Por Roger Hamilton-Martin, da IPS
Dakar, Senegal, 7/5/2015 – Os novos casos de ebola na Guiné Bissau, Libéria e Serra Leoa baixaram consideravelmente, o que permitiu que as campanhas de vacinação contra outras doenças, como sarampo e poliomielite, que haviam sofrido o golpe da última grande epidemia na África ocidental, recuperassem seu ritmo habitual.
Com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), os três países mais afetados pela epidemia de ebola começaram uma campanha para vacinar três milhões de crianças contra essas enfermidades evitáveis.
O lançamento da campanha coincidiu com a Semana Mundial da Imunização, de 24 a 30 de abril. O Banco Mundial entregou fundos para a Guiné, enquanto em Serra Leoa o financiamento foi da Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional, União Europeia e Escritório de Assistência para Desastres no Estrangeiro dos Estados Unidos.
A IPS conversou sobre a importância da campanha com o porta-voz da Unicef para a África ocidental, Tim Irwin. “O enfoque continua sendo em grande parte chegar a uma quantidade zero de casos de ebola, mas a redução no número de casos já permitiu reiniciar algumas intervenções”, afirmou.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), na Guiné Bissau, Libéria e Serra Leoa houve apenas 33 casos novos de ebola na semana que terminou em 26 de abril.
“Já foram retomada as imunizações e a Unicef e seus aliados apoiaram os governos na reabertura das escolas”, informou Irwin. No final de março, a OMS declarou que “à luz da redução dos casos de ebola, é urgente centrar os esforços no reinicio e na intensificação das atividades de imunização”, acrescentou.
Atualmente, o risco de focos de doenças evitáveis por vacinação é superior ao risco do aumento da transmissão do vírus ebola.
A Libéria previa uma campanha para vacinar contra sarampo e pólio mais de 700 mil crianças menores de cinco anos entre os dias 8 e 14 de maio. As taxas de vacinação contra o sarampo caíram devido ao impacto do ebola na infraestrutura sanitária do país que fica na costa ocidental africana.
Pouco mais da metade das crianças menores de um ano receberam a vacina contra o sarampo em 2014. Antes de começar a epidemia de ebola em dezembro de 2013 a cobertura era de 80%, enquanto em 2014 caiu para 58%.
Entretanto, o ebola teve um considerável impacto sobre a vacinação em Serra Leoa, onde a imunização de rotina diminuiu 17% durante a epidemia. Desde o começo de 2015 foram registrados 21 casos de sarampo confirmados em laboratório. Em maio, o país vacinará 1,5 milhão de menores de cinco anos contra sarampo e pólio.
Na Guiné, onde foi declarado um foco de sarampo no começo de 2014, o número de casos confirmados aumentou quase quatro vezes, de 59, em janeiro e dezembro de 2013, para 215, no mesmo período do ano passado, segundo a OMS. Atualmente o país tem cerca de 1.265 casos suspeitos dessa doença.
Irwin disse à IPS que na Guiné Bissau um desafio importante é comunicar o quanto são seguras e importantes as vacinas a setores da população que desconfiam delas, e que, em alguns casos, até temem que possam causar ebola. “A segunda fase da campanha de vacinação contra sarampo começou na Região Florestal, que ainda se recupera do trauma psicológico do foco de ebola”, explicou Irwin.
“Embora não se conheça um caso nessa região há meses, a equipe e os sócios da Unicef tomaram a iniciativa de realizar uma campanha social antes das vacinações para garantir que a participação fosse a maior possível”, disse Irwin.
Os profissionais do setor da saúde permanecem atentos aos casos de ebola, e são obrigados a usar luvas quando administram as vacinas, uma prática que não é seguida habitualmente para as vacinas injetáveis em condições normais.
Como parte da campanha de sensibilização comunitária em Guiné Bissau a Unicef realiza visitas pessoais para falar com os pais. “A Unicef capacitou uma equipe que trabalho na sensibilização sobre o ebola para ir de casa em casa e explicar aos pais que a vacina contra sarampo é segura, essencial e não está relacionada em nada com o ebola”, segundo Irwin.
O especialista em saúde da Unicef, René Ehounou Ekpini, disse à IPS que o ebola destacou graves problemas no sistema sanitário da Guiné. “Em primeiro lugar, trata-se de um problema de má distribuição, já que a maioria dos trabalhadores da saúde está na capital. Em segundo lugar, é um problema de infraestrutura. É importante restaurar a confiança no sistema de saúde”, acrescentou. Envolverde/IPS