Por Ashfaq Yusufzai, da IPS –
Peshawar, Paquistão, 3/3/2016 – “Estamos extremamente contentes com a reconstrução de nossa escola, destruída pelo Talibã em 2013, o que nos obrigou a ficarmos sentados sem teto”, disse, alegre, MujahidaBibi, que cursa o oitavo grau em uma escola pública para meninas em uma dasáreas tribais do Paquistão. A escola fica no Waziristão do Norte, um dos sete distritos das Áreas Tribais sob Administração Federal (Fata), que foi sede da organização Tehreek Talibã Pakistán.
Com as operações militares que começaram em junho de 2014 nesta área para expulsar os talibãs, a região rapidamente volta à normalidade.Como Bibi, Abdul Qadim, de 16 anos, desfruta de sua nova escola no vizinho Waziristão do Sul, onde cursa o nono grau. “O Talibã destruiu nossa escola em 2012. Os alunos ricos mudaram para áreas mais seguras para continuarem os estudos, enquanto nós, os mais pobres, ficamos em edifícios sem teto durante três anos”, contou à IPS.
O território montanhoso das Fata, na fronteira com o Afeganistão, esteve repleto de combatentes desde 2001, quando o Talibã foi expulso de Cabul pelas forças encabeçadas pelos Estados Unidos, e os insurgentes buscaram refúgio na vasta área tribal do Paquistão.A partir de 2005, o Talibã começou a atentar contra prédios estatais, escolas, hospitais e outros edifícios, e não apenas nasFata, mas também na vizinha província de JiberPajtunjwa, uma das quatro que o Paquistão possui, com a finalidade de prejudicar a educação, especialmente das meninas, por considerá-la contrária ao Islã.
Depois do triunfo do exército paquistanês, começa a reconstrução dos centros de ensino. O Talibã destruiu ou danificou pelo menos 760 escolas, 500 delas nasFata, e 250 em JiberPajtunjwa. Na primeira, já foram reconstruídos 17% desses prédios, a maioria graças à ajuda de agências doadoras. “Deslocamos dez mil efetivos para proteger as escolas de futuros atentados”, declarou à IPS JavidShah, um funcionário da área da educação.
Antes da intervenção militar, “muitas vezes, depois que as autoridades reconstruíam uma escola, os insurgentes a destruíam novamente”,afirmou Shah. Além de implantar medidas de segurança, conseguimos que a população local participe da proteção dos centros de ensino,acrescentou.Os comitês, integrados por idosos e funcionários locais, assumiram a responsabilidade pela segurança, e“distribuíram guardiões para proteger as escolas à noite ,quando o Talibã cometia os atentados”, destacou.
O governo de JiberPajtunjwa completou a reconstrução de 200 escolas, disse o ministro da Educação, Atif Jan à IPS. “Destinamos US$ 60 mil e agora só restam 50 centros de ensino danificados pelo Talibã para serem reconstruídos”, acrescentou.Também foram divulgados procedimentos operacionais padrões entre as autoridades correspondentes, para elaborar um plano de segurança para as instituições de ensino em suas respectivas áreas.
“No contexto da Lei de Lugares e Estabelecimentos Vulneráveis e Sensíveis, também pedimos ao setor privado que melhorasse a segurança das escolas patrocinando câmeras CCTV (de televigilância), guardas de segurança e aumentando a altura dos muros perimetrais até cerca de três metros”, detalhou Jan.MusarratNasim de 13 anos, é outra das felizes estudantes que ganharam escola nova em JiberPajtunjwa. “Nossa escola foi destruída em 2002 e passamos muitas dificuldades. Muitas vezes tivemos aula debaixo das árvores, no verão, e ao sol, no inverno, devido à falta de condições”, disse Nasim, que cursa o oitavo grau.
Nas FATA,há 5.572 escolas com 574.512 estudantes. “O número de alunos aumentou depois da reconstrução. Agora também vêm se matricular alguns de zonas de difícil acesso”, indicou à IPS o professor Samir Ahmed, que leciona no distrito de Mohamand, onde o Talibã destruiu 127 escolas, das quais 99 já foram reconstruídas.Segundo o professor, aproximadamente 10% dos alunos abandonaram os estudos por falta de locais e de segurança, mas agora decolaram as matrículas. “Os pais se engalfinham para matricular os filhos”, ressaltou Ahmed.
Também são oferecidos livros e uniformes gratuitamente para incentivar as pessoas a mandar seus filhos e filhas para a escola.Abdul Wakil, mecânico do distrito Bajaur, também nasFata, contou à IPS que seus três filhos frequentavam uma escola pública que foi destruída há três anos. “Desde que a reconstruíram, há três meses, estão contentes”, enfatizou.
O Talibã queria acabar com as escolas e mandar nossos filhos para a época das cavernas, mas estamos decididos a desbaratar sua conspiração e dar uma educação melhor à nossa geração, afirmouo mecânico, destacando que “podemos derrotar o Talibã com a educação”.De fato, a campanha contra a educação levada adiante pelos talibãs despertou o interesse de meninos e meninas. O Talibã causou tanta dor entre as pessoas mais esquecidas, que seus propósitos ficaram descobertos. Os pais estão ansiosos por ver seus filhos e filhas educados, enfatizouWakil. Envolverde/IPS