Canberra, Austrália, 30/3/2015 – Diante da devastação causada pelo ciclone Pam, que este mês atingiu quatro países insulares do Oceano Pacífico, entre eles Vanuatu, seus governantes reiteram a urgente necessidade de tomar medidas globais para alimentar o fundo para o clima, fundamental para construir a resiliência e frear os retrocessos em matéria de desenvolvimento.
O presidente das Ilhas Marshall, Christopher Loeak, afirmou que “os melhores cientistas do mundo e o que vemos diariamente nos dizem que, sem uma ação urgente e transformadora dos grandes contaminadores para reduzir as emissões e nos ajudar a construir resiliência, nos encaminhamos para um mundo de constantes catástrofes climáticas”.
Os progressos da comunidade internacional no cumprimento das promessas de financiamento também podem decidir o desenlace da 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), que acontecerá em Paris, em dezembro.
“É tranquilizador ver muitos países, entre eles alguns Estados em desenvolvimento muito generosos, avançarem em suas promessas de capitalizar o Fundo Verde para o Clima”, pontuou à IPS o ministro de Assuntos Exteriores das Ilhas Marshall, Tony de Brum.
“Mas precisamos saber como os governos planejam aumentar sua contribuição nos próximos anos para garantirmos que seja cumprida a promessa de Copenhague de reunir US$ 100 bilhões ao ano até 2020”, acrescentou o ministro se referindo à 15ª Conferência das Partes (COP 15) realizada na capital da Dinamarca. “Sem essa garantia será muito difícil o encontro de Paris ser um sucesso”, ressaltou.
Nas ilhas do Pacífico vivem cerca de dez milhões de pessoas em 22 Estados e territórios, 35% das quais vivem na pobreza. O impacto da mudança climática pode chegar a custar à região até 12,7% de seu produto interno bruto (PIB) até o final deste século, estima o Banco de Desenvolvimento Asiático.
A região responde por apenas 0,03% das emissões de gases-estufa, mas sofre as piores consequências do aquecimento global. As autoridades regionais denunciam a injustiça que sofrem os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (Peid) enfrentando as nações mais ricas, as maiores emissoras de dióxido de carbono, para que implantem políticas que limitem o aumento da temperatura global abaixo de dois graus centígrados.
Nas Ilhas Marshall, onde mais de 52 mil pessoas vivem em 34 pequenas ilhas e atóis na parte norte do Oceano Pacífico, a elevação do nível do mar e os desastres naturais colocam em risco as comunidades, concentradas principalmente nas áreas costeiras baixas.
“Os desastres climáticos do ano passado devoraram mais de 5% do PIB e o número continua aumentando. Trabalhamos para melhorar e incluir a adaptação em nosso planejamento nacional, mas as emergências continuam nos fazendo retroceder”, lamentou o chanceler das Ilhas Marshall. Esse país sofreu uma severa seca em 2013, e, no ano passado, também grandes ondas que alagaram as localidades costeiras e deixaram centenas de pessoas desabrigadas.
“Como outros pequenos países vulneráveis, temos enormes dificuldades de acesso aos grandes fundos multilaterais. O Fundo Verde para o Clima deve evitar os erros do passado e priorizar projetos que sejam benéficos para as comunidades locais”, insistiu Brum. As prioridades nas Ilhas Marshall incluem reforçar e restaurar a zona costeira, a infraestrutura resiliente ao clima e a proteção de suas fontes de água doce.
A ajuda bilateral também é importante, pois os Peid receberam o maior volume de assistência para a adaptação climática por pessoa dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), entre 2010 e 2011. A região recebeu 2% da assistência concedida à adaptação, que totalizou US$ 8,8 bilhões. Da ajuda da OCDE aos países insulares do Pacífico, 6% procedem da Austrália, e outros grandes contribuintes são Nova Zelândia, França, Estados Unidos e Japão.
Mas, em dezembro, o governo australiano anunciou uma importante redução em seu orçamento para a assistência estrangeira de US$ 3,7 bilhões para os próximos quatro anos, o que, provavelmente, terá impacto na ajuda climática à região. “Não precisamos de mais informes e estudos de viabilidade de consultorias. O que precisamos é construir nossa capacidade local para enfrentar a mudança climática e manter a capacidade aqui”, ressaltou Brum.
Na diminuta nação de Kiribati, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores expressou sua preocupação pela “limitada capacidade local”, um problema que “se atende mediante a provisão de assistência técnica por meio de consultores que vêm e vão sem capacitar nossa população de forma adequada”.
Kiribati, que compreende 33 atóis baixos, onde vivem cerca de 108 mil pessoas, poderia chegar a sofrer uma elevação do nível do mar de até 0,6 metro e um aumento da temperatura do ar de 2,9 graus centígrados até 2090, segundo o Programa de Ciência da Mudança Climática do Pacífico.
O país sofre ondas cada vez maiores a cada ano, mas mal pode dar conta da erosão costeira, com uma densidade populacional de 15 mil pessoas por quilômetro quadrado em algumas áreas. A ilha de Tarawa, onde fica a capital, tem cerca de 450 metros de largura sem possibilidades de mover os assentamentos terra adentro.
Como no longo prazo estão em risco as áreas habitadas, no futuro os fundos para o clima deverão atender o deslocamento de pessoas, afirmou a chancelaria de Kiribati. “O reassentamento obrigado pelo clima e a migração forçada são inevitáveis para Kiribati, e já está planejado. A assistência deve se concentrar nesse assunto, mas é deixado de lado por ser uma necessidade futura e há urgências mais visíveis e presentes”, acrescentou.
Com vistas à cúpula de Paris, onde deverá ser aprovado um novo tratado climático universal e vinculante, as autoridades das Ilhas Marshall acreditam que para conter o aquecimento global e todo o mundo sobreviva é necessário um trabalho de colaboração. “Se os fundos para o clima diminuírem no acordo de Paris, também diminuirá nossa resposta à mudança climática”, enfatizou Brum. Envolverde/IPS