Internacional

Mal momento para reduzir ajuda humanitária

Um menino refugiado afegão come um pedaço de doce diante da barraca de campanha ocupada por sua família. Foto: DVIDSHUB/CC-BY-2.0
Um menino refugiado afegão come um pedaço de doce diante da barraca de campanha ocupada por sua família. Foto: DVIDSHUB/CC-BY-2.0

Por Kanya D’Almeida, da IPS – 

 

Nações Unidas, 21/8/2015 – Na medida em que aumenta o número de civis que sofrem o recrudescimento do conflito no Afeganistão, as agências humanitárias têm problemas para atender as necessidades de pessoas feridas, famintas e deslocadas, apesar de seus crescentes esforços. Na primeira metade deste ano, foi registrado um “alto grau” de vítimas civis, informou, no dia 18, o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (Ocha), com cerca de 1.592 pessoas mortas e 4.900 vítimas não combatentes. Estes números representam crescimento de 1% em relação a igual período de 2014.

Os novos combates nas províncias de Helmand, Kunduz, Faryab e Nangarhar são um testemunho da propagação geográfica do conflito, enquanto as tensões e os esporádicos enfrentamentos na região central obrigam um grande número de civis a abandonarem suas casas. Cerca de 103 mil pessoas foram deslocadas pelos combates deste ano, inclusive em lugares que até então não haviam sofrido movimentos forçados de população, como Badakshan, Sar-i-Pul, Baghlan, Takhar e Badgis, afirma o Ocha em seu informe semestral.

Enfrentamentos entre o movimento islâmico Talibã e outros grupos de oposição armados são cada vez mais frequentes, e a fragmentação desses últimos significa que a complexidade e a extensão geográfica do conflito só vão piorar a situação. O Talibã governou a maior parte do território afegão entre 1996 e 2001, quando foi expulso de Cabul pelos Estados Unidos e muitos de seus integrantes se refugiaram no vizinho Paquistão.

Desde 2002, um ano depois da invasão do Afeganistão, os Estados Unidos investiram mais de US$ 100 bilhões no desenvolvimento e reconstrução desse país asiático de 30 milhões de habitantes.

Atualmente, o plano de resposta humanitária da Organização das Nações Unidas (ONU) é deficiente porque, até julho, só havia recebido US$ 195 milhões, 48% dos US$ 406 milhões necessários para suas operações. Os fundos para calda “bolsão” de assistência identificado pelo Ocha não conseguem seguir o ritmo do crescimento a população civil necessitada. Até agora a ONU recebeu apenas US$ 3,5 milhões dos US$ 40 milhões solicitados para fornecer abrigo de emergência, e faltam US$ 56 milhões para garantir a alimentação e US$ 29 milhões para a saúde.

Este ano, muitos refugiados regressaram ao país, principalmente do Paquistão, sendo 43.695 os repatriados até julho, muito acima dos 9.323 de igual período em 2014. “O número total dos retornados e dos deportados pelo Irã e pelo Paquistão sem documentos chega a 319.818. Além disso, 73 mil afegãos sem documentos regressaram do Paquistão, cerca de seis vezes mais por dia do que em 2014”, informou Ocha.

Funcionários da ONU disseram que são necessários pelo menos US$ 89 milhões para cobrir as necessidades dos refugiados, mas até agora só foram comprometidos US$ 22,5 milhões. Como costuma acontecer nesses casos, água e saneamento são as principais prioridades de um plano humanitário para evitar o foco de doenças, mas, dos US$ 25 milhões estimados pela ONU para essa finalidade, só estão disponíveis US$ 15 milhões.

“O aumento do número de necessitados de assistência humanitária, somado à falta de fundos das agências de segurança alimentar, especialmente do Programa Mundial de Alimentos (PMA), significa que os programas para deslocados, repatriados vulneráveis, refugiados e crianças mal nutridas têm uma grande carência de dinheiro”, revela o documento do Ocha, acrescentando que “em alguns casos, já acabou”.

Mas estima-se que os dados sobre as populações afetadas estão incompletos, em grande parte, pela falta de acesso às regiões mais assediadas pelos combates, o que levou a ONU a alertar que o número real de pessoas que precisam de ajuda, serviços de emergência e outros suprimentos pode ser ainda maior do que as estimativas atuais. Envolverde/IPS