Internacional

Educação é arma contra a intolerância

O Talibã paquistanês destruiu 838 escolas entre 2009 e 2012. Foto: Kulsum Ebrahim/IPS
O Talibã paquistanês destruiu 838 escolas entre 2009 e 2012. Foto: Kulsum Ebrahim/IPS

Por Thalif Deen, da IPS – 

Nações Unidas, 14/8/2015 – A Organização das Nações Unidas (ONU) pretende lançar uma campanha mundial contra a intolerância, o extremismo, o racismo e a xenofobia, valendo-se de jovens talentos. Seu secretário-geral, Ban Ki-moon, enfatizou que a educação é a chave. “Para entender o poder da educação, basta olhar como os extremistas a combatem”, afirmou.

Quiseram matar a ativista adolescente paquistanesa Malala Yousafzai e suas amigas porque eram meninas que queriam ir à escola, destacou Ban. Extremistas violentos sequestraram mais de 200 meninas em Chibook, na Nigéria, e dezenas de estudantes foram assassinados na cidade queniana de Garissa e em Peshawar, no Paquistão.

“O que mais temem são as meninas e os jovens com livros de estudo”, afirmou Ban, que logo anunciará “um exaustivo Plano de Ação para Impedir o Extremismo Violento”, junto com a criação de um painel assessor de líderes religiosos, a fim de promover o diálogo entre os diferentes credos. A previsão é que o plano seja apresentado na 70ª sessão da Assembleia Geral da ONU, que começará na terceira semana de setembro.

Como parte da campanha contra a intolerância e o extremismo, o Departamento de Informação Pública da ONU selecionou dez projetos de jovens de todo o mundo por meio de um “concurso de diversidade”. Os projetos, escolhidos entre cem propostas de 31 países, incluem desafiar a homofobia na Índia e no México, resolver conflitos pelo acesso à água para reduzir o conflito étnico em Burundi, promover a harmonia inter-religiosa no Paquistão, incentivar uma aceitação maior das populações migrantes na África do Sul, além de promover maiores oportunidades de emprego para mulheres muçulmanas na Alemanha.

Lara-Zuzan Golesorkhi, estudante de doutorado e instrutora na New School de Nova York, apresentou um dos projetos ganhadores. Ela contou à IPS que busca abordar um dos assuntos políticos mais debatidos na Alemanha contemporânea: a integração dos imigrantes muçulmanos. No centro dessas discussões está o chamado “debate do véu”, que saltou para primeiro plano com o caso Ludin.

Em 1998, Fereshta Ludin, filha de imigrantes afegãos que se cobria com o véu típico muçulmano, teve negado um emprego como professora no sistema de escolas públicas com o argumento de “falta de aptidão pessoal” que a tornava “inadequada e incapaz de cumprir as responsabilidades de uma funcionária pública de acordo com o direito básico alemão”.

A disputa interminável entre Ludin e o sistema judicial alemão provocou a criação de políticas institucionais que implicam a proibição do véu para professoras de escolas públicas de toda a Alemanha. Essas políticas já são aplicadas em oito dos 16 landers (Estados), mas acabam de ser questionadas pela justiça federal, que determina aos respectivos Estados que revisem as políticas inerentemente discriminatórias, apontou Golesorkhi, que é cidadã alemã e tem residência permanente nos Estados Unidos.

O Departamento de Informação Pública da ONU informou que Golesorkhi voltará à Alemanha para desafiar o que considera discriminação contra as mulheres muçulmanas. Ela pretende solicitar a potenciais empregadores que se comprometam simbolicamente a contratar mulheres muçulmanas. Também produzirá uma lista desses empregadores, para que as mulheres se sintam seguras e empoderadas para se candidatar a cargos nesses lugares.

O jornal norte-americano The New York Times informou no mês passado, citando o Serviço de Mídia e Informação de Estudos Religiosos na Alemanha, que os muçulmanos constituem cerca de 5% da população de 81 milhões, em comparação com os 49 milhões de cristãos. O jornal se centrou na crescente controvérsia relacionada com a renovação de uma igreja abandonada no distrito operário de Horn, em Hamburgo, que estava sendo transformada em uma mesquita. “A igreja esteve abandonada durante dez anos e ninguém se importou. Mas quando os muçulmanos a compraram, repentinamente passou a ser um tema de interesse”, pontuou ao jornal o diretor do Centro Islâmico Al Nour em Hamburgo, Daniel Abdin.

Golesorkhi explicou à IPS que, com sua organização não governamental With or Without (WoW, Com ou Sem), em sua forma mais abstrata, busca abortar a intersecção de dois aspectos cruciais da política alemã: imigração e religião. Ambos aspectos tiveram um papel significativo no processo de criação nacional da Alemanha, especialmente em matéria de leis e de composição social diversa do país, bem como o desenvolvimento da islamofobia e de atos discriminatórios contra os muçulmanos.

O aspecto religioso aumentou particularmente desde 11 de setembro de 2001, data dos atentados fundamentalistas que deixaram três mil mortos em Nova York e Washington.

Segundo Golesorkhi, a população de muçulmanos na Alemanha passou de 2,5 milhões, em 1990, para 4,1 milhões, em 2010, e espera-se que aumente para quase 5,5 milhões em 2030. Os três principais países de origem dos imigrantes muçulmanos são Turquia, Marrocos e a ex-Iugoslávia. Essa presença significativa e em contínuo crescimento despertou sentimentos negativos na sociedade, onde já em 2008 se considerava que os muçulmanos eram os vizinhos mais indesejáveis.

Além da campanha para que empregadores se comprometam a dar trabalho a mulheres muçulmanas (Eu me Comprometo), o projeto de Golesorkhi inclui o seminário Preparada para o Emprego, uma série de painéis que buscam preparar as muçulmanas para sua inserção no mercado de trabalho alemão, e uma campanha para conscientizar sobre as dificuldades que elas enfrentam ao buscar trabalho na Alemanha. Envolverde/IPS