Internacional

Juventude é o futuro da agricultura

Agricultores da Tanzânia. Foto: Kizito Makoye/IPS
Agricultores da Tanzânia. Foto: Kizito Makoye/IPS

Por Nteranya Sanginga*

Ibadã, Nigéria, 13/1/2016 – Encontrar uma maneira que permita aos jovens contribuir com suas amplas energias naturais com as causas produtivas é o problema fundamental que determinará a prosperidade futura. É um trágico paradoxo a juventude atual, apesar de ser a geração mais educada da história, precisar lutar para ser incluída. É certo que isso aconteça nos países avançados. Mas é ainda mais marcante na África, onde quase dois terços dos desempregados são jovens adultos, e de 10 a 12 milhões de novos membros se somam a essas fileiras a cada ano.

O desafio é enorme. Hoje em dia há 365 milhões de africanos de 15 a 35 anos. Nos próximos 20 anos esse número será o dobro. Não existe uma varinha magica. São os próprios jovens que devem encontrar uma solução. Todos os demais – governos, organizações internacionais, setor privado, organizações sociais e os pais – têm um grande interesse em que prosperem e por isso não devem se interpor em seu caminho.

Normalmente ouvimos sobre a necessidade de ajudar a gerar teorias elaboradas baseadas na necessidade da redistribuição. Porém, a verdade é que necessitamos de uma mudança radical. Esse é o espírito que o Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA) adota em nossos programas de formação para agroempresários. Seu propósito é utilizar os grupos de autoajuda de modo que as pessoas possam ajudar a si mesmas.

Como disse sem rodeios a um grupo de jovens em Uganda, lhes daremos o apoio em forma de tecnologia e conhecimentos, mas a atividade real devem fazer por si mesmos. Outra das mensagens foi “sejam empreendedores”. É sabido que a África é uma vasta terra de famílias agricultoras e que muitas delas vivem no meio rural e precisam lidar com a pobreza e a fome.

Os números também revelam como a maioria das propriedades familiares são exercícios de subsistência, e nem sempre têm resultado sem ajuda externa. Na verdade, a agricultura familiar é uma forma de vida. Mas isso não significa que não possa ser administrada como uma empresa. Fazer isso representaria uma mudança, e chegou o momento. Fazer da agricultura um empreendimento comercial oferece um conjunto de novas ferramentas para atrair os jovens com talento para um setor do qual sabemos que tendem a fugir.

Como gosta de dizer Akinwumi Adesina, ex-ministro da Agricultura da Nigéria e atual presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, “os futuros milionários da África farão sua fortuna a partir da agricultura”. E é muito provável que os jovens acelerem as transformações rumo a uma vida melhor do que a uma louca corrida para as cidades, onde as perspectivas de emprego não seguem o crescimento demográfico.

Por outro lado, a agricultura é o elo mais fraco em termos de crescimento da produtividade no continente – o que significa que existe um enorme incentivo para torná-la melhor. O conhecimento necessita de polinizadores. Os serviços de extensão são excelentes e devem ser melhorados, mas os jovens são os comunicadores naturais quando pensam que algo está bom e é útil. É isso o que a agricultura tem de ser.

drnteranyasangingaiita-629x3521-300x168A campanha de agroempresários do IITA se nutre de nossa versão dos hackathons (feiras de especialistas em computação) do Vale do Silício, nos Estados Unidos. Essas incubadoras permitem aos jovens aprender a intercambiar ideias de caráter prático sobre como realizar a contabilidade, novos cultivos e técnicas agrícolas, as inumeráveis possibilidades das cadeias de valor agrícolas, que incluem funções para comerciantes de sementes, processadores de alimentos, meteorologistas, vendedores de seguros e especialistas em marketing.

Um de nossos estagiários agroempresários me disse que o que aprendeu foi que o êxito não se reduz apenas ao dinheiro. Uma empresa realmente necessita de ideias, naturalmente, e da capacidade de planejar. Seu entusiasmo, como dizem muitos de nossos ex-alunos, estava na possibilidade da empresa. Vamos chamá-la de agroempresa. As cadeias de valor dos produtos básicos agrícolas fornecem exatamente isso, uma série de oportunidades de transação que funcionam para melhorar a eficácia de todos e premiar o talento.

Esse é um importante catalizador para a juventude, afinal, abre a porta para a profissionalização da agricultura. Sem dúvida, o modelo da agroempresa requer fundamentalmente esforços inclusivos, que garantam disponibilidade de crédito aos jovens, para assegurar que a igualdade de gênero se converta em uma suposta operação e não apenas em uma meta, além de uma série de bens públicos, incluída a pesquisa científica.

Mas tudo começa pela mudança de mentalidade. As pessoas devem aprender a solicitar um empréstimo. Os banqueiros sempre dizem que querem dar fundos baseados em um plano de negócios e não em uma garantia. É hora de colocar isso à prova. O enfoque do IITA nos agroempresários é uma aposta na ideia de que ninguém aprende mais rápido do que os jovens. Envolverde/IPS

* Nteranya Sanginga é diretor-geral do Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA).