Internacional

Diversidade étnica ausente nas redações

Meios de comunicação presentes em uma entrevista coletiva no museu Newseum, em Washington, no dia 16 de julho de 2009. Foto: Nasa Goddard Space Flight Center/cc by 2.0
Meios de comunicação presentes em uma entrevista coletiva no museu Newseum, em Washington, no dia 16 de julho de 2009. Foto: Nasa Goddard Space Flight Center/cc by 2.0

Por Nora Happel, da IPS – 

Nações Unidas, 4/8/2015 – Embora a população dos Estados Unidos seja cada vez mais diversa etnicamente, nas redações dos meios de comunicação predominam os jornalistas homens e brancos, segundo pesquisa da revista The Atlantic. Apenas 22,4% dos jornalistas de televisão, 13% dos que trabalham em rádio e 13,34% na imprensa diária pertenciam a grupos minoritários em 2014, embora as minorias étnicas representem 37,4% da população norte-americana, afirma o estudo.

Na mídia escrita, a porcentagem de jornalistas pertencentes às minorias flutuou entre 11% e 14% nas últimas duas décadas, segundo o Centro de Pesquisa Pew e a Sociedade Norte-Americana de Editores de Notícias (Asne). Muitos afirmam que este é um problema importante para um campo que se esforça por representar e informar um público diverso, e preocupante para um meio que tem o poder de influir nos pontos de vista de audiências maciças.

“O jornalismo deve oferecer a visão de diferentes pontos de vista sobre diversos temas e os meios de comunicação devem refletir o público”, afirmou à IPS Pamela Moriniere, encarregada de Comunicações e Direitos de Autor na Federação Internacional de Jornalistas. “O risco é que, ao limitar o acesso das minorias étnicas à mídia, o público recebe uma percepção errônea da realidade e do lugar que as minorias têm na sociedade”, apontou.

A representação insuficiente dos jornalistas das minorias tem efeitos negativos sobre a qualidade da informação. “A consequência é que a cobertura das notícias carece das perspectivas, da perícia e do conhecimento desses grupos, bem como de suas habilidades e experiências específicas por motivo de quem são”, explicou Alfredo Carbajal, chefe de redação do jornal Al Dia, de Dallas, editado em espanhol, e um dos responsáveis do Instituto de Liderança das Minorias, da Asne.

O presidente da Asne, Chris Peck, afirmou que “se as redações não podem se manter em contato com os problemas, as preocupações, as esperanças e os sonhos de um público cada vez mais diverso, essas organizações de notícias perderão sua relevância e serão substituídas”.

Os motivos dessa situação, segundo Carbajal e Peck, estão na falta de oportunidade para os estudantes das minorias, em comparação com seus colegas brancos. As empresas “jornalísticas dependem há muito tempo” de um sistema estabelecido para encontrar o talento dominado por contatos brancos, em sua maioria da classe média e alta – escolas, líderes atuais do jornalismo, companhias de meios de comunicação. É uma espécie de círculo vicioso que evolui lentamente”, pontuou Peck.

Esse argumento se repete em uma análise do estudante de doutorado Alex Williams, publicado na revista Columbia Journalism Review. Diante da afirmação de que os jornais não podem mais contratar jornalistas minoritários devido à escassez de diplomados universitários, Williams analisou as pesquisas anuais de pós-graduação publicadas pela Faculdade Grady de Jornalismo, da Universidade da Georgia.

Williams constatou que as minorias constituíram 21,4% dos diplomados em jornalismo ou comunicação entre 2004 e 2013, um número que “não é alto” mas que “não é tão baixo quanto o número de jornalistas de minorias que trabalham nas salas de imprensa hoje” nos Estados Unidos. Mais alarmante é que apenas 49% dos diplomados de minorias encontraram emprego ao término de seus estudos, enquanto esse número sobe para 66% entre seus colegas de origem branca, segundo Williams.

Um motivo que faz com que os diplomados das minorias étnicas tenham dificuldade para encontrar trabalho é que a maioria das redações oferece estágio não remunerado, algo que muitos desses estudantes não podem se permitir devido à sua baixa renda. Além disso, os estudantes minoritários têm maior probabilidade de frequentar escolas menos dotadas que talvez não tenham recursos suficientes para publicar um jornal, afirma o estudo.

Outra razão está vinculada às limitações financeiras dos jornais. “É todo um desafio para as organizações de notícias manter uma força de trabalho diversa quando os meios de comunicação tradicionais sofrem dificuldades econômicas”, disse Peck.

Além disso, os contratos sindicais favorecem a desigualdade trabalhista, explicou Doris Truong, redatora do The Washington Post e presidente provisória da Unidade, uma aliança integrada por Associação de Jornalistas Asiático-Norte-Americanos, Associação Nacional de Jornalistas Lésbicas e Gays, e Associação de Jornalistas Indígenas Americanos.

“Uma peça desse quebra-cabeça são as políticas de demissão e os contratos sindicais que frequentemente recompensam a antiguidade e faz com que os contratados mais recentes sejam mandados embora primeiro. Muitos jornalistas de minorias têm postos de trabalho menos protegidos porque são empregados com menos tempo de casa”, detalhou Truong.

Entre as propostas para aumentar a representação desses jornalistas, Moriniere aponta a inclusão do jornalismo de diversidade nos planos de estudo, diálogos nas redações sobre representação dos grupos minoritários e adoção de políticas de igualdade de oportunidades e de não discriminação.

Peck insiste na importância do “talento autóctone”. Segundo ele, “identificar os estudantes locais interessados no jornalismo e que tenham ligação com uma zona específica será um fator fundamental na diversificação das redações. É um esforço de longo prazo, mas pode dar seus frutos”.

Organizações da sociedade civil, como Unidade, apontam em aumentar a representação dos grupos minoritários no jornalismo e a promoção de uma cobertura justa e completa sobre as questões de diversidade, etnia e gênero. Mas, não são apenas estes jornalistas que estão escassamente representados nos meios de notícia dos Estados Unidos e no resto do mundo.

Um Informe Mundial sobre a Condição da Mulher nos Meios de Comunicação, da Fundação Internacional de Mulheres na Imprensa, aponta que estas representam apenas um terço da força de trabalho nas 522 empresas jornalísticas pesquisadas em quase 60 países para o estudo. Setenta e três por cento dos postos de direção são ocupados por homens, contra apenas 27% de mulheres. “Quando se trata da representação das mulheres nas noticias, a situação é ainda pior”, ressaltou Moriniere. Envolverde/IPS