Internacional

Espirulina cubana busca seu lugar ao sol

Área de secagem da planta para produção do suplemento alimentício espirulina, na localidade de Jaruco, município de San José de las Lajas, em Cuba. Foto: Jorge Luis Baños/IPS
Área de secagem da planta para produção do suplemento alimentício espirulina, na localidade de Jaruco, município de San José de las Lajas, em Cuba. Foto: Jorge Luis Baños/IPS

Por Patricia Grogg, da IPS – 

San José de las Lajas, Cuba, 1/9/2015 – Cuba avança na produção e comercialização da espirulina, produto natural com numerosas substâncias benéficas para o ser humano, entre elas todos os aminoácidos conhecidos e uma variedade de minerais e vitaminas, que a tornam muito recomendável como suplemento dietético. Uma empresa estatal cubana fabricava, até o final da década de 1980, nutrientes alimentícios, loções e cremes faciais com base na espirulina (Cianophyceae fotossintética pluricelular), em associação com uma firma de capital estrangeiro.

Mas a crise econômica dos anos 1990 paralisou seu trabalho até ser passada ao estatal Grupo empresarial Labiofam, que desenvolve e elabora medicamentos e outros produtos de origem natural e que, para seu resgate, recebe assistência da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

“Quando completei 60 anos, meu médico me receitou seis comprimidos diários de espirulina. Tomava só uma por dia e me sentia bem, tanto que nem ficava gripada”, contou à IPS Neida González, de 68 anos, moradora de Havana. Atualmente é vendida nas farmácias cubanas, sem necessidade de receita, a 60 pesos o frasco de 80 tabletes, um preço alto para o salário médio em Cuba de 471 pesos (cerca de US$ 20).

A substância natural foi considerada por séculos e, até descobertas científicas recentes, uma microalga verde-azulada, mas agora se passou a incluí-la entre as bactérias e no gênero da arthrospira mais do que da espirulina, embora conserve este nome tradicional. Segundo diversos estudos, a espirulina estimula o sistema imunológico, alivia os sintomas da rinite alérgica, regula a pressão arterial, reduz o colesterol e pode ajudar a diminuir o risco de embolia cerebral, entre outras propriedades.

Em Cuba, entre os primeiros beneficiados com a produção deste milenar microrganismo figuram os atletas de alto rendimento, pois está demonstrado que seu consumo aumenta a energia e a força física, graças ao seu efeito antioxidante. Os astecas já a recolhiam do lago salubre de Texcoco, no centro do México, e elaboravam tortas que alimentavam os mensageiros reais em seus percursos sem descanso durante longas jornadas.

Cientistas que visitaram o lago de Chade, na região central da África, observaram que os kanembu, residentes nessa área e também conhecidos como kanuri, estavam particularmente desenvolvidos e não adoeciam, apesar do meio adverso em que viviam. O segredo também residia aparentemente nessas tortas verdes, que lhes forneciam vitaminas, minerais, aminoácidos e proteínas em grande quantidade.

Evidio Armas, diretor técnico da Genix-Labiofam, a empresa de produção e comercialização de produtos naturais que elabora a espirulina, explicou à IPS que atualmente há duas espécies de espirulina autorizadas para consumo como complemento alimentar pela Organização Mundial da Saúde. Uma é a Arthrospira maxima, oriunda do México e de outras partes da América Latina, e outra a Arthrospira platensis, do lago de Chade. “Esta última é a que temos em Cuba”, afirmou.

Três mulheres trabalham envasando e rotulando pílulas de espirulina, na unidade de produção de espirulina, da empresa estatal Genix-Labiofam, na localidade de Zaragoza, em Cuba. Foto: Jorge Luis Baños/IPS
Três mulheres trabalham envasando e rotulando pílulas de espirulina, na unidade de produção de espirulina, da empresa estatal Genix-Labiofam, na localidade de Zaragoza, em Cuba. Foto: Jorge Luis Baños/IPS

A empresa tem duas unidades, uma para cultivo, em Jaruco, e a outra em Zaragoza, localidades do município de San José de las Lajas, a cerca de 25 quilômetros de Havana. O processo inclui a propagação e o crescimento de cepas, sua produção em tanques de cinco mil metros quadrados, filtração atmosférica e a vácuo, pasteurização e secagem. A unidade de Zaragoza recebe a matéria-prima em pó para elaborar, envasar e distribuir o produto em tabletes.

A companhia conseguiu um acordo com a Itália, pelo qual este ano exportará para o país europeu 1,5 tonelada de espirulina em pó, e ali os tabletes serão fabricados, envasados e rotulados para a venda. “Esse acordo acontece com base no comércio justo do qual somos parte”, explicou Armas, se referindo à forma alternativa de comércio promovida por organizações não governamentais, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e por movimentos sociais e políticos para estimular uma relação comercial voluntária e equitativa entre produtores e consumidores.

Armas e o diretor da unidade de Zaragoza, Nelson López, coincidem em ver com otimismo o futuro da Genix-Labiofam, com autonomia para decidir sobre sua produção e seu comércio e importar as matéria-primas diretamente. O salário de todo o pessoal, mais de cem empregados entre as duas fábricas, entre os quais 43 mulheres, mais do que duplicaram devido ao aumento da produção e melhoria na qualidade. Os salários mensais giram em torno dos mil pesos (US$ mais de 40).

“Desde janeiro, o pagamento é feito com base em resultados. Isto é, estão vinculados ao plano de produção e às vendas. E vai muito bem”, afirmou à IPS a especialista em recursos humanos da unidade de Jaruco, Mery Fundora. Essa política salarial é semelhante nas duas unidades. Para esse crescimento da empresa foi decisivo o projeto de colaboração com a FAO, denominado Otimização da Cadeia Agro-Industrial da Espirulina Para Consumo Humano, aprovado em outubro de 2007 e concluído em março de 2011. Como resultado, explicou Armas, a produção de 2014 foi de 12 toneladas de matéria-prima.

“O apoio da FAO reanimou as fábricas. Permitiu a compra de equipamentos de alta tecnologia, necessários para obter uma produção de alta qualidade, e a capacitação de pessoal”, entre outros benefícios, apontou o diretor da empresa, que conversou com a IPS durante uma visita para conhecer todo o processo de cultivo, produção e elaboração dos tabletes de espirulina já prontas para sua comercialização.

Por sua vez, López destacou que a empresa se insere nos planos de desenvolvimento local, especialmente pela geração de emprego. “Utilizamos pessoal residente em Zaragoza, localidade que dá nome à nossa unidade. Agora buscamos incorporar mais jovens e já temos uma bolsa de emprego de aproximadamente cem pessoas que podem ocupar as vagas que forem geradas”, acrescentou.

“Vamos no caminho certo”, enfatizou Armas. “O futuro é promissor e estamos buscando novos mercados. A espirulina é um suplemento nutricional de muito valor, superior à soja, ao milho e inclusive à carne de vaca”, ressaltou. Armas acrescentou, sem grandes detalhes, que, “com o equipamento adquirido com um crédito chinês, logo estenderemos nossas ofertas à área cosmética, também com muita demanda”. Envolverde/IPS