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Mulheres lideram movimento por alimentos saudáveis nas Filipinas

Nas Filipinas, 22% dos menores de cinco anos têm baixo peso, e 32% sofrem atraso no crescimento. Foto: Kara Santos/IPS
Nas Filipinas, 22% dos menores de cinco anos têm baixo peso, e 32% sofrem atraso no crescimento. Foto: Kara Santos/IPS

 

Manila, Filipinas, 27/3/2015 – Quando uma equipe da Arugaan, uma organização de saúde integrada por mulheres, visitou Visayas Oriental, uma zona das Filipinas devastada pelo tufão Haiyan em novembro de 2013, constatou que nos locais de ajuda e resgate era abundante o leite artificial, que as mães davam aos seus bebês em grandes quantidades. “Interviemos porque sabíamos que precisávamos ensinar as mulheres a amamentar e sua importância para elas, seus filhos e suas famílias”, disse à IPS Tinay Alterado, integrante da organização.

A Arugaan – que em filipino significa nutrir ou cuidar de alguém – é uma creche dirigida por mães trabalhadoras, em sua maioria de origem urbana e pobre, que cuidam de crianças de até três meses e meio e promovem um estilo de vida saudável, especialmente por meio da amamentação materna. “Informamos às mulheres que podem e devem amamentar, e que deveriam fazê-lo até um mínimo de seis meses”, explicou Alterado. Nas áreas afetadas pelo tufão, as mães foram ensinadas a extrair o leite com de massagens e armazená-lo.

Alterado contou que seus colegas reforçaram os esforços para sensibilizar as mulheres sobre esse aspecto crucial da maternidade, que não está arraigado na cultura do país. Poucas pessoas vinculam o aleitamento materno com seus correspondentes benefícios econômicos e ambientais, como redução do lixo ou alívio dos problemas financeiros da família.

Em um país de aproximadamente cem milhões de habitantes onde 22% dos menores têm baixo peso e 32% sofrem atraso no crescimento, o papel das mulheres na luta contra a fome e a desnutrição não pode ser subestimado.

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a “dependência excessiva do arroz, os baixos níveis de aleitamento materno e as recorrentes ameaças naturais, vinculadas e amplificadas pela pobreza, implicam que as crianças não comem o suficiente” nas Filipinas. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estimam que neste país ocorram anualmente, em média, 20 tufões, afetando gravemente as terras de cultivo.

Em 2014, as Filipinas juntou-se a 63 países em desenvolvimento que cumpriram o primeiro dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), ao reduzir pela metade a pobreza extrema antes do vencimento do prazo, no final deste ano. Entretanto, o país ainda registra uma das taxas de desnutrição mais altas do mundo. Enquanto governo e organizações internacionais buscam soluções para este problema, as mulheres das Filipinas estão na vanguarda no combate à fome.

A cruzada de Alterado não difere da de Angelina Galang, que dirige a Direito do Consumidor a Alimentos Seguros (DCAS), uma coalizão de organizações filipinas pelo acesso à alimentação saudável. Para ela, a luta começa em casa. Quando seus netos a visitam, ela não lhes serve bebidas açucaradas, comida chatarra (tipo fast food) ou a pizza comprada que muitos jovens preferem. Ela dá frutas, sanduíches e pratos caseiros saudáveis, como bananas fervidas.

No começo não gostaram, mas depois de alguns meses se acostumaram a não encontrar refrigerantes nem salsichas na casa da avó. “Com sorte, aprenderão e adotarão esse estilo de vida quando crescerem”, afirmou Galang à IPS. Ela disse que ensinar à “geração do fast food” sobre os tipos e as quantidades adequadas de alimentos é um desafio, sobretudo porque as atraentes táticas de marketing das empresas seduzem muitos jovens.

Porém, o problema não termina aí. A DCAS pretende que o governo realize uma pesquisa melhor sobre os cultivos modificados geneticamente e rotule os produtos alimentícios que contenham organismos transgênicos, que alteram a composição genética dos cultivos para melhorar sua aparência, conteúdo de nutrientes e crescimento.

“Ninguém sabe se é seguro comer alimentos transgênicos, mas há mais provas de que podem ser um perigo para a saúde”, destacou Galang. “Os consumidores são as cobaias dos transgênicos”, ressaltou, acrescentando que oito cultivos geneticamente modificados foram aprovados pelo governo para plantio e 63 para importação.

Recentemente, o movimento contra os cultivos geneticamente modificados uniu-se contra as tentativas do governo de plantar “arroz dourado” transgênico, uma variedade fortificada com betacaroteno, que no corpo se converte em vitamina A. O governo afirma que seu experimento pretende remediar a deficiência dessa vitamina no país, que afeta 1,7 milhão de menores de cinco anos e cerca 500 mil mulheres grávidas e lactantes, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz, com sede nas Filipinas.

Porém, os ativistas sustentam que os transgênicos agravarão a fome, acabarão com a biodiversidade e possivelmente contaminarão outros cultivos. Mulheres como Galang também recomendam que, até que sejam feitos estudos exaustivos no longo prazo, “é melhor comer e comprar alimentos locais, orgânicos e não processados”.

Os especialistas dizem que o primeiro passo do movimento pela alimentação saudável é educar as crianças sobre a importância de comer produtos locais e orgânicos. Camille Genuino, integrante da Fundação Voluntários de Negrense pela Mudança, com sede na cidade de Bacolod, é testemunha de primeira mão. Sua filha de quatro anos, que frequenta uma creche, está aprendendo a plantar ervas e fazer macarrão e pizza com os produtos frescos colhidos em sua pequena horta.

“Educar as crianças e expô-las aos benefícios da agricultura é lhes dar uma boa criação”, garantiu Genuino, cuja organização não governamental produz o pó nutritivo Mingo, uma fórmula instantânea que se converte em ensopado quando misturado com água e que é distribuído em zonas afetadas por desastres.

A creche de sua filha fica na cidade de Quezon, uma zona urbana pobre, situada perto de um centro de eliminação de resíduos, onde os habitantes cultivam em seus telhados para produzir seus alimentos. O centro realiza programas de alimentação para cerca de 80 a cem crianças da região. É um esforço humilde, mas iniciativas semelhantes em todo o país sugerem um movimento crescente, encabeçado principalmente por mulheres, que lideram as mudanças no setor da alimentação e nutrição. Envolverde/IPS