Por Thalif Deen, da IPS –
Nações Unidas, 19/10/2015 – Quando a Real Academia das Ciências da Suécia concedeu o Nobel de Economia deste ano ao professor Angus Deaton, o prêmio teve toda uma relevância especial para a Organização das Nações Unidas (ONU). Deaton, de 69 anos, nasceu na Escócia mas adotou a cidadania dos Estados Unidos, onde é professor de economia e assuntos internacionais na Universidade de Princeton desde 1983. Sua pesquisa reflete alguns dos problemas socioeconômicos na agenda da ONU, como redução da pobreza, desigualdade econômica, padrões de consumo, renda das famílias, empoderamento da mulher e seguridade social.
O porta-voz adjunto da ONU, Farhan Haq, disse à IPS que o secretário-geral, Ban Ki-moon, “aprecia o trabalho que Deaton realizou sobre a pobreza”, acrescentando que “nosso Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais dirigiu a atenção para alguns de seus trabalhos, incluída sua conferência sobre a pobreza, que poderia resultar interessante”. Segundo a Academia sueca, Deaton melhorou a compreensão de alguns desses temas mais do que ninguém.
Seu enfoque sobre as pesquisas nas famílias “ajudou a transformar a economia do desenvolvimento de um campo teórico baseado em dados agregados, para um campo empírico baseado em dados individuais detalhados”, afirmou a Real Academia ao justificar o prêmio, anunciado no dia 12.
Para o jornal britânico The Guardian, o trabalho de Deaton complementa os estudos realizados pelo francês Thomas Piketty e pelo britânico Tony Atkinson, centrados principalmente na riqueza e na desigualdade em relação à renda, e que examinam os padrões do gasto dos consumidores para ilustrar a crescente desigualdade na saúde e no bem-estar.
O ganhador do Nobel de Economia 2015 é conhecido pelo paradoxo Deaton, segundo o qual “fortes transtornos na renda não parecem causar transtornos da mesma magnitude no consumo”. Segundo o The Guardian, em seu mais recente livro, The Great Escape: Health, Wealth and the Origins of Inequality (A Grande Fuga: Saúde, Riqueza e as Origens da Desigualdade), Deaton afirma que a análise dos dados econômicos revela que, enquanto o crescimento da renda nacional melhorou a saúde e o bem-estar da maioria das pessoas do mundo, muitos ficaram excluídos.
Em sua última pesquisa, o estudioso “se concentra nos fatores determinantes da saúde nos países ricos e pobres, bem como na medição da pobreza na Índia e em todo o mundo”, acrescentou o jornal.
Jean Dreze é um economista que trabalhou com Deaton. “Não é apenas um brilhante economista, mas também um erudito formidável e um grande escritor. Demonstrou com o uso inteligente dos dados das pesquisas pode iluminar questões transcendentais do bem-estar humano e contribuir com o razoamento público”, afirmou sobre seu colega.
Ao anunciar o prêmio a Deaton, a Real Academia sueca analisou algumas de suas teorias da seguinte maneira.
Como os consumidores distribuem seu gasto entre diferentes produtos? A resposta a esta pergunta não é necessária apenas para explicar e prever os padrões de consumo reais, mas também é fundamental para avaliar a forma como as reformas públicas, como as mudanças nos impostos sobre consumo, afetam o bem-estar dos diferentes grupos.
Em seus primeiros trabalhos Deaton desenvolveu o que é conhecido como Sistema de Demanda Quase Real (uma maneira flexível e simples de calcular como a demanda de cada produto depende dos preços de todos os bens e da renda individual). Seu enfoque e suas modificações posteriores constituem agora instrumentos habituais, tanto no mundo acadêmico como na avaliação prática das políticas.
Para explicar a formação de capital e a magnitude dos ciclos econômicos, é necessário compreender a interação entre a renda Ed o consumo ao longo do tempo.
Em alguns trabalhos que datam de, aproximadamente, 1990, Deaton demonstra que a teoria do consumo imperante não podia explicar as relações reais se o ponto de partida era a renda e o consumo agregado. Em seu lugar, deve-se somar como os indivíduos adaptam seu próprio consumo à sua renda individual, que flutua de uma maneira muito diferente à da renda acumulada.
Esta pesquisa demonstra claramente porque a análise dos dados individuais é essencial para se obter os padrões observados nos dados agregados, um enfoque que, desde então, foi adotado amplamente pela macroeconomia moderna.
Como podemos medir e analisar melhor o bem-estar e a pobreza?
Em sua pesquisa mais recente, Deaton destaca como se pode utilizar medidas confiáveis dos níveis de consumo das famílias individuais para discernir os mecanismos subjacentes do desenvolvimento econômico. Sua pesquisa descobriu obstáculos importantes ao comparar a magnitude da pobreza ao longo do tempo e do espaço.
Também exemplifica como o uso inteligente dos dados das famílias pode lançar luz sobre assuntos como as relações entre renda e consumo de calorias, e a extensão da discriminação de gênero dentro das famílias”, segundo a Real Academia sueca. Envolverde/IPS