Internacional

Leguminosas que darão o que falar

As leguminosas podem ser pequenas, mas são um grande alimento e, por isso, 2016 é o Ano Internacional das Leguminosas. Foto: Cortesia da FAO
As leguminosas podem ser pequenas, mas são um grande alimento e, por isso, 2016 é o Ano Internacional das Leguminosas. Foto: Cortesia da FAO

Por Nteranya Sanginga*

Ibadã, Nigéria, 8/1/2016 – No Ano Internacional das Leguminosas, o Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA) organiza com orgulho o que promete ser um acontecimento histórico, a Conferência Mundial sobre Feijão de Corda e Leguminosas em Grãos Pan-Africanas. A Conferência, que acontecerá em março em Zâmbia e reunirá especialistas do continente africano e de outras partes do mundo, será uma oportunidade para compartilhar ideias sobre sementes comestíveis como feijão de corda, feijões comuns, lentilhas, grão de bico e favas, entre outras variedades que agora gozam de seus 15 minutos de fama como superestrelas da nutrição.

As leguminosas podem ser pequenas, mas são um grande alimento. Os nutricionistas afirmam que seu perfil baixo em glicose e seu elevado conteúdo de fibras ajudam a prevenir e controlar as chamadas “doenças da civilização ocidental”, como obesidade e diabetes. E seu teor proteico oferece grandes possibilidades para ajudar o mundo a administrar suas práticas agropecuárias de forma mais sustentável, para que mais pessoas possam desfrutar de uma dieta melhor e mais variada sem representar uma pressão para os recursos naturais.

Antes de tudo, é preciso melhorar a disponibilidade de leguminosas. Em escala mundial, esta diminuiu mais de um terço nas quatro décadas posteriores a 1960, mas a produção aumentou de forma sustentada desde 2005, especialmente nos países em desenvolvimento. Os feijões encabeçam a tendência, marcada por um muito bem-vindo aumento, tanto da produção como do número de hectares plantados. E o mais importante é que,atualmente,quase um quinto das leguminosas é comercializado, quase três vezes mais do que nos anos 1980, um ritmo que supera amplamente o crescente comércio de cereais.

Além disso, embora a América do Norte seja uma potência exportadora, também o são África oriental e Myanmar (Birmânia). Mais da metade das exportações de leguminosas procede de países em desenvolvimento. Temos uma verdadeira oportunidade de aumentar essas fontes de proteínas. A boa notícia para milhões de famílias de pequenos agricultores é que o movimento pode se tratar mais de recuperar uma virtude tradicional do que uma revolução. Afinal, o prolífico viajante árabe Ibn Battuta escreveu sobre bambaras (uma leguminosa de grão nativa da África subsaariana) fritas em óleo de chia em uma viagem por Mali e a zona do Sahel, em 1352.

Os bolinhos de feijão, conhecidos na Nigéria como akara e muito comuns de se ver expostos à beira da estrada na África ocidental, são seus descendentes diretos e os irmãos mais velhos dos acarajés, declarados patrimônio cultural do Brasil, onde são comidos com camarão e seu nome iorubá sobreviveu ao terrível comércio triangular de escravos.

No IITA promovemos o feijão há décadas. Este mês, o Ministério da Agricultura de Suazilândia distribuiu entre agricultores locais cinco novas variedades de sementes desenvolvidas pelo Instituto, que amadurecem até 20% mais rápido e têm rendimento quatro vezes maior. Esse último êxito se deve, em grande parte, ao banco genético do IITA, que guarda para a comunidade internacional 15.112 amostras únicas de feijão procedentes de 88 países.

Nteranya Sanginga, diretor-geral do Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA). Foto: Cortesia do autor
Nteranya Sanginga, diretor-geral do Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA). Foto: Cortesia do autor

Por que tanta variedade de feijão? A pergunta deveria ser por que não há mais. Afinal, contém 25% de proteínas e é um excelente transportador de vitaminas e minerais, que se adapta a uma grande variedade de solos, tolera secas, bem como a sombra, cresce rápido e serve para combater a erosão ao verter nitrogênio no solo. Pode-se ingerir seu produto principal, e os animais aproveitam as folhas e os talos. Não se ouve falar muito desse grão porque o mundo não prestou atenção nele, mas está para ter outra oportunidade.

Porém, é uma planta que apresenta alguns problemas. Primeiro, sofre ataques em suas diferentes fases de crescimento, seja pelo vírus do mosaico, insetos da família da Gracillariodea, pelos temíveis carunchos que lutam com os fungos,oupelas bactérias que consumem as sementes armazenadas. Os cientistas do IITA tentam combater esses problemas mediante o cultivo de sementes ou difundindo tecnologias inovadoras como as Sacas de Armazenamento Melhorado de Feijão de Purdue (PICS), que repelem os carunchos.

Ainda há muito a se aprender sobre a planta, por exemplo, como cultivá-la e como impulsionar sua participação no sistema alimentar. No Ano Internacional das Leguminosas seguramente se aprenderá muito sobre seu processamento, uma etapa crítica que já permite que muitos empresários nigerianos prosperem.Talvez, os grandes produtores de alimentos encontrem novas formas de moer leguminosas para obter produtos derivados dos grãos e produzir alimento mais saudável com um teor proteico mais completo.

No que se refere ao feijão, a planta pode servir para reduzir as ervas daninhas e fertilizar os cultivos comerciais. Também é colhido antes dos cereais, o que dá segurança alimentar e flexibilidade, pois os agricultores podem escolher deixar as plantas crescerem, reduzindo a produção de feijão, mas aumentando a de forragem.

O epicentro da planta, do ponto de vista de sua história genética e também na atualidade, é a África ocidental. A Nigéria é um grande produtor, mas também o principal importador dos países vizinhos. Níger é o principal exportador e sua capacidade para enfrentar as condições de seca e ajudar a combater a erosão do solo pode ser interessante em outras partes, como o corredor seco da América Central. Envolverde/IPS

*Nteranya Sanginga é diretor-geral do Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA).