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Educação financeira reduz fisco dos fazendeiros em Zâmbia

O agricultor de Zâmbia Neva Hamalengo (direita) sabe o que significa perder a colheita em consequência do clima. Foto: Friday Phiri/IPS
O agricultor de Zâmbia Neva Hamalengo (direita) sabe o que significa perder a colheita em consequência do clima. Foto: Friday Phiri/IPS

Por Friday Phiri, da IPS – 

Moyo, Zâmbia, 10/7/2015 – A instabilidade climática faz com que o trabalho dos pequenos agricultores que dependem da chuva em Zâmbia seja cada vez mais arriscado, mas a situação pode piorar se o aquecimento do planeta aumentar as frequências das secas e das inundações.

Neva Hamalengo, um agricultor de 40 anos natural de Moyo, sul de Zâmbia, sabe o que significa perder tudo em um piscar de olhos. Uma tempestade arrasou um hectare inteiro de seus tomates, no valor de US$ 2 mil, enquanto uma seca que durou um mês acabou com sua colheita de milho.

“O rendimento será medíocre nesta safra. Sofremos danos nos cultivos com tempestades e quando a plantação precisava de chuva para se recuperar tivemos uma seca severa”, contou Hamalengo. E, para piorar, ele não tinha seguro. O agricultor admite que “nada sabia sobre seguros”, e garante que gostaria que o ensino a respeito fosse incluído nos serviços de extensão agrícola.

Sua situação é semelhante à da maioria dos pequenos agricultores, geralmente excluídos dos serviços financeiros, e confirma o argumento dos especialistas que alertam para o risco de operar uma empresa que não está segurada ser muito maior quando o clima entra em jogo.

A inclusão financeira é considerada um fator fundamental para reduzir a pobreza, mas as estatísticas em Zâmbia não são nada animadoras. A pesquisa FinScope 2009 concluiu que 63% da população adulta de Zâmbia, ou 6,4 milhões de pessoas, estão excluídas dos serviços financeiros formais. Pouco mais da metade da população adulta nesse país, de quase 15 milhões de habitantes, se dedica à agricultura.

A maioria não “bancarizada” é integrada pela população pobre, e grande parte dela é de pequenos agricultores. A fim de ajudá-los a serem mais resistentes à variabilidade climática, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) colocou em marcha a Iniciativa Resiliência Rural R4. Trata-se de “um enfoque integrado de gestão de riscos, centrando-se no seguro agrícola indexado (transferência de risco), melhoria da gestão dos recursos naturais (redução do risco de desastres), crédito (tomada de riscos prudente), economia (reservas de risco) e redes de segurança produtivas”, explicou Allan Mulando, do PMA.

O R4 surge de uma aliança entre o PMA e a organização humanitária Oxfam Estados Unidos a fim de “melhorar a capacidade das famílias com insegurança alimentar para gerir os riscos de fenômenos climáticos severos”, explicou à IPS Mulando, diretor da Unidade de Avaliação e Mapeamento de Vulnerabilidades do PMA em Zâmbia.

Em colaboração com a Unidade Nacional de Gestão e Mitigação de Desastres, vários ministérios, o Departamento de Meteorologia, companhias de seguros nacionais e instituições de crédito e poupança, o projeto procura integrar as atividades com programas públicos sobre a resiliência que já estão vigentes.

Um deles, o programa Ampliação da Agricultura de Conservação (Casu), obra conjunta da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Ministério de Agricultura e Pecuária, com apoio financeiro da União Europeia, tem por objetivo reduzir a fome e melhorar a segurança alimentar, a nutrição e a renda, além de fomentar o uso sustentável dos recursos naturais.

A finalidade do “R4 é gerar um contexto para que o setor privado participe mediante o desenvolvimento do mercado para garantir a sustentabilidade, por meio de cobertura de seguro, provisão de crédito, programas de criação de ativos e redes de segurança, a economia das famílias e formas alternativas de redução da vulnerabilidade”, explicou Mulando.

O Ministério de Agricultura e Pecuária “incentiva tecnologias resistentes ao clima no contexto do Casu e a diversidade de cultivos, para os quais a inclusão financeira é um ingrediente crucial”, disse o funcionário Paul Nyambe.

Para o Ministério de Terras, Recursos Naturais e Proteção do Meio Ambiente, esse tipo de iniciativa é bem-vinda porque corresponde com o objetivo do governo de capacitar as comunidades locais para se adaptarem à mudança climática. “Nesse momento, o governo está no processo de mobilizar recursos para apoiar as comunidades afetadas por uma grave seca que causou a perda de colheitas”, explicou Richard Lungu, diretor de Gestão de Meio Ambiente do Ministério.

Segundo Lungu. o ponto focal de Zâmbia para a Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, é “a mudança climática, uma questão transversal de desenvolvimento, especialmente para Zâmbia, cuja economia depende dos recursos naturais”, e onde mais de 80% da população vive da agricultura.

Os fenômenos climáticos podem deixar os agricultores na pobreza, e esse risco também limita seus interesses por investir em medidas que poderiam aumentar sua produtividade e melhorar sua situação econômica. Por isso, a educação financeira é essencial. “Existe uma forte necessidade de educação financeira. Quando os agricultores de pequena escala tiverem cultura financeira, poderão guiar outros a adotar um produto financeiro em particular, como seguro ou crédito, e evitar tomar decisões erradas”, ressaltou Mulando à IPS.

O especialista financeiro George Siameja concorda com essa opinião, mas ressalta que o problema se encontra em dois níveis: na falta de educação financeira e em um contexto financeiro que inibe o crédito. “Mas a educação financeira deve ser o ponto de partida, porque os bancos consideram que é muito arriscado emprestar dinheiro a quem tem capacidade financeira insuficiente. Como a agricultura é uma função do clima, a educação financeira é fundamental.

Um agricultor que já se beneficiou com a educação financeira é Rodney Mudenda, 34 anos, da aldeia de Nabuzoka. “Desde que me formei em gestão financeira, no ano passado, minha estratégia agrícola mudou”, afirmou. “Agora estou disposto a assumir riscos calculados, como fiz nessa safra para reduzir o milho e plantar girassol, um cultivo tolerante à seca. E a aposta deu resultado. Espero ganhar US$ 1.500 a partir de um investimento de US$ 650”, disse à IPS. Envolverde/IPS