Economia

Crise econômica e vazio político, uma mistura perigosa no Brasil

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

 

Rio de Janeiro, Brasil, abril/2015 – Em janeiro, quando a presidente Dilma Rousseff iniciou seu segundo mandato, os analistas tinham claro que a economia do Brasil estava em más condições.

Ao contrário de seu predecessor, Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011), Dilma não teve a sorte de governar em um período econômico favorável.

E também ao contrário de Lula, não foi uma boa promotora dos produtos brasileiros e, menos ainda, uma boa condutora da economia nacional.

Parece lícito pensar que a política econômica, especialmente nos dois últimos anos de seu primeiro mandato, foi manejada com uma visão de muito curto prazo e que, pelo contrário, teria sido necessária a adoção de sérios reajustes para voltar a colocar a economia em marcha.

É ainda mais chamativa a comprovação de que também a política nacional está em más condições.

Pegos de surpresa diante das revelações da escandalosa corrupção na Petrobras, as autoridades federais, começando pela própria presidente, ficaram atônitas diante da grande queda do apoio da opinião pública, perderam por completo a capacidade de iniciativa e criaram um perigoso vazio de poder no país.

Tratou-se de um vazio mais do que de uma ameaça política, porque a oposição estava tão desorientada como a presidenta.

A direita política, que nunca foi um firme apoio das instituições, parecia mais interessada em “fazer sangrar” a presidente, segundo a declaração de um dos líderes da oposição, do que em lutar pela hegemonia política.

Os problemas econômicos foram, certamente, piorados pela baixa qualidade da política econômica durante a segunda parte de seu primeiro mandato.

A comprovação de que o “vento de cauda” criado pela forte demanda chinesa por matérias-primas havia deixado de soprar, levou o governo a adotar uma série de medidas para estimular a economia que, em grande parte, foram ineficazes.

As numerosas medidas instrumentadas foram tomadas isoladamente, sem uma estratégia de conjunto, e pareceram presentes dados a diversos setores, o que contribuiu para a percepção popular de que a corrupção se convertera em um sistema de governo.

Para enfrentar os problemas semiestruturais da taxa de câmbio monetária, que afetavam a competitividade dos produtos locais frente aos importados, bem como as exportações, o governo agiu de maneira dispersa, principalmente com reduções de impostos ou mudanças nas taxas de juros.

Obcecado pela produção automobilística, o governo queimou recursos para estimulá-la, apenas para encontrar resistência de outros países a comprá-la, sobretudo da Argentina.

Diversas estimativas coincidem em apontar que muito provavelmente a redução de impostos e outras medidas similares foram decididas sem um cálculo prévio de custos, perda de renda fiscal e outras precauções.

A política macroeconômica anti-recessão, adotada no final de 2008, apoiou-se em grande parte na expansão do consumo impulsionada mediante o endividamento das famílias.

A crescente morosidade creditícia e a restrição nas rendas fizeram essa opção cada vez mais insustentável, enquanto os investimentos, públicos e privados, decepcionaram as expectativas.

Ao não conseguir captar os fundos para investimentos indispensáveis em infraestrutura, o governo foi extremamente lento em desenhar uma estratégia apropriada para atrair investidores do setor privado.

Aparentemente desorientado por sua própria incapacidade de encontrar a saída para a crise, o governo deixou de tomar decisões que eram necessárias, por exemplo, no caso do setor elétrico.

A lista de erros e demonstrações de inaptidão é longa e bem conhecida.

Dilma Rousseff, reeleita em outubro por uma pequena margem, optou por uma virada de 180 graus, ao nomear como novo ministro da Fazenda Joaquim Levy, um economista conservador, surpreendendo seus partidários, que se viam diante da obrigação de ter que defender políticas que até o dia anterior haviam atacado quando propostas pelos opositores.

Tudo isso teria sido muito difícil de manejar mesmo sem o escândalo da Petrobras. Mas esta não é apenas a maior empresa nacional, é, de certo modo, um símbolo de nacionalidade. Além disso, se dava como certo que a energia era a especialidade de Dilma, que foi responsável pelas políticas da empresa quando era ministra de Minas e Energia (2003-2005).

Um rumor cada vez mais forte sobre um possível impeachment da presidente a levou a equívocas decisões políticas – entre elas a designação de um gabinete considerado pobre em qualidade – e a perder o apoio do maior aliado do governo, o PMDB, bem como da maioria de seu próprio partido, o PT.

O resultado da situação política foi ilustrado por duas grandes manifestações, nos dias 13 e 15 de março.

Na primeira marcharam pelas ruas das principais cidades brasileiras os partidários do governo. Em suas declarações, a maior parte dos líderes (Lula não participou) expressou apoio condicional à presidente, isto é, que Dilma se livre do ministro da Fazenda e cancele as recentemente anunciadas medidas de austeridade.

Em 15 de março, uma multidão ainda maior foi às ruas nas mesmas cidades proclamando sua incondicional oposição à presidente.

O Brasil vive uma situação perigosa. Nem o governo, nem a oposição parlamentar são conduzidos por líderes nos quais o povo confie.

Esse quadro político é inquietante para um país que celebra apenas 30 anos de governos civis. No entanto, sabe-se que, quando a economia agrega graves problemas ao vazio político, é impossível não temer pelo futuro. Envolverde/IPS

* Fernando Cardim de Carvalho é economista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.