Nova Délhi, Índia, 6/4/2015 – As últimas pesquisas na Índia mostram que apenas 125 milhões de mulheres em idade de trabalhar estão empregadas, embora desde 2004 seja cada vez menor o número das que estão nessa situação. Somente se este país, de 1,2 bilhão de habitantes, com 380 milhões de mulheres em idade de trabalhar, se concentrar em oferecer às mulheres as mesmas oportunidades profissionais que são dadas aos homens, conseguirá alcançar os objetivos de desenvolvimento e reduzir a pobreza.
Segundo um informe do Fundo Monetário Internacional (FMI), a participação feminina na força de trabalho está entre as mais baixas dos mercados emergentes e de outros países de características similares. A participação da mulher no mercado de trabalho (a proporção de mulheres em idade de trabalhar que têm ou procuram emprego) é de 33%, quase metade da média da Ásia Pacífico e muito abaixo da média mundial, que é de 50%.
Na Índia, instalou-se um debate sobre igualdade de gênero nas juntas diretoras das empresas, onde as mulheres apenas constituem 5% dos integrantes, a menor de todos os países do grupo de economias emergentes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Uma nova lei, aprovada em 2013, exigia que todas as empresas registradas na bolsa de valores tivessem pelo menos uma mulher em sua diretoria até agosto de 2014. Mas o prazo precisou ser ampliado até este mês porque apenas umas poucas companhias atenderam a lei.
A falta de mulheres no mercado de trabalho indiano é uma “enorme perda de oportunidades” para o crescimento econômico do país, lamentou a diretora-executiva do FMI, Christine Lagarde. A diversidade de gênero no âmbito trabalhista não se trata de uma correção política, mas de um imperativo econômico, afirmam economistas.
Um estudo do FMI divulgado em 2013 conclui que o crescimento da Índia sofreu o impacto da exclusão trabalhista feminina. “Supondo que a brecha de gênero se divida à metade até 2017 e diminua para um quarto do valor de 2008 até 2027, a renda por habitante da Índia poderia ser de 10% a 13% superior à linha de base se for mantida inalterada a desigualdade de gênero até 2020 e 2030, respectivamente”, aponta o estudo.
Uma explicação para a aparente “ausência” de trabalhadoras é a escassez de dados em nível nacional no setor informal. Como a maioria das mulheres realiza tarefas não remuneradas, como as tarefas domésticas, sua contribuição para a economia “não conta” quando são registrados os dados do mercado trabalho.
“O trabalho realizado por uma mulher em sua própria casa não é registrado como atividade econômica, e não é considerado para as estatísticas nacionais de renda”, explicou Preet Rustagi, diretora do Instituto para o Desenvolvimento Humano de Nova Délhi. “Sua situação é pior do que a dos serviços domésticos pagos, pois pelo menos são considerados como atividade econômica e contabilizados na renda do país”, acrescentou.
As mulheres assumem várias responsabilidades, como cozinhar, cuidar dos mais velhos e criar os filhos, todos trabalhos cruciais para a economia e a sociedade indianas, ressaltou Rustagi. E as mulheres também realizam tarefas vitais nos povoados rurais, como criar gado, o que está fora dos registros.
Há normas culturais que também sabotam a entrada das mulheres no mercado formal de trabalho. “A cultura patriarcal arraigada idealiza as mulheres, e as limita, aos papéis de esposa e mãe. As noções de superioridade sociorritual de um grupo ou família podem estar vinculadas diretamente a maiores restrições sobre as mulheres, incluída sua mobilidade física e um emprego fora de sua casa”, explicou Bhim Reddy, editora-adjunta do Diário de Desenvolvimento Humano, que investigou muito sobre as práticas de recrutamento de pessoal no mercado profissional.
Reddy também observou que a matrícula escolar desigual, especialmente de mulheres jovens entre 14 e 21 anos, também contribuiu para a assimetria na força de trabalho. “Uma proporção maior de mulheres nesse grupo etário, que costumava fazer parte da força de trabalho, agora está nas escolas secundárias e faculdades, e isso se reflete na redução do número de mulheres no mercado de trabalho”, acrescentou.
Embora o número de universitárias tenha multiplicado, isto não se traduziu em um aumento proporcional de profissionais no mercado profissional, segundo pesquisa da a empresa de investimentos Everstone Capital. Com 22%, a proporção de diplomadas que entra no mercado de trabalho é menor do que o das mulheres analfabetas que encontram emprego.
A participação das mulheres indianas na força de trabalho caiu de 33,7%, em 1991, para 27%, em 2013, segundo estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU). Entre 2011 e 2012, havia menos de 20% de mulheres entre os trabalhadores dos setores agrícolas. É surpreendente que a participação feminina seja particularmente baixa entre as profissionais das cidades, um setor que, se presume, tem menos barreiras sociais.
Segundo dados oficiais, entre 2009 e 2010 a proporção de mulheres dedicadas a tarefas domésticas não remuneradas subiu para 57% nas cidades entre as que tinham título de graduação ou mais, com relação a 31% registrados entre seus pares rurais com educação primária e média.
Os especialistas afirmam que a mecanização e a incorporação de novas tecnologias na agricultura e na construção levaram a uma “masculinização” do emprego para algumas tarefas nesses setores. Além disso, a exploração e o assédio no mercado profissional pioraram a situação. A Índia aprovou uma lei para combater o problema, pela qual as organizações com mais de dez empregados devem contar com um comitê de protestos para investigar as denúncias. Porém, segundo um estudo da Universidade de Jawaharlal Nehry, menos de 20% dos empregadores da capital cumprem a lei.
Além das campanhas de sensibilização, os ativistas pedem maior investimento em infraestrutura, segurança no transporte público, melhores centros para o cuidado infantil e reduções tributárias para atrair as mulheres para o mercado de trabalho. “Precisamos reconhecer que temos uma crise para depois trabalhar no empoderamento das mulheres e dessa forma ajudar a Índia a desenvolver todo seu potencial econômico”, destacou Rustagi. Envolverde/IPS