Dois camponeses e um de seus terrenos na comunidade de Alto Huancané, nas zonas altas da província de Espinar, departamento de Cusco, nos Andes peruanos. Os pequenos agricultores familiares como eles proporcionam alimentação para cerca de 80% dos habitantes da América Latina e do Caribe. Foto: Milagros Salazar/IPS
Dois camponeses e um de seus terrenos na comunidade de Alto Huancané, nas zonas altas da província de Espinar, departamento de Cusco, nos Andes peruanos. Os pequenos agricultores familiares como eles proporcionam alimentação para cerca de 80% dos habitantes da América Latina e do Caribe. Foto: Milagros Salazar/IPS

Por Milagros Salazar, da IPS – 

Lima, Peru, 9/11/2015 – Com o desafio de promover novas normas que garantam a segurança alimentar em seus países, legisladores da América Latina e do Caribe, junto com convidados da África e Ásia, realizarão o VI Fórum das Frentes Parlamentares Contra a Fome, entre os dias 15 e 17 deste mês, em Lima.

O fórum será um espaço para “a troca de experiências”, disse Aitor Las Romero, responsável pela organização do encontro pelo escritório no Peru da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que dá apoio à Frente Parlamentar Contra a Fome, criada na região em 2009.

A lista de presentes à reunião continua aberta, inclusive “estão participando outros países da América Latina que ainda não constituíram sua Frente Parlamentar, mas querem começar a trabalhar para tê-lo”, disse à IPS o especialista da FAO. Os temas de fundo do encontro serão segurança alimentar, alimentação saudável e outras propostas para combater a fome, explicou à IPS o congressista peruano Modesto Julca, que foi o primeiro coordenador da Frente Parlamentar Contra a Fome Capítulo Peru.

A FAO calcula que 34,3 milhões de pessoas são afetadas pela fome na região, segundo seu último informe Panorama da Insegurança Alimentar na América Latina e no Caribe, divulgado em maio pelo seu escritório regional em Santiago, no Chile. Para os especialistas, como o antropólogo peruano Jorge Arboccó, “a pobreza e a fome têm um grande vínculo com o uso da terra, com quem a administra e com o papel dos Estados nessa relação”.

Na América Latina, 81% dos produtores que alimentam sua população são da pequena agricultura familiar. “São esses agricultores que geram mais trabalho em nossos países, empregando entre 57% e 77% da população economicamente ativa”, detalhou Arboccó, tomando por base dados da FAO.

Embora a meta para reduzir a fome no mundo transcenda as fronteiras, cada capítulo nacional da Frente Parlamentar avança ao seu ritmo, segundo as condições políticas de seus parlamentares. No caso peruano, a Frente é formada por 13 membros “e a participação de alguns é mais habitual do que a de outros legisladores, mas se trabalha para que seja mais completa em todas as formas políticas”, apontou à IPS Arboccó.

Na reunião haverá três eixos temáticos, segundo a agenda final divulgada no dia 6, dos quais o primeiro é o Plano para a Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome na Comunidade de Estados Latino-Americanas e Caribenhos (Celac) para 2025. Em seguida, estão “o diálogo parlamentar entre a Frente e parlamentares da Ásia Pacífico, África e outras regiões”, e “a construção de compromissos e políticas que fortaleçam a aplicação do direito à alimentação adequada e à soberania e segurança alimentar e nutricional”.

Esses eixos serão cruzados durante as deliberações dos legisladores em Lima por três temas considerados prioritários pela Frente: agricultura familiar e seu peso decisivo em garantir o direito à alimentação e à soberania alimentar, alimentação escolar como instrumento fundamental na luta contra a fome, e os novos desafios que a má nutrição por excesso apresenta.

Uma das últimas frentes que se formaram na região é a peruana. Com um ano de trabalho, conseguiu a aprovação, no Congresso do país, da lei sobre agricultura familiar, mas ainda continua sem conseguir que sejam aprovados outros dois projetos, de segurança alimentar e de alimentação escolar.

Apesar das dificuldades, “o fato de serem formadas frentes parlamentares em toda a América Latina, e hoje sermos sede desse encontro, é algo representativo, é um reconhecimento que temos como país diverso”, pontuou à IPS o coordenador da Frente no Peru, Jaime Delgado. Ele assegurou que “vem sendo impulsionado um eixo articulador vinculado à sociedade civil em temas como agricultura e controle de alimentos sob o tema da fome ou da desnutrição”.

No Peru, mais de 90% dos produtores são agricultores familiares e 75% dos alimentos colhidos provêm de cultivos feitos em terrenos inferiores a cinco hectares, recordou o antropólogo Arboccó, a partir de dados do censo agropecuário de 2012.

Embora os níveis de fome tenham diminuído de maneira importante no Peru segundo a FAO, ainda existiriam 2,3 milhões de pessoas sofrendo a prevalência desse flagelo. A pobreza afeta 33,8% da população nos Andes peruanos, 30,4% na região da selva e 14,3% na zona costeira, segundo números de 2014 do Instituto Nacional de Estatística e Informática.

“Como mulher indígena, agora participo no Congresso com muita insistência em temas como soberania alimentar, agricultura familiar, mudança climática, alimentação saudável”, ressaltou à IPS a congressista pelo departamento de Puno. “Portanto, é uma força que só agora está sendo levada em conta”, afirmou a legisladora que integra a frente parlamentar peruana.

Para Coari, o fórum de Lima é uma oportunidade para “aprender com outros países que já apresentam avanços” e fortalecer o caminho já percorrido pelo Peru. “Agora devemos nos consolidar para trabalharmos de maneira conjunta”, destacou. Envolverde/IPS

* Com a colaboração de Aramís Castro, de Lima.