Por BaherKamal, da IPS –
Roma, Itália 27/4/2016 – “O objetivo dos extremistas é que nos enfrentemos entre nós; nossa unidade refuta de forma definitiva sua falida estratégia”, destacou este mês o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon. “Devemos reconhecer que, atualmente, muçulmanos são a grande maioria das vítimas”, acrescentou.
“É inevitável cair em exemplos como o Estado Islâmico (EI) ou o nigerianoBokoHaram, mas o fenômeno do extremismo violento que conduz ao terrorismo não está arraigado nem limitado a nenhuma religião, região, nacionalidade ou grupo étnico”, afirmou Ban na Conferência sobre Prevenção do Extremismo Violento – Formas de Avançar.“O extremismo violento é claramente uma ameaça transnacional que exige cooperação internacional urgente”, prosseguiu, dirigindo-se aos participantes do encontro realizado nos dias 7 e 8 deste mês em Genebra.
Ban explicou que seu Plano de Ação para prevenir o extremismo violento oferece um enfoque integral e equilibrado de ações concertadas em escala global, regional e nacional. O documento foi enviado pela primeira vez à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) no dia 15 de janeiro deste ano.
Depois, em 12 de fevereiro, os 193 Estados membros da ONU adotaram uma resolução que felicitou a iniciativa do secretário-geral e se comprometeram a se dedicar mais ao plano, o que inclui a revisão da Estratégia Mundial Contra o Terrorismo, que acontecerá em junho.
Seis dias depois da conferência da ONU, a Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) realizou sua 13ª Cúpula Islâmica, em Istambul, nos dias 14 e 15 deste mês, quando analisou formas de enfrentar a escalada do extremismo e do terrorismo, que avivam a islamofobia. A OCI foi fundada em 1969, é o segundo fórum intergovernamental depois da ONU e reúne 57 países.
Na cúpula, “a OCI acordou uma série de medidas para enfrentar a islamofobia”, disse à IPS a diretora geral de Assuntos Culturais, Sociais e de Família, Mehla Ahmed Talebna. “Foi pedido aos membros a criação urgente de um diálogo forte com a comunidade internacional de forma bilateral e multilateral, bem como trabalhar com o Ocidente para criar laços culturais e religiosos fortes como forma de contraponto ao sentimento de polarização contra as minorias religiosas”, acrescentou.
Talebna também destacou que a cúpula de Istambul se concentrou na “necessidade de reforçar o papel dos líderes religiosos e sociais para deter a tendência rumo ao extremismo, que alimenta a islamofobia, promovendo a tolerância, moderação, o respeito mútuo e a coexistência pacífica”.
Consultada sobre as causas da islamofobia no Ocidente, em geral, e na Europa, em particular, Talebnaindicou que,“apesar da crescente ética social, a economia europeia avançou na direção oposta, ao lado de uma retórica populista e do ressurgimento de uma política de extrema direita”.O contexto econômico e político somado a atos extremistas cometidos por uns poucos muçulmanos favoreceram a generalização de estereótipos negativos e a discriminação.
Segundo Talebna, o irônico “é que as organizações terroristas como o EI e os grupos de extrema direita do Ocidente, bem como as campanhas dos meios de comunicação negativas, se alimentam mutuamente. Na OCI, nosso compromisso é nos opormos aos extremistas da extrema direita e também combater organizações terroristas como o EI”.
“Incentivamos os Estados membros da OCI a trabalharem com a mídia para promover a compreensão sobre como fazer uso responsável da liberdade de expressão, e que prestem contas por manterem um discurso de ódio e extremista”, afirmou a secretária da organização. E também impulsionaram a aceleração da “implantação da Estratégia de Mídia para Enfrentar a Islamofobia, adotada na Conferência Islâmica de Ministros da Informação, realizada em Lilbreville em 2012”, acrescentou.
Talebna explicou que “estamos criando um centro de mensagens contra o extremismo, que recorre a clérigos islâmicos, por intermédio da Academia Islâmica Fiqh, para criar uma propaganda religiosa sólida contra o discurso extremista. Além disso, colaboraremos com várias organizações e instituições, bem como com líderes comunitários, para defender e promover a tolerância, a moderação e o respeito mútuo como contraponto à retórica extremista”.
A OCI também se esforça para empoderar as mulheres e formar os jovens com a finalidade de promover a paz e o desenvolvimento no mundo muçulmano. Talebna espera que no longo prazo isso contribua para aliviar o problema. Sobre a tendência de buscar refúgio na religião registrada nas sociedades muçulmanas, especialmente no Oriente Médio, afirmou que,“se existe, não é uma tendência exclusiva das sociedades muçulmanas. A religião se expande, em geral, no mundo em desenvolvimento”.
Há numerosos estudos que mostram que as pessoas praticantes são mais respeitosas da lei e, em geral, não são propensas ao extremismo, pontuouTalebna.Além disso, a cúpula da OCI se propôs a adotar um conjunto de medidas “práticas para enfrentar o sentimento antimuçulmano, tanto nos países ocidentais como em outras regiões”,prosseguiu.
“O comunicado oficial da Cúpula Islâmica exorta os Estados membros a aumentarem o papel dos líderes religioso e comunitários para se contrapor à tendência ao extremismo e diminuir a islamofobia, que, de fato, é o principal fator do extremismo”, destacouTalebna. O encontrotambém “incentivou os Estados membros a promover o diálogo interconfessional e inter-religioso, criar consciência sobre as interpretações e as crenças religiosas, e abrir um espaço para debater sobre o Islã e a fé, bem como incentivar projetos relevantes no âmbito da Aliança de Civilizações das Nações Unidas”, acrescentou.
Além disso, a OCI incentiva seus membros a realizarem todo esforço para implantar o Plano de Ação, previsto na resolução 16/18 do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que procura se contrapor ao ódio às religiões sem dupla moral, ressaltouTalebna. “Para atender as causas da raiz do racismo e da xenofobia em geral, da qual faz parte a islamofobia, a OCI expressou seu apoio aos esforços para que a comunidade internacional se comprometa com o tema da atualidade do histórico legado negativo do comércio transatlântico de escravos e do colonialismo”, enfatizou.
A secretária da OCI explicou que o tema inclui desde o saque ao patrimônio cultural, passando pela questão da restituição e das reparações, até o perdão das ofensas, como a necessidade de um acordo sobre as estratégias para consegui-lo. A esse respeito, a cúpula de Istambul deu à OCI mandato para apoiar a convocação de uma conferência internacional dedicada ao comércio de escravos, à escravidão, ao colonialismo, à restituição e às reparações. Envolverde/IPS