Por Desmond Brown, da IPS –
Georgetown, Guiana, 22/6/2015 – Faltando menos de seis meses para a 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), os países do Caribe ainda discutem o melhor enfoque coletivo em negociações cruciais para seu futuro. “As expectativas da região são extremamente sombrias” no que se refere ao encontro, que acontecerá no mês de dezembro em Paris, afirmou o diretor de desenvolvimento sustentável da Comunidade do Caribe (Caricom), Garfield Barnwell.
“Um acordo ideal para o Caribe em 2015 seria um que, primeiramente e antes de tudo, atendesse à questão das emissões globais e se aproximassem o mais possível de um volume que estabilize o aumento da temperatura em 1,5 grau, apontou Barnwell à IPS. “Se os grandes emissores se comprometerem a respeitar suas obrigações, se a comunidade internacional reconhecer a importância da adaptação e oferecer os recursos adequados aos países em desenvolvimento para atender suas necessidades, será, de fato, um bom começo para seguir com os debates sobre como enfrentar a perigosa mudança climática”, destacou.
Segundo Barnwell, a região faz um balanço sobre o que vem ocorrendo em escala global com relação às emissões de gases-estufa e há “grande preocupação” pela resposta dos maiores contaminantes. Em especial, “sua falta de compromisso para cumprir as obrigações contraídas no passado em matéria de mudança climática. Espera-se que haja certos anúncios sobre como os grandes emissores projetam alcançar seus objetivos, embora a região tenha um nível de expectativa comedida para as conversações na capital francesa”, acrescentou.
Os países do Caribe fazem todo o possível para buscar recursos para implantar de forma consistente seus programas de adaptação em escala nacional. “A adaptação tem um grande significado para nós no Caribe, porque nossa região contribui com menos de 1% das emissões contaminantes globais”, afirmou Barnwell.
“Quando calculamos a proporção, era de aproximadamente 0,33%, por isso a mitigação não é um tema para o Caribe. Porém, o impacto do aumento das temperaturas e das precipitações significa graves perigos para nossa sobrevivência e para a segurança nacional”, acrescentou o diretor da Caricom. Isso porque “muitos de nós somos ilhas ou temos a maioria de nossa população e infraestrutura nacional e econômica na faixa costeira, por isso a elevação do aumento do nível do mar nos preocupa muito”, ressaltou.
A mudança climática apresenta grandes desafios para a região, cuja economia depende de seus recursos com o turismo, que, por sua vez, depende muito do mar, pois suas praias constituem uma grande atração turística. Alguns países são principalmente produtores agrícolas, setor que, como o turismo, sofre muito o impacto da variabilidade climática.
“A elevação do nível do mar é um desafio não só pelas praias, mas também porque os hotéis e aeroportos, em sua maioria, estão a cerca de três metros do mar em muitas de nossas ilhas”, afirmou Barnwel. “Os desastres naturais também foram e são um grande desafio e, uma vez mais, devido ao aumento do nível do mar e ao aquecimento dos oceanos, a possibilidade de o impacto dos desastres naturais ser maior apresenta problemas significativos em termos de frequência e consequências”, apontou.
Segundo Barnwell, “as economias nas quais a agricultura tem grande peso deve enfrentar a variabilidade da temperatura e o volume de chuvas para plantar e colher nossa produção. Todos são problemas significativos em relação a como vivemos e ao tipo de atividade que realizamos. A mudança climática representa problemas para nossa região ao afetar nosso sustento e nossa sobrevivência”.
Na última rodada de negociações, realizada este mês na cidade alemã de Bonn, os negociadores do Caribe pressionaram para manter o aquecimento global abaixo de 1,5 grau em relação à época industrial. Esse limite para a temperatura global, em lugar de dois graus, trará muitas vantagens, com evitar ou reduzir de forma significativa o impacto sobre a produção de alimentos e sobre sistemas únicos e ameaçados, como os arrecifes de coral.
Os negociadores caribenhos solicitaram que o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) garanta que o marcador utilizado em seu sexto informe de avaliação seja consistente com a limitação do aquecimento global em menos de 1,5 grau. O presidente da Caricom e primeiro-ministro de Bahamas, Perry Christie, afirmou que o Centro de Mudança Climática da Caricom estima que o custo para essa região por falta de ação representará cerca de US$ 10,7 bilhões ao ano até 2025, valor que poderia duplicar até 2050.
O Caribe pede urgência aos países que se comprometeram em capitalizar o Fundo Verde para o Clima no cumprimento rápido de suas contribuições e que as ampliem, a fim de chegar aos US$ 100 bilhões ao ano até 2020, acrescentou Christie.
“Outra ameaça importante tem a ver com o impacto estimado da mudança climática sobre a saúde pública, devido ao aumento da presença de vetores de doenças tropicais, como malária e dengue, e a prevalência de enfermidades respiratórias. As doenças afetarão o bem-estar e a produtividade da força de trabalho e comprometerão o crescimento econômico, a competitividade e o potencial de desenvolvimento da Caricom”, afirmou o primeiro-ministro.
Por outro lado, Roosevelt Skerritt, primeiro-ministro de Dominica, à frente da Organização de Estados do Caribe Oriental, pontuou que o poder de conseguir as mudanças desejadas em matéria climática está com os países que liberam mais gases contaminantes na atmosfera. “Para nós, a mudança climática e seus fenômenos associados são questões que afetam nossa sobrevivência e pode-se considerar um assunto de vida ou morte”, acrescentou.
“Como organização integrada e representante dos menores entre os menores, temos o dever e a responsabilidade solene de articular e defender a causa de nossos Estados membros, tanto os soberanos quanto os que não o são, e os que são parte da CMNUCC, como os que não são”, ressaltou Skerritt.
Essa posição se explica, porque a mudança climática não tem nenhuma relação com a situação política e impacta, com igual severidade, as ilhas, as zonas baixas e as regiões costeiras, independente de seu status político e de soberania, explicou Skerritt. Envolverde/IPS