Por Joseph Chamie*
Nova York, Estados Unidos, 21/9/2015 – Com a melhoria da qualidade de vida, os avanços na tecnologia e na medicina, e a redução da mortalidade entre os idosos, o século 21 é testemunha do aumento do número de pessoas centenárias. Estima-se que há no mundo cerca de meio milhão de pessoas com mais de cem anos, quase o triplo das existentes no início do século, apesar de a população mundial ter aumentado 20%.
Embora o prognóstico seja de que a população mundial aumentará 80% até o final deste século, estima-se que o número de pessoas centenárias se multiplicará por 60, chegando a mais de 26 milhões em 2100 (Figura 1). As pessoas com mais de cem anos representam uma pequena proporção dos 7,3 bilhões de habitantes do planeta, cerca de seis em cada cem mil habitantes ou uma em cada 16 mil. Mas a previsão é que, nas próximas décadas, a proporção aumentará rapidamente e, no final deste século, haverá 236 pessoas com mais de cem anos para cada cem mil habitantes, ou uma em cada 425.
Atualmente, os países com maior número de pessoas centenárias são Estados Unidos (72 mil), Japão (61 mil), China (48 mil), Índia (27 mil) e Itália (25 mil), que concentram aproximadamente metade dos habitantes com mais de cem anos. Em meados deste século, esses países continuarão ocupando os cinco primeiros lugares, mas com números maiores: China (882 mil), Japão (441 mil), Estados Unidos (378 mil), Itália (216 mil), Índia (207 mil).
Com relação ao número de pessoas centenárias para cada cem mil habitantes, os primeiros cinco países são Japão (48), Itália (41), Uruguai (34), Chile e França (31). Com 22 pessoas centenárias para cada cem mil habitantes, os Estados Unidos estão em 15º lugar, atrás de muitos países europeus, como França, Alemanha, Espanha e Grã-Bretanha. Para meados deste século, o prognóstico indica que Japão e Itália terão a maior proporção de pessoas com mais de cem anos com um número mais elevado, cerca de 400 em cada cem mil habitantes, ou uma em 250.
A grande proporção de pessoas longevas em alguns países se deve, em grande parte, à sua baixa mortalidade e a estruturas etárias com muitos idosos. Japão e Itália, por exemplo, têm a maior expectativa de vida do mundo (83 anos), a maior proporção de adultos de idade média (46 anos) e grandes setores acima dos 65 (26% e 22%, respectivamente).
Em termos de longevidade, as mulheres levam clara vantagem. Em geral, a população feminina tende a viver mais do que a de homens, com um número desproporcionadamente superior de mulheres nas idades mais avançadas. Elas constituem 80% das pessoas centenárias, e 96% das 46 documentadas como supercentenárias, com mais de 110 anos.
Portanto, não deve surpreender que a pessoa documentada que viveu mais tenha sido uma mulher. A francesa Jeanne Calment nasceu em 1875 e morreu em 1997, tendo vivido 122 anos e 164 dias. O homem que viveu mais anos foi o japonês Jiroemon Kimura, que morreu com 116 anos e 54 dias. Calment e Kimura chegaram a ser pessoas que viveram pelo menos um milhão de horas, ou 114 anos e 57 dias. As probabilidades de uma pessoa centenária atingir esse marco são muito baixas, menos de uma em mil. Cerca de 30 pessoas documentadas viveram mais de 114 anos.
Há pouco tempo, a pessoa viva mais idosa era Misao Okawa, do Japão, que viveu 117 anos e 26 dias. Atualmente, a pessoa mais idosa é Susannah Mushatt Jones, dos Estados Unidos, que nasceu em 6 de julho de 1899, seguida de perto por Emma Morano, da Itália, que nasceu em 29 de novembro de 1899. O homem mais idoso ainda vivo é o supercentenário Yasutaro Koide, do Japão, que nasceu em 13 de março de 1903.
Estudar as pessoas centenárias apresenta benefícios, pois permite compreender melhor o processo de envelhecimento. As pesquisas contribuem para identificar formas de aumentar a expectativa de vida e de melhorar a qualidade de vida dos idosos que continuam envelhecendo.
Entre os fatores mais importantes da longevidade excepcional estão os “super” genes herdados. A maioria dos que chegam aos cem anos tem um avô ou uma avó, um pai ou uma mãe, ou um irmão ou uma irmã, que viveu 90 anos ou mais. Alguns estudos também indicam que os irmãos dos centenários têm uma possibilidade significativamente maior (17 vezes mais para os homens e nove vezes mais para as mulheres) de completar cem anos do que outros nascidos na mesma época.
Além da importância da genética, especialmente em idades avançadas, alguns dos fatores mais notáveis relacionados à longevidade são:
- a) boa saúde e hábitos pessoais, como dieta, exercício, peso normal, pouco estresse e não fumar nem abusar de substâncias tóxicas;
- b) educação e elevado nível de conhecimento;
- c) um sistema de apoio social forte e comprometido;
- d) uma perspectiva otimista e emoções positivas, e capacidade de adaptação à mudança e ao planejamento de alternativas.
Muitas pessoas centenárias dizem não sentir a idade cronológica, mas pensam e se sentem muitos anos mais jovens.
As probabilidades de uma pessoa viver cem anos atualmente são baixas, mas certamente são maiores do que as de seus pais e avós. Um estudo realizado na Grã-Bretanha calculou que as probabilidades de um recém-nascido britânico viver cem anos eram uma em quatro para um menino e uma em três para uma menina. Outros estudos são mais otimistas sobre as possibilidades de uma pessoa ser centenária, com estimativas indicado que mais da metade dos bebês nascidos nas nações industrializadas têm uma expectativa de vida de cem anos.
A maior longevidade de aproximadamente cem anos é, certamente, uma benção para a maioria das pessoas de qualquer lugar. Mas o crescente número e a proporção de centenários e de idosos geram questionamentos aos programas e às políticas, como idade para aposentar, atenção médica, pensões, investimentos econômicos, impostos, serviços sociais, manutenção da saúde, reabilitação, cuidados e vida assistida.
Não proporcionar ou atrasar a atenção às profundas consequências do envelhecimento populacional e da maior longevidade não é apenas uma visão de curto alcance, mas dificulta a situação de pessoas, famílias e comunidades, bem como eleva o custo econômico para os governos.
Embora os dirigentes políticos tentem fazer outra coisa, as realidades demográficas do envelhecimento populacional e da crescente longevidade humana não podem ser negadas com sinceridade nem com engenho político e nem ser evitadas com leis. No final, se pagará o pato demográfico de uma forma ou de outra. Envolverde/IPS
* Joseph Chamie é demógrafo, consultor independente e ex-diretor da Divisão de População da Organização das Nações Unidas (ONU). As opiniões expressadas neste artigo são de responsabilidade da autora e não representam necessariamente as da IPS – Inter Press Service, nem podem ser atribuídas a ela.