Por Thalif Deen, da IPS –
Nações Unidas, 8/10/2015 – Quando o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) realizou uma reunião de chefes de governo para analisar a ameaça da violência extrema, o secretário-geral Ban Ki-moon advertiu que o êxito da luta contra a intolerância se baseará na “resposta unificada”. Dados da ONU revelam aumento de 70% no número de combatentes estrangeiros nas zonas em conflito, oriundos de mais de cem países, afirmou.
Ban acrescentou que não representam apenas uma ameaça direta para a segurança internacional, mas também atacam “sem piedade mulheres e meninas” e atentam contra os valores universais de paz, justiça e dignidade humana. Em resposta ao chamado à unidade, uma aliança de 25 organizações não governamentais de mulheres se comprometeu a enfrentar a violência extremista e promover a paz, os direitos humanos e o pluralismo.
“Creio que a iniciativa contra o extremismo violento e a reunião abriram espaço para uma conversação mais ampla sobre as causas profundas do extremismo”, afirmou Sanam Naraghi Anderlini, diretora da Rede Internacional de Ação da Sociedade Civil (Ican), uma ONG com sede em Washington, que integra a aliança.
A realização de cúpulas regionais e o esforço de se chegar aos jovens, às mulheres e à sociedade civil “geraram consciência sobre as muitas forças positivas que existem. Há novas iniciativas de participação juvenil, para que as cidades aprendam umas com as outras, e ênfase na pesquisa. A aliança das mulheres é uma delas”, acrescentou Anderlini.
O secretário-geral anunciou a formação de uma comissão assessora de líderes religiosos para promover o diálogo ecumênico e, também, apresentar à Assembleia Geral, no final deste ano, um plano de ação integral a fim de prevenir a violência extremista. Ban destacou a importância de cinco prioridades: necessidade de envolver toda a sociedade; fazer um esforço especial para integrar os jovens; construir instituições verdadeiramente responsáveis; respeitar o direito internacional e os direitos humanos; e não deixar que o medo nos guie, nem que seja provocado por aqueles que pretendem se aproveitar dele.
Ban Ki-moon assegurou que a maioria dos que são recrutados pelo extremismo violento é de homens jovens, embora também haja mulheres. Muitos se sentem frustrados com os poucos meios que têm ao seu alcance para levar uma vida produtiva e encontrar seu lugar na sociedade, afirmou, acrescentando que “devemos lhes mostrar outra maneira, que seja melhor. Isso inclui trabalhar para acabar com a pobreza, a desigualdade e a falta de oportunidades”.
Entre os grupos integrantes da aliança estão Centro das Filipinas para o Islã e a Democracia, Associação de Mulheres Afetadas pela Guerra, Sociedade Iraquiana Al-Firdaws, Associação para os Direitos da Mulher no Desenvolvimento, Instituto para o Jornalismo na Guerra e na Paz, Centro Carter, e Associação Civil de Justiça, Direitos Humanos e Gênero.
Os Estados Unidos lutam contra o extremismo por meio de uma coalizão aliada, que se estendeu a cerca de 60 países, incluídos quase todos os países árabes, mais a recente adesão de Malásia, Nigéria e Túnis. Além disso, mais de 20 países contribuem para a atual campanha militar contra grupos extremistas, entre os quais Boko Haram, Al Qaeda e Estado Islâmico (EI).
“Nossos esforços militares e de inteligência não progredirão sozinhos. Devem estar acompanhados pelo progresso político e econômico para atender as condições que o EI aproveitou para lançar suas raízes”, afirmou o presidente norte-americano, Barack Obama, em sua intervenção na reunião.
Anderlini explicou que a aliança de grupos de mulheres ainda está em formação. “Damos as boas-vindas às ONGs que defendem os mesmos valores e visão. Pretendemos definitivamente ter voz política e presença fortes no campo da política por várias razões”, afirmou.
“Em primeiro lugar, não há dúvidas de que as mulheres são alvos intencionais e centrais desses grupos, e os extremistas entendem o poder e a influência das mulheres na sociedade. Tentam recrutá-las ou matar as que falam contra eles. Também utilizam, naturalmente, as mulheres jovens e meninas como mercadorias. Temos que ter mulheres no centro da tomada de decisões, para que não sejam duplamente vitimizadas ou ignoradas pelos atores internacionais”, ressaltou Anderlini.
“Em segundo lugar, os membros da aliança trabalham na vanguarda dessa luta. Alguns trabalham diretamente com os grupos armados e outros fazem a prevenção comunitária. Têm experiência e muito a compartilhar sobre o que funciona e o que não funciona, e a forma de adaptar as boas práticas em escala. E em terceiro lugar, têm perspectivas importantes sobre as causas profundas, bem como sobre as soluções necessárias para a comunidade internacional”, acrescentou Anderlini.
A diretora da Ican disse que “não podemos supor que as pequenas doações para organizações locais solucionarão esse grande problema. Essas organizações podem fazer muito, mas o mais importante é que podem informar e orientar em nível nacional e internacional em matéria de políticas econômicas, de segurança”. A conclusão é que “muito do que aconteceu até agora não está funcionando. Nossos sócios sírios e iraquianos já advertiam sobre esses problemas em 2011, e mesmo antes. Se tivéssemos considerado suas advertências e seguido seus conselhos as coisas seriam diferentes hoje”, pontuou.
Barack Obama afirmou que é preciso atender as reivindicações políticas das quais o EI se aproveita. “Eu disse antes. Quando os direitos humanos são negados e os cidadãos não têm a oportunidade de resolver pacificamente aquilo que os afeta, isto alimenta a propaganda terrorista que justifica a violência”, acrescentou. “Do mesmo modo, quando os oponentes políticos são tratados como terroristas e jogados na prisão, pode ser uma profecia de autocumprimento”, prosseguiu.
“Assim, o verdadeiro caminho para a estabilidade e o progresso não é menos democracia. É mais democracia em termos de liberdade de expressão, liberdade de religião, Estado de direito, sociedades civis fortes. Tudo isto tem sua parte na luta contra o extremismo violento”, enfatizou Obama. “E, por último, reconhecemos que nossos melhores sócios na proteção das pessoas vulneráveis a sucumbir diante das ideologias extremistas violentas são as próprias comunidades: famílias, amigos, vizinhos, clérigos, líderes religiosos que amam e cuidam desses jovens”, concluiu. Envolverde/IPS