Por Sean Buchanan, da IPS
Londres, Grã-Bretanha, 9/6/2015 – As usinas a carvão dos países do Grupo dos Sete (G7) mais ricos custarão ao mundo US$ 450 bilhões anuais até o final do século e reduzirão os cultivos do planeta em milhões de toneladas, na medida em que se acelera o ritmo da mudança climática, segundo novo informe da organização humanitária Oxfam.
Durante o lançamento do informe Que Comam Carvão, que conta com apoio de empresários, acadêmicos e especialistas em clima, a Oxfam alertou que o carvão é o maior impulsionador da mudança climática, que já afeta com mais dureza a população mais pobre do mundo e dificulta a luta para acabar com a fome.
Os países do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão) são os principais consumidores de carvão do mundo, por isso a Oxfam pediu aos seus líderes, cuja cúpula de dois dias terminou ontem na Alemanha, que deixem de consumir esse mineral e optem por fontes de energia renováveis, que oferecem uma alternativa mais segura e rentável, além das perspectivas de milhões de novos postos de trabalho em todo o mundo. Isso seria um passo gigante para o cumprimento das metas destinadas a reduzir as emissões contaminantes atuais desses países, afirmou a organização.
A Oxfam informa que a África, por exemplo, terá custo de US$ 84 bilhões anuais até o final do século, devido aos danos causados pelas emissões de carbono do G7. Isso equivale a 60 vezes a quantidade que o continente recebe atualmente do grupo de países ricos em apoio à agricultura e à produção de alimentos.
O Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) advertiu que os sistemas de produção de alimentos da África são muito vulneráveis à mudança climática e que, provavelmente, isso provoque uma queda no cultivo de cereais em todo o continente de até 35% em meados do século. A Oxfam alerta que sete milhões de toneladas de alimentos básicos poderão se perder anualmente até a década de 2080 por causa das emissões de carvão do G7.
“Os líderes do G7 devem deixar de usar o crescimento das emissões nos países em desenvolvimento como desculpa para a falta de ação e começar a liderar o mundo na redução dos combustíveis fósseis, começando por seu próprio hábito de uso do carvão”, afirmou Celine Charveriat, diretora de Promoção e Campanhas da Oxfam.
“O hábito de usar carvão do G7 está reforçando os custos da África e de outras regiões em desenvolvimento. É hora de seus líderes abrirem os olhos para a fome que seus próprios sistemas de energia causam às pessoas mais pobres do mundo na primeira linha da mudança climática”, acrescentou Charveriat.
“Os líderes do G7 podem dar à luta mundial contra a mudança climática o impulso necessário afastando-se do carvão. Isso resultará em importantes cortes adicionais em suas emissões, criará postos de trabalho e será um grande passo para um futuro mais seguro, sustentável e próspero para todos nós”, ressaltou Charveriat em referência à COP 21, a Conferência das Partes sobre Mudança Climática que acontecerá em Paris, em dezembro.
Em todo o mundo, o carvão responde por 72% das emissões contaminantes do setor de eletricidade e, embora mais do que a metade de seu consumo atual corresponda ao Sul em desenvolvimento, o consumo do G7 é considerável, já que, se as usinas a carvão do grupo estivessem em um único país, este seria o quinto maior emissor do mundo, segundo a Oxfam. As usinas a carvão do G7 emitem o dobro das emissões de combustíveis fósseis da África e dez vezes mais do que a dos 48 países de menor desenvolvimento.
Na COP 16, realizada em Copenhague, na Dinamarca, em 2009, todos os países se comprometeram a evitar o aquecimento global acima de dois graus Celsius para evitar a mudança climática desenfreada. Desde então, cinco dos países do G7 – Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália e Japão – consumiram mais carvão do que antes, e o planeta se encaminha para um aumento de quatro graus do aquecimento global, assegurou a Oxfam.
Entre os que apoiam o informe Que Comam Carvão estão Olivier de Schutter, ex-relator especial da ONU sobre Direito à Alimentação, Nick Molho, presidente do Grupo Aldersgate de líderes empresariais, políticos e da sociedade civil, Sharan Burrow, secretária-geral da Confederação Sindical Internacional, e Dessima Williams, ex-embaixadora de Granada junto à ONU e ex-presidente da Aliança dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento.
Segundo Schutter, “os transtornos climáticos já afetam muitas comunidades pobres do Sul global, e as centrais elétricas a carvão estão contribuindo, a cada dia, para agravá-los. Se parecem cada vez mais com armas de destruição que apontam contra os que sofrem os impactos das mudanças nos padrões de chuva, bem como dos eventos climáticos extremos.
A Oxfam pontuou que os países do G7 devem liderar o caminho porque são os maiores responsáveis pela mudança climática, e porque têm a maior quantidade de recursos para descarbonizar suas economias e financiar tanto a redução das emissões como a adaptação para que os países em desenvolvimento possam se proteger da mudança climática e se desenvolver com um consumo baixo em dióxido de carbono.
A organização também pediu ao G7 que cumpra seus compromissos vigentes e reúna conjuntamente US$ 100 bilhões ao ano até 2020 para enfrentar a mudança climática, e que realize avanços visíveis, tanto na obtenção de financiamento público nos próximos cinco anos como no aumento da proporção dos fundos para a adaptação à mudança climática. Envolverde/IPS