Por Prerna Sodhi, da IPS –
Nova Délhi, Índia, 20/5/2015 – “Swachh Bharat”, ou “Limpa a Índia”, é um lema que a maioria da população dopais associa com o primeiro-ministro, Narendra Modi, e sua primeira campanha nacional lançada pouco depois de assumir o cargo em maio de 2014.
O chamado despertou definitivamente a consciência popular sobre a limpeza, mas se os cidadãos a colocam em prática ou não é outra questão. De fato, não é raro ver as pessoas gritando Swachh Bharat enquanto jogam o lixo na rua. Embora a campanha não tenha conseguido a mudança que pretendia, começou um diálogo e marcou um momento decisivo para os que trabalham nesta área.
A ideia da limpeza da Índia não é nova, como tampouco o é o termo Swacch Bharat, que muitos empregaram no passado e que Modi agora patenteou. A preocupação para inculcar a consciência da necessidade da higiene nos cidadãos, muitos dos quais ainda defecam ao ar livre, remonta há décadas.
A atual iniciativa governamental aborda o tema da limpeza em nível dos cidadãos, mas os ativistas no campo do desenvolvimento sustentável argumentam que também deveria incluir questões relacionadas com a higiene da água, a energia e a eliminação dos esgotos.
O acesso à água potável é um dos principais problemas deste país de mais de 1,25 bilhão de habitantes. Segundo um informe do Fundo das Nações Unidas para a Infância, (Unesco) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a cada ano cerca de 47,7 milhões de indianos são afetados por doenças transmitidas pela água, que por sua vez provocam a perda de 73 milhões de dias de trabalho, enquanto 1,5 milhão de meninos e meninas morrem de diarreia.
O problema não parece ser a falta de disponibilidade de métodos de tratamento da água, mas a pouca vontade das pessoas para adotá-los. “Observamos que a falta de técnicas de purificação da água não se deve aos baixos níveis de sensibilização e nem mesmo ao analfabetismo, como se supõe”, disse Kavneet Kaur, gerente de campo da organização não governamental Alternativas de Desenvolvimento (DA). Acrescentou que por parte da população “houve uma evidente falta de esforço e priorização da segurança para levar a cabo sistematicamente uma ou mais opções que dessem segurança à água potável”.
Por exemplo, a maioria dos moradores de bairros da periferia “optou por métodos que não lhes custam um centavo. Os que têm acesso a métodos mais baratos de tratamento, como cloração e desinfecção solar da água, evitaram adotá-los porque demoram muito”, explicou Kaur.
Nos últimos 30 anos a DA, que trabalha principalmente na região central de Bundeljand, se concentrou na mudança de conduta necessária para que as pessoas adotem algum método de tratamento da água. Segundo sua vice-presidente, K. Vijaya Lakshmi, dos elementos interligados da água, saneamento e higiene, “está demonstrado que os hábitos de higiene têm o maior impacto na saúde comunitária”.
“Apesar de seu mérito como a intervenção de saúde pública mais rentável, paradoxalmente a melhora da higiene não foi uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). É evidente que o contexto dos ODM ficou curto para incluir temas como qualidade, sustentabilidade e equidade”, acrescentou Lakshmi.
Até agora, a DA realizou campanhas de sensibilização em 50 mil famílias e 26 escolas em zonas urbanas e ofereceu capacitação sobre métodos de tratamentos da água por desinfecção solar, ebulição, cloração e peneirado, apesar da forte resistência da população local.
Por exemplo, o armazenamento da água em um recipiente PET (tereftalato de polietileno) exposto à luz solar elimina até 99% das bactérias, uma “inovação” que utiliza nada mais do que os raios ultravioletas do sol para potabilizar a água. Outro método de purificação é peneirar o esgoto.
A DA também idealizou inovações como o filtro Jal-TARA, que elimina arsênico, as bactérias patogênicas e o excesso de ferro da água contaminada; TARA Aqua+, que é uma solução de hipoclorito de sódio, e Tara AquaCheck Vial, um dispositivo que verifica a presença de bactérias.
Porém, estas inovações não terão muito futuro se não houver uma mudança importante na mentalidade da população, e isso se estende à campanha Swachh Bharat, não só em função da água potável, mas também de um ambiente mais limpo.
Esta ideia também motiva a campanha nas redes sociais liderada por jovens conhecida como Limpar a Índia a Cidade que Eu Quero, implantada pela DA e que já conta com 10 cidades indianas, Mirzapur, Mohali, Vadodara, Alwar, Ambala, Bharatpur, Indore, Nashik, Mussoorie e Rishikesh.
Limpar a Índia é um programa de avaliação, sensibilização, ação e defesa ambiental que promove a mudança de comportamento dos jovens urbanos. Até o momento, já mobilizou 28 ONGs, 300 escolas, 800 professores e mais de um milhão de estudantes. Envolverde/IPS
* Prerna Sodhi é jornalista indiana e trabalha em Alternativas de Desenvolvimento, organização com sede em Nova Délhi dedicada a oferecer soluções de desenvolvimento que sejam socialmente equitativas, ecologicamente inócuas e economicamente viáveis.