Por Benjamín Labatut, da IPS –
Santiago, Chile, 5/9/2016 – O governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) solicitaram à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) que acompanhe a implantação do primeiro ponto do acordo de paz, que está centrado na luta contra a fome, no desenvolvimento do campo e em uma reforma rural integral.O acordo de paz é fruto de uma negociação de quatro anos e põe fim a cinco décadas de conflito armado.
O primeiro ponto do acordo –Por um Novo Campo Colombiano: Reforma Rural Integral – busca gerar uma transformação nas zonas rurais da Colômbia, duramente golpeadas pelo conflito armado.Esse primeiro ponto inclui um plano de desenvolvimento rural multifacetário, que ataca as raízes da pobreza e da fome rural, por meio da criação de um fundo de terras para distribuir entre camponeses sem terra e planos de grande escala para fornecer bens e serviços públicos em infraestrutura, estradas, desenvolvimento social, educação, saúde e moradia.
Também impulsiona programas de desenvolvimento com enfoque territorial, além de medidas para estimular a produtividade agropecuária ao longo do país, acordadas com as comunidades nas regiões mais afetadas pelo conflito e pela pobreza. Além disso, cria um sistema especial de alimentação e nutrição, para erradicar a fome e a má nutrição.“Esse enfoque multifacetário no mais alto nível, com apoio político de todos os setores do país, é o que énecessário para erradicar a fome e a pobreza e dar sustentabilidade ao processo de paz”, afirmou o brasileiro José Graciano da Silva, diretor-geral da FAO.
Como grande parte do conflito na Colômbia teve suas raízes no campo, a FAO considera a decisão das partes, de começar o acordo de paz com medidas que fortaleçam as áreas rurais, como um aspecto fundamental para garantir a paz no longo prazo.Graziano felicitou a decisão das partes de colocar o campo, a agricultura, o ambiente, a associativismo e a segurança alimentar como pedra angular dos acordos de paz. “Ali, onde brotou a guerra, a Colômbia plantará as sementes da paz”, ressaltou.
No contexto do acordo final para o fim do conflito e a construção de uma paz duradoura e estável, assinado entre o governo colombiano e as Farc, as partes solicitaram à FAO, à União Europeia e à organização internacional Via Camponesa que acompanhem a implantação do ponto 1 do acordo de paz.As três entidades apresentarão um plano de trabalho conjunto nos próximos meses.
Para esse plano, a FAO propõe incluir ações para fomentar a produção rápida de alimentos, como uma maneira de responder urgentemente aos que sofrem fome e pobreza, além de ações para o necessário fortalecimento das instituições dedicadas ao campo e à segurança alimentar, apoiando o emprego digno e a melhora da qualidade de vida no campo.
Milhõesde pessoas foram deslocadas por causa do conflito armado e muitos camponeses perderam suas terras, por isso é fundamental apoiar os agricultores familiares, para que tenham acesso a mercados, investimentos e infraestrutura, além de sistemas de informação de mercado e mecanismos de integração aos circuitos econômicos agroalimentares.
O fim bilateral da violência, implementado pelas partes a partir do dia 29 de agosto, permitirá que as populações rurais afetadas diretamente pelo conflito vivam uma melhora substancial em sua segurança alimentar. “Um entorno de segurança é essencial para que sejam reiniciadas as atividades agrícolas, para melhorar o funcionamento dos mercados e as pessoas terem melhor acesso a assistência social”, pontuou Graziano.
Nos próximos anos a Colômbia poderá otimizar sua agricultura e aproveitar os 22 milhões de hectares com potencial agrícola, dos quais atualmente são aproveitados apenas sete milhões.“Acabar com a fome e a má nutrição e alcançar a paz e o desenvolvimento rural não são tarefas separadas mas aspectos diferentes de um mesmo desafio”, enfatizou o diretor-geral da FAO.
O êxito da implantação do ponto 1 vai assegurar a recuperação do campo colombiano e das condições para uma paz estável e duradoura, apontouGraziano.“São muitos os desafios, mas é grande a vontade. Agora é essencial pôr em prática rapidamente políticas públicas que gerem proteção, inclusão e coesão social”, ressaltou. Envolverde/IPS
*Este artigo foi publicado originalmente pelo Escritório Regional da FAO para a América Latina e o Caribe, com sede em Santiago, capital do Chile. A IPS o distribui por um acordo especial com esse escritório da FAO.