Internacional

ONU investigará acusações de corrupção

John Ashe, presidente do 68º período de sessões da Assembleia Geral da ONU, em 22 de abril de 2014. Foto: Evan Schneider/ONU
John Ashe, presidente do 68º período de sessões da Assembleia Geral da ONU, em 22 de abril de 2014. Foto: Evan Schneider/ONU

Por Thalif Deen, da IPS – 

Nações Unidas, 13/10/2015 – Finalmente, após dúvidas iniciais, a Organização das Nações Unidas (ONU) investigará as acusações de suborno e corrupção contra o escritório de um ex-presidente da Assembleia Geral, principal órgão normativo do fórum mundial. John Ashe, embaixador de Antiga e Barbuda, presidiu a Assembleia Geral no período 2013-2014 e é acusado de ter recebido mais de US$ 1,3 milhão em “subornos” de uma empresa chinesa.

As investigações também se estenderão a uma doação de US$ 1,5 milhão que a empresa chinesa Sun Kian Ip Group e uma de suas filiais, a Global Sustainability Foundation, fizeram ao Escritório das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul (OSSC). O presidente da Sun Kian Ip Group, o empresário Ng Lap Seng, e vários de seus colegas estão presos acusados de subornos e evasão fiscal.

As autoridades dos Estados Unidos acusaram Ashe de fraude fiscal – principalmente por não incluir esse dinheiro em suas declarações de impostos anuais – o que poderia lhe custar multas e penas de prisão.

“À luz das recentes acusações anunciadas pelas autoridades federais dos Estados Unidos, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pede que o Escritório de Serviços de Supervisão Interna faça uma auditoria da interação entre as Nações Unidas, a Global Sustainability Foundation e Sun Kian Ip Group, e do uso dado aos fundos recebidos dessas entidades”, informou aos jornalistas o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, no dia 8 deste mês.

Dujarric acrescentou que “o secretário-geral se preocupa com a gravidade das acusações, que dizem respeito ao centro do trabalho da ONU e de seus Estados membros”. Ban Ki-moon se comprometeu a garantir que os fundos recebidos dessas entidades privadas sejam manejados corretamente segundo as normas e os regulamentos pertinentes às Nações Unidas, destacou.

Anteriormente, a ONU havia indicado que não tinha o poder ou o mandato “para investigar pessoas individualmente ou entidades que não fossem consideradas partes do pessoal ou do entorno oficial” da organização. O presidente da Assembleia Geral é eleito anualmente pelos Estados membros e não é considerado um funcionário da ONU, nem está na relação da mesma.

Os fundos chineses também estavam destinados a um centro de conferências da ONU na antiga colônia portuguesa de Macau, atualmente sob jurisdição administrativa da China e sede da Global Sustainability Foundation. Em agosto, Ng, um magnata de bens de raiz, organizou uma conferência em Macau com participação de vários funcionários e diplomatas das Nações Unidas.

Segundo as denúncias, Ashe teria recebido um pagamento para promover os interesses comerciais de Ng no Caribe, especificamente em Antiga e Barbuda. Os US$ 1,5 milhão doados à OSSC teriam sido usados para financiar várias conferências e mesas-redondas da ONU, além de uma próxima conferência do Grupo dos 77, integrado por 134 países em desenvolvimento. Perguntado se o dinheiro será devolvido se forem confirmados o suborno e a corrupção, Dujarric respondeu que a decisão cabe ao OSSC.

Em termos de protocolo, quem é considerado como chefe de Estado em todas as conferências internacionais é o presidente da Assembleia Geral, e não o secretário-geral da ONU.

O procurador norte-americano Preet Bharara, que dirige as investigações, também acusou mais cinco pessoas, entre elas o embaixador da República Dominicana, Francis Lorenzo. “Perguntaremos se o suborno é habitual na ONU”, afirmou sarcasticamente aos meios de comunicação.

“Em primeiro lugar, a corrupção não é habitual na ONU”, se apressou em afirmar Dujarric na entrevista coletiva do dia 6. “Em segundo lugar, não fomos informados da investigação realizada pelo Escritório do Procurador dos Estados Unidos. Nosso Escritório de Assuntos Jurídicos e outros altos funcionários não sabiam do caso até sair na imprensa. Obviamente, se as autoridades competentes dos Estados Unidos nos contatarem, iremos cooperar com elas”, acrescentou.

Ao ser perguntado se poderia confirmar ou negar a existência de um documento da ONU relativo a um centro de conferências proposto em Macau, o porta-voz disse inicialmente que o fórum mundial não conseguira encontrar esse documento. Mas, posteriormente, esclareceu que foi encontrado o documento, que é a carta A/66/748, de um representante permanente junto ao secretariado-geral, pedindo que a fizesse circular como um documento oficial da Assembleia Geral.

O atual presidente da Assembleia Geral, o dinamarquês Mogens Lykketoft, afirmou aos jornalistas que a corrupção não tem lugar na ONU nem em qualquer parte. “Estou profundamente consternado pela notícia de hoje em relação ao presidente do 68º período de sessões da Assembleia Geral da ONU. Isso significa, como disse o secretário-geral esta manhã, que esse é um ataque muito duro à integridade” do fórum mundial, declarou no dia 6 deste mês.

Lykketoft assegurou que as autoridades norte-americanas não se comunicaram com ele, nem com seu escritório. “Naturalmente, estamos dispostos a colaborar com todos os interessados, segundo seja necessário. Creio que a ONU e seus representantes devem manter os mais altos níveis de transparência e ética”, acrescentou. Envolverde/IPS