Por Kanya D’Almeida, da IPS –
Nações Unidas, 13/8/2015 – Menos de 15 dias depois que um bebê palestino de 18 meses morreu em um atentado incendiário na aldeia de Duma, na Cisjordânia, um comitê especial da Organização das Nações Unidas (ONU) ataca a política israelense de expansão das colônias, apontando-a como a causa fundamental da violência contra os palestinos.
O Comitê Especial Encarregado de Investigar as Práticas Israelenses que Afetam os Direitos Humanos do Povo Palestino e Outros Árabes nos Territórios Palestinos Ocupados completou o trabalho de sua missão investigadora anual na Jordânia no dia 8 deste mês, mesmo dia em que o pai do bebê também morreu em consequência das graves queimaduras que sofreu quando colonos lançaram uma bomba de fogo contra a casa da família.
O Comitê se declarou “alarmado” pela escalada de violência contra os palestinos, culpando um “clima de impunidade relativa às atividades dos colonos” por tragédias como a cometida no dia 31 de julho em Duma. Em um comunicado divulgado no dia 10 deste mês, o Comitê revela que todos os testemunhos de várias organizações da sociedade civil e de funcionários palestinos apontavam para a mesma conclusão: enquanto o governo de Israel não controlar a atividade dos assentamentos ilegais na Cisjordânia, a violência provavelmente continuará.
Segundo o movimento Shalom Ajshav (Paz Agora), os colonos israelenses na Cisjordânia são atualmente cerca de 350 mil, e estima-se que existam outros 300 mil que residem em partes de Jerusalém que Israel capturou da Jordânia e anexou ilegalmente em 1967.
As colônias se concentram principalmente em uma zona delimitada como Área C, que representa 61% do território da Cisjordânia. Ali, cerca de 60 mil palestinos estão espremidos em um espaço cada vez mais reduzido, enquanto novos assentamentos os segregam e marginalizam ainda mais.
No ano passado, Israel aumentou seu gasto anual destinado à atividade dos assentamentos na Cisjordânia para US$ 100 milhões, o que representa aumento de 600% em relação ao ano anterior. Se for acrescentado o gasto de assentamentos nas colinas de Golã, o número dispara para US$ 200 milhões.
Segundo o Shalom Ajshav, desde 2009 o governo israelense aprovou licitações para cerca de 4.485 novas unidades, entre elas casas, estradas, prédios industriais e áreas agrícolas. Nos dois últimos anos, somente dois terços das novas construções tiveram lugar no lado palestino de uma fronteira acordada no contexto da Iniciativa de Genebra de 2003.
Em incontáveis ocasiões, a ONU reiterou que construir assentamentos em terras ocupadas é ilegal segundo o direito internacional. Apesar dos pedidos de vários secretários-gerais das Nações Unidas, incluindo o atual, Ban Ki-moon, agora há cerca de 220 colônias israelenses espalhadas por toda a Cisjordânia.
Um informe exaustivo do jornal The New York Times indicou que essas residências vão de rudimentares “postos avançados no alto das colinas” até cidades de crescimento descontrolado que possuem suas próprias universidades e até cinemas. Na última categoria, o maior é o enclave conhecido como Modiin Illit, onde vivem 60 mil pessoas e que cresce a grande velocidade. Só em 2009 registrou 60 nascimentos por semana.
Além de anexar terra palestina e fragmentar mais a Cisjordânia, a expansão das colônias também contribuiu para um clima de impunidade com o qual os crimes contra os palestinos – frequentemente por parte dos próprios colonos – continuam fora de controle.
Um documento da organização israelense de direitos humanos Yesh Din revela que “apenas 7,4% das investigações policiais realizadas pela Polícia do Distrito de Samaria e Judeia sobre crimes cometidos por civis israelenses contra palestinos e propriedades palestinas na Cisjordânia acabaram em acusações contra os suspeitos”. Judeia e Samaria são os nomes bíblicos com que os colonos designam a Cisjordânia.
A organização acrescentou que o número se baseia em uma amostra de aproximadamente mil investigações realizadas por essa força policial entre 2005 e 2014. Muitos atos de violência e vandalismo ocorrem em terras agrícolas palestinas, ou nos subúrbios das aldeias palestinas. Para a Yesh Din, esses ataques são “uma estratégia calculada, desenhada para restringir e tirar dos palestinos suas terras”.
Só nos primeiros sete meses deste ano, a ONU documentou cerca de 120 ataques cometidos por colonos judeus contra palestinos que vivem na Cisjordânia. Informes da Yesh Din indicam que esses incidentes violentos cobrem todo o espectro que vai desde tiros até golpes, ou atropelar palestinos com veículos.
Os colonos também costumam tentar destruir terras agrícolas palestinas, cortando árvores, incendiando cultivos, danificando máquinas ou roubando e envenenando o gado. Os ataques contra a propriedade representam 41% de todas as queixas apresentadas, metade delas implicam a destruição de pomares. Desde 1967, cerca de 800 mil oliveiras foram arrancadas na Cisjordânia e em Gaza.
A Yesh Din também indica que 5% dos arquivos de investigação da Política do Distrito de Samaria e Judeia “incluem a matança de animais de criação, a profanação de mesquitas e cemitérios, o lançamento de esgoto sobre terra agrícola palestina e também o lançamento de dejetos sobre terra pertencente a palestinos”.
Outros 14% dos crimes contra palestinos envolvem colonos que tentam ficar com terra palestina cultivando sem autorização, cercando certas áreas, ultrapassando ilegalmente ou instalando casas e estufas portáteis do lado palestino da fronteira.
Embora o governo israelense costume condenar publicamente a violência dos colonos, olhando mais claro os números se tem um panorama mais claro de suas políticas.
Segundo análises exaustivas dos custos econômicos dos assentamentos, publicada este ano pelo Centro Macro para a Economia Política, com sede em Tel Aviv, em 2014 o Estado destinou US$ 950 a cada israelense residente na Cisjordânia, o dobro do que gastou com os habitantes de cidades maiores, com Tel Aviv ou Jerusalém. Seu gasto destinado a cidadãos israelenses em assentamentos mais isolados foi de US$ 1.480 por pessoa no ano passado. Envolverde/IPS