Por Nteranya Sanginga*
Ibadã, Nigéria, 15/2/2016 – Impulsionar a generalização da prosperidade na África é uma necessidade fundamental para que o mundo cumpra o compromisso de erradicar a pobreza e a fome até 2030. Os números absolutos indicam a magnitude do desafio, e também revelam fortes indícios sobre o caminho a seguir.A população do continente duplicou nas três últimas décadas, e, embora avance em um ritmo vertiginoso, a urbanização não compensa o número de pessoas que vivem no meio rural.
A produtividade agrícola aumentou mais rapidamente do que a média mundial, mas não o suficiente para resolver o paradoxo da África, que registra a maioria das terras férteis sem cultivar do planeta e ao mesmo tempo importa alimentos.Esses são os fatos que ressaltam alguns princípios básicos. O potencial da África é enorme, mas o progresso precisa incluir os setores rural e agrícola.
Os pequenos produtores contribuem com cerca de 80% do fornecimento de alimentos na África subsaariana, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), e esses são os empreendimentos essenciais aos quais se recorrer para a geração de renda, emprego e oportunidades.Os governos e as organizações internacionais realizam uma grande tarefa para reforçar a segurança alimentar, mediante a proteção social e programas específicos de desenvolvimento agrícola.
No Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA), pensamos que é essencial as próprias pessoas estarem em condições de aproveitar realmente seu próprio potencial e o de seu continente. Embora certamente as políticas públicas e as grandes iniciativas do setor privado concorram para que isso ocorra, o empoderamento individual também é fundamental.
Na superfície isso é evidente. O objetivo principal do IITA é ser o principal sócio de pesquisa, facilitando soluções agrícolas para erradicar a fome e a pobreza nos trópicos. Nossa visão central se baseia na ideia de que são os vínculos empresariais que conectam a ampla gama de iniciativas em torno da terra, nem sempre perfeitamente coordenadas.Os agricultores familiares são de longe os maiores investidores no setor da agricultura. Do mesmo modo, a atividade empresarial de baixo para cima é a forma ótima de maximizar a eficácia.
Por isso o IITA investe muito na difusão de nossa Plataforma Incubadora de Empresas, um modelo que está estreitamente relacionado com nossos programas para Jovens Agroempresários e destinado a acelerar uma série de serviços úteis,para oferecer ao longo da cadeia de valor.
Nosso enfoque se orienta especialmente pelo fomento às oportunidades produtivas e rentáveis dos jovens, especialmente da zona rural. Afinal, nem todos os jovens podem emigrar de forma permanente para as cidades. Se o fizessem, o campo sofreria as consequências de uma mão de obra envelhecida.Gostaria de insistir em que o objetivo é fazer dinheiro e não gastá-lo! A piada serve para destacar que a sustentabilidade real exige redes viáveis que possam levar a bom termo as ideias da pesquisa.
Tomemos por exemplo o NoduMax, um dos empreendimentos-estrela de nossa Plataforma Incubadora de Empresas. Trata-se de um inoculante para soja, que permite fixar mais nitrogênio– o que em última instância também melhora a fertilidade da terra – e, portanto, gera até 450 quilos adicionais de rendimento por hectare. É fácil de usar e acessível.
A tecnologia foi desenvolvida em nossa Plataforma em Ibadã, cidade da Nigéria. Agora chegou o momento de produzi-lo em grandes quantidades e que as redes de venda o difundam. Tudo isso é uma forma sustentável de intensificar a produção agrícola e criar maior segurança alimentar, e sua força motriz não implica pegar uma ferramenta agrícola nem a necessidade de possuir mais terras.
Também estamos desenvolvendo cepas AflaSafe para combater as aflotoxinas, que são um flagelo importante para os cultivos básicos da África. É um produto natural de controle biológico desenvolvido pelo IITA e seus sócios para lutar contra a contaminação pelas aflotoxinas. Uma vez mais incubamos seu desenvolvimento, mas podeser transferida facilmente parao setor privado e difundida em numerosos locais, o que significa mais postos de trabalho na construção, fabricação e nos laboratórios.
Os dois produtos também aumentam, naturalmente, o fornecimento de alimentos – mediante os rendimentos ou a redução das perdas – e, portanto, geram novas oportunidades comerciais.Entre os projetos em preparação, há um inovador sistema de viveiro de peixes e atividades de processamento de alimentos para os cultivos de mandioca, soja, inhame, banana e feijão-fradinho.
A operação da Plataforma também implica que as pessoas trabalhem em redes, se reúnam com sócios, possíveis doadores e outros que sejam úteis a uma diversidade de empresas, como inovadores serviços de distribuição de riscos e fornecimento de créditos, ou a descoberta e criação de novos mercados para os insumos e cultivos especiais.
Esses “fatores externos” são intrínsecos à ideia de que a agricultura não é um destino ancestral para os pobres, mas uma fronteira emocionante que pode ser conquistada pelo grupo demográfico crescente da África: a juventude.Os políticos têm muito que fazer para criar contextos favoráveis, nos quais possam prosperar as famílias de pequenos agricultores, mas esses meios também devem estar povoados, e é isso o que procuramos fazer. Envolverde/IPS
* Nteranya Sanginga é diretor-geral do Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA).