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El Niño causa a pior seca do Zimbábue

Um homem não identificado ajuda uma vaca afetada pela seca a se levantar,em Chipinge, um distrito do Zimbábue. Foto: Jeffrey Moyo/IPS
Um homem não identificado ajuda uma vaca afetada pela seca a se levantar,em Chipinge, um distrito do Zimbábue. Foto: Jeffrey Moyo/IPS

Por Jeffrey Moyo, da IPS – 

Buhera, Zimbábue, 5/5/2016 – Esquálido e com as costelas à vista, o gado de Evans Sinyoro está jogado sobre uma extensão de terra árida, junto a um pequeno açude próximo que está sem água devido à pior seca já sofrida pelo Zimbábue há décadas.A seca é produto do El Niño, o fenômeno climático complexo que é causado por variações nas temperaturas oceânicas no Pacífico equatorial.

Sinyoro é oriundo de Buhera, um distrito na província oriental de Manicaland que não se livrou da seca, que tem efeito devastador no gado desta nação da África austral. “Tinha 27 vacas, 24 delas já morreram por falta de água e pastagens”, contou à IPS. OEl Niño tampouco perdoou os milhões de pessoas deste país de 14 milhões de habitantes que caíram vítimas da fome após lagoas e poços secarem.

Muita gente, como é o caso de Sinyoro, tem de caminhar longas distâncias para encontrar água para fins domésticos, além de dar de beber aos seus rebanhos, em franca diminuição.“Embora haja necessidade de nos esforçarmos para conseguir água para o gado, também nos sacrificamos ao caminharmos mais de nove quilômetros para encontrar água para fins domésticos”, explicou.

As mulheres do campo são as mais prejudicadas pela seca provocada pelo El Niño. “Temos que acordar cedo todos os dias para caminhar até encontrar água, e levamos nossos filhos para que possam se banhar antes de irem à escola”, contou Madeline Chishamba, de 47 anos e mãe de quatro filhos.“Diariamente, só aqui em Buhera temos, em média, de 20 a 30 vacas que morrem por falta de pasto e água potável, uma situação que pode arrasar com o rebanho bovino do país”, disse Neverson Mutero, um funcionário agrícola.

Por intermédio do Fundo Central para a Ação em Casos de Emergências, das Nações Unidas, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) informou que fez intervenções para resgatar o rebanho bovino do Zimbábue.“Os projetos da FAO em resposta à seca financiados até agora se dirigem ao setor pecuário, ajudando as famílias vulneráveis a protegerem seus ativos nos pastos – e, portanto, a segurança alimentar – durante a seca”, afirmou Leonard Makombe, funcionário responsável pela comunicação da organização.

A Divisão de Desenvolvimento e Produção Pecuária do Zimbábue informa que os animais morreram, em sua maioria, nas províncias de Masvingo, Matabeleland Norte Manicaland, Midlands e Matabeleland Sul.Além de perder colheitas, Masvingo lidera a lista com 6.566 bovinos mortos devido à seca, segundo o Ministério da Agricultura. No total, o país perdeu aproximadamente 16 mil vacas. Em 2015, o departamento de pecuária do Ministério da Agricultura estimou que o Zimbábue tinha 5,3 milhões de vacas, em comparação com os mais de seis milhões de 2014.

Segundo o Ministério, o país sofre sua pior seca desde 1992, ano em que morreram mais de um milhão de animais.Nos distritos rurais de Chipinge e Buhera, em Manicaland, os preços do gado caíram drasticamente, até US$ 50 por cabeça, a maior redução da história do Zimbábue, já que normalmente se paga para cada boi entre US$ 400 e US$ 500. Muitos dependem do gado para gerar renda e como força de tração.

Agora, diante do desespero para sobreviver e assolados pela fome, os zimbabuenses como Chishamba recorrem à troca comercial, de gado magro por farinha de milho. “Não podemos ser meros espectadores da morte de nosso próprio gado. Preferimos trocar os animais fracos por farinha de milho, já que obtemos 50 quilos por animal”, explicou.

Graças à FAO, alguns criadores foram resgatados da crise. “Como resposta à seca, a FAO realiza dois projetos de irrigação de pequena escala, de comercialização do setor pecuário, melhora da nutrição, dos meios de vida e da segurança alimentar”, pontuou Makombe. Pelo menos quatro milhões de zimbabuensesprecisam de ajuda alimentar, segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA).Uma seca agravada pelo El Niño também afetou Malawi, África do Sul e Zâmbia.

Segundo o PMA, 14 milhões de pessoas no sul da África correm risco de passar fome devido à situação. A África do Sul registrou este ano a pior seca de sua história e, pela primeira vez depois de várias décadas, se prepara para importar a metade de sua colheita média de milho.

No começo de fevereiro deste ano, o vice-presidente do Zimbábue, Emerson Mnangagwa, declarou aos meios de comunicação que faltariam US$ 1,5 bilhão para a importação de alimentos de emergência e para financiar outros programas de socorro. Segundo o Ministério da Agricultura, o país deverá importar 1,4 milhão de toneladas de milho até a próxima colheita, prevista para março de 2017.

Não podendo conter a seca, no dia 4 de fevereiro deste ano, o presidente Robert Mugabe declarou a safra agrícola 2015-2016 em situação de desastre nacional. Porém, muitos agricultores sentem que pouco foi feito para salvar seu gado. “Estamos começando a receber ajuda alimentar dos doadores e do governo, mas nosso gado está morrendo por falta de pastos e de água”, enfatizou Sinyoro.

Embora muitos como Sinyoro ainda não recebam ajuda para seu gado, a FAO já interveio com alimentos suplementares no valor de US$ 1 milhão neste país do sul da África. Envolverde/IPS