Por Zhai Yun Tan, da IPS –
Washington, Estados Unidos, 3/7/2015 – Um senador e um destacado centro de investigação dos Estados Unidos querem que Washington aumente a ajuda ao Vietnã para limpar o agente laranja, um herbicida tóxico que esse país lançou sobre o território vietnamita durante a guerra entre ambos.
As forças armadas norte-americanas lançaram 72 milhões de litros de agente laranja e demais herbicidas e desfolhantes sobre 1,8 milhão de hectares de território vietnamita entre 1961 e 1970, o que destruiu milhões de hectares de selva, a fim de eliminar as fontes de cobertura e de alimentos da guerrilha da Frente Nacional de Libertação do Vietnã.
Calcula-se que cerca de 4,5 milhões de vietnamitas estiveram expostos ao agente laranja. A Cruz Vermelha do Vietnã estima que o tóxico afetou três milhões de pessoas, incluídas 150 mil crianças que nasceram com defeitos congênitos.
Dois terços do herbicida contêm dioxina. Segundo o Instituto Nacional de Ciências de Saúde Ambiental dos Estados Unidos, a dioxina é um composto que causa câncer e diabete, entre outras doenças. Um informe científico de 1969 também concluiu que o herbicida pode causar defeitos congênitos em animais de laboratório, o que fez os Estados Unidos pararem com o uso do agente laranja em 1970.
O senador Patrick Leahy, do Partido Democrata, lidera as gestões no Congresso norte-americano para compensar as vítimas vietnamitas da guerra que terminou em 1975. Leahy pediu que Washington faça mais nesse sentido, com o argumento de que a medida fortalecerá os laços entre os antigos inimigos, em declarações feitas no dia 23 de junho, no independente Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), com sede na capital norte-americana.
Suas declarações foram repetidas por Charles Bailey, ex-diretor do programa Agente Laranja no Vietnã, do Instituto Aspen, uma iniciativa lançada pelos Estados Unidos para remediar no Vietnã as consequências do herbicida na saúde e no ambiente. O embaixador vietnamita em Washington, Pham Quang Vinh, expressou sentimentos semelhantes, no CSIS.
O governo do Vietnã gasta US$ 45 milhões por ano para paliar os numerosos problemas provocados pelo agente laranja e outros herbicidas que foram usados pelas forças militares norte-americanas durante a guerra, informou o embaixador. “Podemos cumprir a meta de limpar a dioxina e o agente laranja até 2020, mas é muito difícil conseguir isso. Precisamos de mais ajuda”, ressaltou.
As vítimas do herbicida sofreram câncer, danos hepáticos, doenças cardíacas e graves transtornos dermatológicos e neurológicos. Os filhos e até netos das pessoas expostas ao agente laranja nasceram com deformidades, deficiências e enfermidades. Grandes extensões de florestas, incluindo o habitat de várias espécies, foram devastadas pelos desfolhantes.
Muitas dessas espécies ainda correm perigo de extinção. Em algumas áreas os rios foram envenenados e as fontes de água subterrânea contaminadas. A erosão e a desertificação provocadas pelos herbicidas transformaram os campos de cultivo em regiões estéreis.
Atualmente Washington financia suas operações de ajuda no Vietnã por intermédio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). Segundo Bailey, até agora foram destinados US$ 136 milhões para essa finalidade. Mas alguns analistas consideram que o governo norte-americano precisa fazer mais.
Merle Ratner, da Campanha de Socorro e Responsabilidade pelo Agente Laranja no Vietnã, com sede em Nova York, afirmou que apenas uma fração dessa ajuda chega às pessoas comuns. A maior parte é destinada às organizações não governamentais internacionais que são contratadas para fazer o trabalho, explicou. “Sugerimos que a ajuda vá diretamente para as ONGs do Vietnã, afinal, quem conhece melhor as pessoas do que suas próprias organizações? As pessoas devem participar das soluções do problema”, destacou.
A aproximação entre Estados Unidos e Vietnã se estreitou nos últimos tempos, sobretudo pela preocupação que ambos compartilham diante da exibição de poder de Pequim no Mar da China meridional, partes do qual são reclamadas pelo Vietnã, e também por Filipinas, Malásia e Taiwan.
“Quero que o agente laranja se transforme de símbolo de antagonismo em tema que os governos norte-americano e vietnamita possam trabalhar juntos”, afirmou Leahy. “Em um momento em que a China busca ampliar ativamente sua esfera de influência e os Estados Unidos começaram seu próprio reequilíbrio em relação à Ásia, esses programas da herança do Vietnã ganharam maior importância”, acrescentou.
O secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã, Nguyen Trong Phy, tem prevista uma visita aos Estados Unidos este ano, a primeira na história do chefe do partido governante vietnamita. A melhora nas relações ajudou a causa de Leahy. O senador encontrou muita resistência no começo da década passada, quando Washington se mostrava reticente em assumir a responsabilidade da destruição causada por suas forças armadas durante a guerra na qual morreram dois milhões de vietnamitas e cerca de 55 mil solados norte-americanos.
Por sua vez, Hanói deixou o assunto em segundo plano e se concentrou em conseguir o status comercial preferencial para suas exportações destinadas ao enorme mercado norte-americano. Os dois países restabeleceram as relações diplomáticas plenas em 1995, mas somente em 2002 os dois governos realizaram uma conferência conjunta sobre o impacto que tiveram o agente laranja e outros herbicidas no Vietnã e na sua população.
Em dezembro de 2014, o presidente Barack Obama promulgou a lei de Alocação correspondente ao exercício fiscal 2015, que destinou fundos à reabilitação das áreas contaminadas por dioxinas no Vietnã. Grande parte desse dinheiro foi destinada à limpeza da antiga e enorme base militar norte-americana em Da Nang, a 824 quilômetros de Hanói. A previsão é que o projeto termine em 2016.
Um estudo, realizado em 1994 pelo independente Instituto de Medicina dos Estados Unidos, assinala que um número considerável de veteranos do Vietnã teve filhos com deficiência. Porém, muitos ainda discutem a relação entre o agente laranja e os defeitos congênitos. É por isso que os combatentes da guerra do Vietnã não podem reclamar benefícios por esta causa nos Estados Unidos. Envolverde/IPS