Por Mabvuto Banda, da IPS –
Lilongwe, Malawi, 3/12/2015 – Nos últimos anos, o Malawi conseguiu reduzir a mortalidade infantil no primeiro ano de vida do bebê e em menores de cinco anos. Entretanto, para este país da África austral, continua sendo um desafio custoso diminuir a má nutrição, que afeta 1,4 milhão de crianças.
Um informe elaborado este ano pelo governo, junto com o Programa Mundial de Alimentos (PMA) e outras agências da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Africana, estima que o custo anual associado à má nutrição infantil é de US$ 597 milhões, o que mostra a prevalência da insegurança crônica em matéria alimentar no país.
Para reverter os alarmantes índices de má nutrição, o governo do país e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) implantaram várias iniciativas para aumentar a produção agrícola, a fim de melhorar a nutrição. A secretária de Agricultura, Irrigação e Desenvolvimento Hídrico, Erica Maganga, afirmou à IPS que é inquestionável o papel da atividade agrária na luta contra todas as formas de má nutrição. “Mais vale prevenir, e a agricultura é a chave para reduzir a má nutrição em todas as idades, além de ajudar a diminuir o custo de tratar a doença”, acrescentou.
“Sabemos que a nutrição é um problema no Malawi, e que a agricultura desempenha um papel ao contribuir para melhorar o estado nutricional de crianças, mulheres e homens”, concordou a representante da FAO residente no país, Florence Rolle. “É hora de identificar quais programas agrários existem com possibilidades de adotar um perfil mais sensível à questão da boa nutrição”, pontuou.
Em 2008, o governo do Malawi e a FAO começaram a implantar o projeto Melhora das Políticas de Segurança Alimentar, Nutrição e Difusão dos Programas. Um de seus componentes foi implantar uma iniciativa de educação nutricional integral, destinada a famílias com bebês entre seis e 24 meses para evitar a má nutrição. Com apoio econômico da Agência de Cooperação Internacional de Flandes, o programa foi aplicado nos distritos de Kasungu, a cem quilômetros dessa capital, e Mzimba, no norte do Malawi.
O responsável pelo projeto em Kasungu, Soka Chitaya, confirmou que o programa teve impacto no estado de saúde de muitas crianças do distrito. Ele explicou que, “antes do programa, muitos meninos e meninas adoeciam. As mães, na maioria camponesas, tinham vários problemas que afetavam sua produção, porque passavam mais tempo no hospital amamentando seus filhos doentes do que em suas hortas”. Mas agora tudo é diferente.
Kondwani Phiri, de 32 anos, vive com seus quatro filhos na localidade de Yosefe e ficou muito satisfeita com o programa. “Mudou minha vida. Meus filhos estão saudáveis e contentes porque agora sei o que plantar em minha horta para ter alimentos nutritivos para a família”, contou à IPS, enquanto preparava uma refeição sob o sol abrasador de novembro. Porém, agora teme perder o que conseguiu nos últimos anos se as chuvas demorarem mais. Malawi é um dos países africanos com previsões de secas para as regiões centrais e inundações, em razão do fenômeno El Niño.
Loveness Matola é outra feliz mãe que espera um ano duro porque as chuvas já atrasaram, mas tem confiança em se recuperar e ter alimento suficiente para sua família. “A iniciativa me permitiu registrar meus filhos no Programa de Alimentação de Crianças Pequenas e Bebês. Já não me preocupo porque agora sei como cultivar alimentos nutritivos em minha horta”, destacou.
Com apoio do pessoal de extensão, assistentes de vigilância de saúde e facilitadores comunitários voluntários, Phiri e Matola, junto com outras mulheres, aprenderam a preparar gachas nutritivas a partir de três ou quatro ingredientes cultivados em suas hortas. As gachas são pratos preparados com diversos alimentos, como purê de batata, farinha de milho ou de mandioca, proteínas como vagem, farinha de grãos como amendoim, pescado ou carne em pó, ou leite de cabra, misturados com verduras, que podem ser, por exemplo, abóbora, folhas verdes, além de gorduras como óleo de abacate. E as frutas, como manga, são servidas para completar os cinco grupos de alimentos diários recomendados para as crianças.
Entre outras áreas, o projeto inclui a promoção da produção pecuária, educação em mudança climática, recursos naturais e ambiente, construção de capacidades e apoio institucional, aumento e diversificação da produção, incentivo de produção de frutas, conservação do solo e da água, melhor saneamento e água potável, e outros assuntos transversais como gênero, malária e HIV/aids.
Mas essa não é a única intervenção impulsionada pela FAO junto com o governo do Malawi para melhorar a nutrição no país, pois também colaboram em “hortas escolares e educação nutricional escolar”. Esse país, junto com o governo do Brasil e a FAO assinaram um acordo com três componentes principais: revisão do plano estratégico nacional e de saúde escolar, educação nutricional e integração de educação nutricional, e hortas escolares.
A especialista da FAO, Andrea Polo Galante, explicou que a iniciativa procura melhorar a educação em matéria de alimentação saudável, concentrada em incentivar mais comida e de melhor qualidade. O diretor do Ministério da Educação, Thoko Banda, afirmou que a revisão deverá propor recomendações para incorporar à capacitação docente. Envolverde/IPS