Por Thalif Deen, da IPS –
Nações Unidas, 19/10/2015 – No Dia Mundial da Alimentação, comemorado no dia 16, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, afirmou que há 70 anos os países fundaram a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) com a promessa de “garantir que a humanidade ficasse livre da fome”.
“Hoje continuamos visando o Desafio Fome Zero, que coloquei em marcha há três anos para manter essa promessa ao nosso mundo”, afirmou Ban na cerimônia pela data realizada na cidade italiana de Milão. “A Agenda 2030 (para o Desenvolvimento Sustentável) é nosso mapa do caminho para o sucesso”, acrescentou, lembrando que a fome é mais do que a falta de comida, “trata-se de uma terrível injustiça”.
“Estamos aqui hoje para nos comprometermos a alcançar a segurança alimentar para todos, para construir um movimento mundial que acabe com a fome. Isso segue de mãos dadas com melhor saúde, desenvolvimento econômico e inclusão social para as pessoas e as sociedades”, afirmou Ban. O secretário-geral insistiu que os mais jovens têm uma função especial na Agenda de Desenvolvimento Pós-2015.
Mas não se pode esperar que essa geração avance de estômago vazio, ressaltou Ban. “Enquanto nos esforçamos para nos convertermos na Geração de Fome Zero, devemos garantir que os jovens estejam facultados a participar ativamente de nossos esforços compartilhados”, afirmou em uma mensagem à Comissão de Seguridade Mundial da ONU.
No final de setembro, mais de 160 chefes de Estado e de governo adotaram a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, cujos 17 objetivos incluem a promoção da prosperidade e a proteção do ambiente. Uma das principais metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é eliminar a fome e a pobreza até 2030.
Ban não tem dúvidas sobre a importância da segurança alimentar mundial para que possa prosperar a agenda de desenvolvimento da ONU. “Não seremos capazes de cumprir a promessa da Agenda 2030 sem um rápido progresso para a erradicação da fome e da desnutrição”, enfatizou.
Danielle Nierenberg, presidente da Food Tank, uma organização não governamental com sede nos Estados Unidos, apontou à IPS que, sem um forte compromisso com a melhora da segurança alimentar e da nutrição – e do empoderamento dos pequenos agricultores –, será impossível alcançar qualquer dos ODS.
Em muitos sentidos, os ODS continuam o Desafio Fome Zero da ONU, que foi impulsionado pelo secretário-geral, pontuou Nierenberg. Mas, acrescentou, os responsáveis políticos devem assumir compromissos reais e investir na erradicação da fome e da pobreza. Sem esses compromissos o mundo não poderá acabar com a fome até 2030.
Nierenberg afirmou que “tenho a esperança de que a comunidade empresarial, os patrocinadores e os doadores, bem como os responsáveis políticos, entendam que já não podemos esperar para enfrentar esses desafios, e que encontrem maneiras de fazer com que a agricultura seja ecológica e economicamente sustentável para nutrir as pessoas e o planeta. Nosso sistema alimentar está falido. Alguns não têm comida suficiente, outros comem exageradamente. Só há uma maneira de resolver esse problema, e isso começa com você e comigo”.
Em seu informe anual, divulgado no dia 13, a FAO diz que os programas de proteção social, como alimentação escolar, obras públicas, transferências de dinheiro e as pensões, desempenham uma função importante na luta contra a fome e a pobreza no mundo. “Também ajudam a melhorar a nutrição infantil, reduzir o trabalho infantil, melhorar o rendimento educacional e estimular a atividade econômica em toda a comunidade”.
Entretanto, o documento acrescenta que somente uma em cada três pessoas mais pobres do mundo está coberta por algum tipo de proteção social. A FAO pergunta se os países pobres podem pagar os programas de proteção social e como podem ser desenhados para promover o crescimento econômico inclusivo, melhorar os meios de vida e contribuir para a erradicação da fome.
Muitos países cumpriram os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) referentes à redução da pobreza, mas muitos mais continuam atrasados. O desafio depois de 2015, quando vence o prazo para cumprimento desses objetivos, será erradicar a pobreza e a fome no mundo.
“Muitos países em desenvolvimento reconhecem cada vez mais a necessidade de se adotar medidas de proteção social que reduzam a privação imediata das pessoas que vivem na pobreza e para evitar que outros caiam na pobreza quando surge uma crise”, destaca o informe da FAO. Envolverde/IPS