o governo a bloquear o acesso à internet durante meses. “Creio que muitos funcionários de nível local identificam o Islã com o extremismo”, disse Sean Roberts, professor da Universidade George Washington, em entrevista à IPS.
Em um artigo divulgado pelo canal de notícias Al Jazeera, em junho de 2014, Seytoff afirma que, embora os uigures ocupem uma região autônoma, muitos dos funcionários da etnia han, majoritária na China, ainda mantêm o poder político e econômico na região. “A China suprimiu sem piedade todo sinal de descontentamento uigur e transferiu milhões de fiéis colonos chineses para o Turquistão Oriental, aos quais proporcionou emprego, moradia, empréstimos bancários e oportunidades econômicas que são negadas aos uigures”, detalhou.
Segundo Seytoff, “a população uigur no Turquistão Oriental, que era quase 90% (do total na região) em 1949, mas agora chega a apenas 45%, enquanto a população chinesa cresceu muito devido aos assentamentos apoiados pelo Estado, de 6% em 1953 para os atuais 40%”. Muitos uigures tentam fugir da perseguição, migrando para o território turco e países asiáticos vizinhos.
A Turquia recebeu mais de mil refugiados desde 1949, mas Camboja e Tailândia deportaram muitos uigures para a China. Um artigo do jornal The New York Times informava, em dezembro de 2009, que o Camboja havia deportado 20 uigures que solicitaram asilo no país, e que dois dias depois o governo cambojano assinou um acordo de cooperação econômica com a China. Pequim nega que os uigures estejam oprimidos e insiste em afirmar que o ato de repatriação do Camboja foi legal. Envolverde/IPS