Por Thalif Deen, da IPS –
Nações Unidas, 30/11/2015 – A Organização das Nações Unidas (ONU) tem como objetivo erradicar, até 2030, a fome e a desnutrição, dois dos “maiores flagelos” que a humanidade enfrenta. Mas o independente Instituto Internacional de Pesquisa em Política Alimentar (IFPRI), com sede em Washington, lançou uma iniciativa para acabar com a fome no mundo até 2025, cinco anos antes da meta da ONU.
O IFPRI acredita que sua iniciativa, chamada Compact2025, terá sucesso se forem aplicadas as estratégias que funcionaram em Brasil, China e Tailândia, onde se avançou muito no combate à fome. “Podemos eliminar a fome e a desnutrição, e podemos fazer isso até 2025, o que também ajudará a erradicar a pobreza extrema e contribuirá para alcançar vários dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, aprovados em setembro deste ano, afirmou o instituto.
Mas, segundo o IFPRI, existem importantes lacunas de conhecimento nesse sentido, que antes devem ser preenchidas para conseguir medidas eficazes e rentáveis. A Compact2025 apoiará países, instituições e iniciativas mediante a identificação de estratégias inovadoras e pragmáticas, voltadas à ação, que abordarão os problemas no terreno, ao mesmo tempo em que aprenderá das partes interessadas em todos os níveis e de diversos fatores, como agricultura, nutrição e saúde.
A iniciativa também atuará como um Centro de Conhecimento e Inovação que ajudará os países como guia no desenvolvimento e na execução de ações estratégicas para a segurança alimentar e a nutrição. Shenggen Fan, diretor-geral do IFPRI, apontou à IPS que a erradicação da fome e da desnutrição no prazo de dez anos é uma tarefa enorme, mas possível de ser concretizada. Brasil, China, Peru, Tailândia e Vietnã reduziram drasticamente a fome e a desnutrição em um tempo relativamente curto, acrescentou.
No Sexto Fórum da Frente Parlamentar Contra a Fome na América Latina e no Caribe, realizado em Lima entre os dias 15 e 17 deste mês, a declaração final adotada por mais de 60 legisladores assegura que a região conseguiu a maior redução das taxas de subalimentação no mundo, ao reduzi-las em mais da metade, no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), vigentes nos últimos 15 anos.
Reunidos na capital peruana, os delegados dos capítulos nacionais da Frente Parlamentar Contra a Fome reafirmaram a determinação de impulsionar leis que permitam “romper o círculo de pobreza e realizar o direito à alimentação na região”.
Segundo Fan, com a aprendizagem das experiências dos cinco países da América Latina e Ásia, e com “o aproveitamento dos fortes compromissos internacionais e nacionais para acabar com a fome e a desnutrição, é possível acelerar ainda mais o progresso”. Apesar de não terem sido cumpridos todos os ODM, o mundo fez um progresso incrível na redução da pobreza extrema e da fome, ressaltou.
De fato, a meta de redução da fome pela metade não foi cumprida por pouco, já que a proporção de pessoas subnutridas nas regiões em desenvolvimento caiu de 23,3%, em 1990-1992, para 12,9% em 2015.
O IFPRI garante que a Compact2025 apoia plenamente o ODS 2, sobre “pôr fim à fome, conseguir a segurança alimentar e a melhora da nutrição e promover a agricultura sustentável”. Essa iniciativa também apoiará outros ODS, como o de número 1, sobre acabar com a pobreza em todas suas formas em todo o mundo, e o de número 3, que fala em garantir uma vida saudável e promover o bem-estar para todos em todas as idades.
A erradicação da fome e da desnutrição em 2025 se relaciona com muitos ODS, porque é um degrau para acabar com a pobreza extrema, segundo Fan. Entre os ODS também está incluída a erradicação da pobreza até 2030.
Por intermédio de seu Centro de Conhecimento e Inovação, a Compact2025 proporcionará, aos responsáveis políticos, conselhos baseados na evidência e no contexto para multiplicar as histórias de sucesso na erradicação da fome e da desnutrição. O IFPRI acrescentou que a iniciativa também vai gerar uma base de conhecimentos e promoverá inovações para ajudar os países a desenvolver, ampliar e comunicar as políticas para obter impactos maiores e mais rentáveis, e ao fazer isso ajudará a eliminar os programas ineficazes e prevenir a duplicação dos esforços.
Para aproveitar o impulso existente, a Compact2025 complementará redes estabelecidas, como a Scaling Up Nutrition, e iniciativas como o Desafio da Fome Zero. Também trabalhará com os que já se dedicam à consecução desse objetivo até 2025, como Bangladesh, Etiópia e Ruanda, no âmbito nacional, União Africana, no regional, e Comissão Europeia e Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola e Programa Mundial de Alimentos, no plano institucional.
Segundo Fan, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), pode-se erradicar a fome até 2025 com investimento de US$ 50 bilhões por ano. O Banco Mundial, entre outros, calcula que as metas para prevenir o atraso no crescimento infantil até 2025 seriam conseguidas com US$ 50 bilhões dedicados a aplicar em um conjunto de intervenções de micronutrientes nos próximos dez anos.
O estudo do IFPRI concluiu que com investimento de US$ 100 por ano por criança, equivalente a US$ 75 bilhões, pode-se ajudar a reduzir o atraso no crescimento infantil no prazo de quatro anos. Essas estimativas correspondem apenas a uma fração dos fundos necessários por ano para cumprir os ODS. Envolverde/IPS