Internacional

Nova ordem internacional de população

Migrantes afegãos voltam para casa após serem deportados do Irã. Foto: Karlos Zurutuza/IPS
Migrantes afegãos voltam para casa após serem deportados do Irã. Foto: Karlos Zurutuza/IPS

Por Thalif Deen, da IPS – 

Nações Unidas, 9/10/2015 – Enquanto continua o êxodo para a Europa de centenas de milhares de migrantes e refugiados de zonas devastadas pela guerra, um estudo do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que a migração em grande escala dos países pobres para os ricos será um fato permanente na economia mundial durante décadas.

O estudo conjunto dessas instituições, apresentado no dia 7, afirma que o mundo está experimentando um importante movimento de população que mudará o desenvolvimento econômico durante décadas. E, embora esta situação apresente desafios, também oferece um caminho para acabar com a pobreza extrema e compartilhar a prosperidade, se forem aplicadas políticas adequadas em níveis nacional e internacional, afirma o documento.

Joseph Chamie, ex-diretor da Divisão de População da Organização das Nações Unidas, disse à IPS que, em contraste com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) aprovados em setembro por uma cúpula mundial realizada em Nova York, o informe não ignora o crescimento demográfico e reconhece seu papel vital na economia e no desenvolvimento.

As rápidas taxas de crescimento demográfico em algumas regiões, a diminuição e o envelhecimento de população em outras, o aumento da longevidade, a urbanização, a migração internacional – incluídos os deslocamentos de refugiados – entre outras tendências, marcam o começo de uma “nova ordem internacional da população”, segundo Chamie.

“Esta nova ordem da população afeta cada vez mais as condições sociais e econômicas, a representação e influência políticas e as relações internacionais. Porém, os políticos e seus assessores em geral fazem caso omisso dessa dinâmica, exceto quando surge uma crise, como o recente movimento de refugiados do Oriente Médio”, acrescentou o funcionário das Nações Unidas.

Segundo Chamie, não existe nenhum tema vinculado ao desenvolvimento – como pobreza, fome, moradia, educação, emprego, saúde e ambiente – que não se beneficiaria da redução das altas taxas de crescimento demográfico.

Em um novo giro diante da crise de refugiados, o jornal norte-americano The Wall Street Journal afirma que o grupo extremista Estado Islâmico (EI) pretende reter médicos, professores e operários qualificados e impedir sua fuga para a Europa, já que a organização armada necessita urgentemente desses trabalhadores. “A preocupação do EI com a crise migratória reflete sua crescente inquietação pela fuga de cérebros de seu território, que se estende por partes do Iraque e da Síria”, afirmou o jornal na edição do dia 7.

“Eles dizem às pessoas que essa migração é uma conspiração contra o EI e que os mesmos países europeus que os humilharam no passado tentam escravizá-los novamente”, contou um morador da cidade iraquiana de Mosul, citado pelo The Wall Street Journal.

O informe do Banco Mundial e do FMI indica que a proporção da população mundial com idade de trabalhar alcançou seu ponto máximo de 66% e agora está em queda. A previsão é de que o crescimento demográfico mundial diminua 1%, em comparação com mais de 2% da década de 1960. A proporção de pessoas idosas praticamente duplicará para 16% em 2050, e a quantidade de crianças se estabilizará em torno de dois bilhões.

O rumo e o ritmo dessa transição demográfica mundial variam consideravelmente de um país para outro, segundo sua situação de envelhecimento e desenvolvimento econômico. Independentemente dessa diversidade, países em todas as fases de desenvolvimento podem aproveitar a transição demográfica como uma grande oportunidade, segundo o informe.

“Com o conjunto adequado de políticas, essa época de mudança demográfica pode ser um motor de crescimento econômico”, afirmou o presidente do Grupo do Banco Mundial, Jim Yong Kim. “Se os países com populações que envelhecem puderem criar um caminho para que os refugiados e os migrantes participem da economia, todos se beneficiarão. A maior parte da evidência sugere que os migrantes trabalham com vontade e contribuem mais em impostos do que consomem em serviços sociais”, destacou.

De acordo com o documento, mais de 90% da pobreza mundial se concentra nos países de baixa renda que têm população jovem, de rápido crescimento, onde o número de habitantes em idade de trabalhar cresce significativamente. Ao mesmo tempo, mais de 75% do crescimento mundial é gerado nos países de maior renda com taxas de fertilidade muito menores, menos habitantes em idade de trabalhar e com crescimento na quantidade de idosos.

Chamie disse à IPS que, devido às diferenças contundentes nas taxas de crescimento demográfico, se prevê que a população dos países menos adiantados vai superar a dos industrializados em 2030.

Outra clara tendência que o informe prevê para o futuro são os movimentos migratórios internacionais em grande escala dos países pobres para as regiões mais ricas, incluídos os refugiados e a migração ilegal.

“É evidente que os fatos demográficos apresentam desafios fundamentais para os responsáveis políticos nos próximos anos. Porém, não está totalmente claro – e talvez seja inclusive duvidoso – que os líderes políticos serão capazes de abordar esses desafios, especialmente se continuarem ignorando as tendências demográficas e não levarem em conta a nova ordem internacional de população”, alertou Chamie.

“Os fatos demográficos analisados no informe do Banco Mundial e do FMI apresentam desafios fundamentais para os responsáveis políticos de todo o mundo nos próximos anos”, afirmou a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde. Envolverde/IPS