Por Ivet González, da IPS –
Cárdenas, Cuba, 27/10/2015 – A indústria petroleira de Cuba explora apenas 5% do petróleo em seus poços de terra firme e águas superficiais, por falta de capital estrangeiro e tecnologia para empreender desenvolvimentos como o do campo de Varadero 1000, o maior realizado até agora.
“Retiramos o que a rocha entrega livremente (petróleo e gás associado), que equivale a 5% do potencial’, disse à imprensa internacional María Yodalis Hernández, chefe de negócios da estatal Empresa de Perfuração e Extração de Petróleo do Centro (Epepc), em Cárdenas, 150 quilômetros a leste de Havana.
A nova abertura com os Estados Unidos “nos dá a possibilidade de demonstrar que Cuba tem oportunidades no campo do petróleo”, afirmou Hernández a respeito do degelo entre Havana e Washington, que já se cristalizou no restabelecimento de relações diplomáticas e na abertura de embaixadas.
Segundo Hernández, “os principais recursos e a tecnologia de ponta da indústria petroleira surgem em Houston, nos Estados Unidos”. Como outros funcionários do ramo, reiterou que Cuba está aberta “a todo tipo de negócios” com empresas norte-americanas, algo impossível ainda devido ao embargo imposto a este país desde 1962.
Com o mesmo nome do balneário internacional vizinho a Cárdenas, o campo Varadero tem atualmente 90 poços em exploração. Desde sua descoberta, em 1971, até 2014, “produziu 185 milhões de barris”, afirmou Hernández durante uma visita às instalações.
Segundo esta especialista, “95% dos hidrocarbonos estão sem extrair porque nossa empresa ainda não conseguiu colocar em prática nenhum método secundário de exploração. É necessário um investimento bastante forte em uma zona geográfica muito delicada do ponto de vista ambiental”.
Hernández se referia aos perigos de aumentar a atividade petroleira e afetar os 22 quilômetros de praias paradisíacas do maior polo turístico de Cuba, que contribuiu para a arrecadação de 38% dos US$ 2,7 bilhões obtidos por este país em 2014 com a indústria do lazer.
Esses e outros conflitos marcam o setor da energia, em cujos ombros pesa a meta de se modernizar e ser sustentável com maior participação das fontes renováveis, para atender aos planos de reativação econômica impulsionados desde 2008 pelo governo de Raúl Castro.
A única experiência de extração secundária em Cuba se desenvolve desde dezembro de 2014 em Boca de Jaruco, 40 quilômetros a leste de Havana, um campo selecionado por ser um dos mais antigos e em atividade desde a década de 1960. Nele, especialistas da China, Rússia e Cuba aplicam às condições locais a técnica internacional de estimulação térmica, que consiste em lançar vapor de água nas camadas de rocha para que diminua a viscosidade do óleo e este possa ser extraído com facilidade, ou brote como resultado da pressão natural.
“É preciso pesquisar o método adequado para nosso petróleo, além de manter um investimento forte durante anos”, especificou Hernández, no Centro Coletor 10, uma unidade que extrai 1.500 barris por dia e separa em um processo hermético o gás associado em poços do campo Varadero.
A Epepc “é composta por mais oito centros coletores como este”, onde trabalham principalmente pessoas da localidade, disse à IPS o engenheiro Miguel Sotolongo, chefe do escritório de extração da empresa, que obtém diariamente 27 mil barris de petróleo e 900 metros cúbicos de gás natural.
Mediante um processo hermético e certificado pelas autoridades ambientais, as unidades de extração aproveitam hoje esse volume de gás natural, que até há poucos anos era queimado. Além da perda do combustível, essa prática prejudicava a saúde humana e inundava com um desagradável cheiro a rota obrigatória para entrar no balneário.
Com 41 empresas, das quais cinco têm capital estrangeiro, o grupo estatal União Cuba Petróleo (Cupet) produz diariamente cerca de 68.500 barris de petróleo equivalente, 52 mil barris de petróleo e três milhões de metros cúbicos de gás natural. Além disso, o país importa 90 mil barris diários da Venezuela, sob um convênio preferencial de pagamento.
Com a indústria petroleira venezuelana, sócia estratégica e aliada política de Cuba, uma empresa mista opera a refinaria de Cienfuengos, 232 quilômetros a sudeste de Havana, que processa 65 mil barris por dia de petróleo venezuelano para consumo interno e exportação para outros países do Caribe. Este número poderia estar incluído nos 135 mil barris diários que a Cupet assegura refinar, embora não haja confirmação oficial a respeito.
O petróleo cubano é de difícil e cara exploração e processamento por sua característica de extrapesado, já que oscila entre oito e 12 graus API, contra os 34 graus do tipo leve dos produtores do Golfo.
O gás e o petróleo atendem 40% da demanda energética deste país de 11,2 milhões de habitantes, incluída a geração de eletricidade. A produção atual foi conseguida graças a um processo sustentado de investimentos conjuntos com companhias estrangeiras, iniciado em 1991, onde se destaca a participação do Canadá, além de Austrália, China, Rússia e Venezuela.
Os hidrocarbonos concentram o maior número de oportunidades dentro da carteira de negócios apresentada a investidores estrangeiros no ano passado.
Em matéria de consumo, Cuba prioriza o uso de fontes renováveis, com o objetivo de constituírem, em 2030, 24% da matriz energética, das quais 14% viria da biomassa da cana-de-açúcar, 6% da eólica, 3% da solar e 1% da hidráulica. Atualmente, representam apenas 4,6% da matriz energética interna.
Mas em Matanzas, província de 650 mil habitantes onde ficam Cárdenas e Varadero, o desenvolvimento energético se concentra nos hidrocarbonos. “Pode-se fazer mais, inclusive estão previstos investimentos em estudos de exploração, em terra e com vistas ao mar”, informou à IPS a vice-presidente econômica do governo provincial, Lourdes Sarmientos, engenheira química.
Em matéria de consumo, além dos combustíveis fósseis, “a fonte mais usada é a dos aquecedores solares de água no setor estatal e no polo turístico”, informou Sarmientos, afirmando que “na agricultura exploramos a biomassa da cana, estendemos os biodigestores e moinhos para irrigação e bombeamento de água”.
Águas profundas
O presidente da Cupet, Osvaldo López, anunciou no dia 21 deste mês que o país iniciará uma campanha de perfuração em águas profundas do Golfo do México, no final de 2016 ou início de 2017, com participação da Petróleos da Venezuela (PDVSA) e da angolana Sonangol.
A perfuração exploratória será a sete mil metros de profundidade e até três mil metros além da costa, na área onde Cuba prevê que existam reservas de 20 bilhões de barris, embora pesquisadores norte-americanos reduzam a estimativa para cinco bilhões. Em 2012, três poços exploratórios em águas profunda resultaram secos. Envolverde/IPS