Por Mbom Sixtus, da IPS –
Iaundé, Camarões, 5/8/2015 – O camaronês Joshua Konkankoh tinha a convicção de que a resposta para a insegurança alimentar estava em utilizar métodos de cultivo sustentáveis e orgânicos, uma tendência recente que vincula a atividade agrícola com práticas e costumes tradicionais. Por isso decidiu colocar mãos à obra. Deixou seu emprego como funcionário público para se converter em agricultor e concretizar suas ideias.
Para isso, Konkankoh fundou a organização Better World Cameroon, dedicada a desenvolver estratégias agrícolas sustentáveis em escala local com base em conhecimentos indígenas a fim de mitigar a crise alimentar e a extrema pobreza. Agora, esse agricultor promove a primeira, e até o momento a única, aldeia ecológica, a Ecoaldeia de Permacultura Ndanifor, em Bafut, na região noroeste de Camarões.
Konkankoh explicou à IPS que o solo é fertilizado de maneira orgânica, com plantio e poda de árvores que fixam o nitrogênio em propriedades com vários cultivos. Quando a árvore amadurece, é cortada pelo meio e suas folhas são usadas como compostagem. Depois o tronco se regenera e a operação é repetida.
“Aqui capacitamos os jovens na agricultura permanente, ou permacultura. Chamo de ‘permacultura à moda africana’, porque o conceito foi cunhado por cientistas e nós o adaptamos às nossas velhas práticas agrícolas e à proteção do ambiente”, explicou Konkankoh. O governo não tem participação, mas, segundo Konkankho, os conselhos locais e as autoridades tradicionais incentivam as pessoas a seguirem a iniciativa, que contempla os aspectos ecológico, social, econômico e espiritual.
“Estive ativo durante a Década de Educação para o Desenvolvimento Sustentável, das Nações Unidas. Ao estudar as razões pelas quais muitos países não conseguem cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) nos demos conta de alguns vazios, mas também vimos que a permacultura era uma solução para a sustentabilidade, especialmente na África”, pontuou o agricultor. “Senti que podia contextualizar o conceito, pensar de maneira global e atuar de forma local”, acrescentou.
A permacultura aplicada na ecoaldeia usa ao máximo as limitadas terras cultiváveis, e os moradores aprendem a plantar mais de um cultivo no mesmo terreno, a utilizar fertilizantes orgânicos comuns e a obter uma grande produção.
Os agricultores são incentivados a comercializar seus produtos e não a buscar ajuda, disse Konkankoh, para que tirem proveito de seus investimentos, bem como para evitar que os intermediários e as multinacionais lhes tirem uma parte importante de suas rendas. A agricultura orgânica praticada e ensinada na ecoaldeia é uma mescla entre a cultura local e iniciativas de comércio justo.
Konkankoh destacou que “incentivamos os agricultores a garantirem sua soberania alimentar produzindo o que eles mesmos vão consumir, e não apenas para atender a demanda do mercado, como cacau e café”. Segundo esse agricultor, foi um erro deixar fora dos ODM o princípio espiritual. “A biodiversidade estava protegida pelas crenças tradicionais. Cortar algumas árvores e matar certas espécies animais era proibido em algumas florestas. Estavam protegidos por deuses e ancestrais. Queremos proteger esse patrimônio”, insistiu.
A ecoaldeia também criou um projeto para replantar florestas espirituais com quatro mil árvores frutíferas e medicinais, em uma tentativa de reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2). Fon Abumbi II, chefe tradicional de Bafut, onde fica a ecoaldeia, acredita que o tipo de cultivo de frutas, verduras e plantas medicinais que se promove em Ndanifor vai melhorar a saúde da população local.
Abumbi II também está convencido de que, com tantas empresas no mundo dedicadas a produtos à base de ervas naturais, a demanda para a produção da ecoaldeia será alta, o que garantirá um futuro promissor para os que cultivam ali.
As casas da ecoaldeia são construídas com materiais locais, como terra, tijolos de barro e palha para os tetos. Os aparelhos domésticos, com fornos e fogões, são de barro e feitos à mão. Sonita Mbah Neh, administradora do centro de demonstração da ecoaldeia, destacou que os fogões de barro não servem apenas para reduzir o impacto da mudança climática, ao minimizar o uso de lenha para combustão, mas também permitem que as mulheres que os fabricam tenham renda.
Lanci Abel, prefeita de Bafut, disse à IPS que seu conselho municipal incentiva os cidadãos a adotarem a permacultura. “Quando aparece uma nova ideia a gente só a adota se as autoridades recomendam. Sensibilizamos a população sobre o retorno a métodos tradicionais de cultivo, como ensinam na ecoaldeia”, afirmou.
Abel também falou sobre o rendimento das bananeiras geneticamente modificadas, uma iniciativa implantada pelo Ministério da Agricultura no começo da temporada de 2015, na região sudoeste de Camarões, que só permitiu colher 30% do cultivado. O assunto chegou ao parlamento por meio do legislador Mbanya Bolevie, que perguntou ao ministro da Agricultura, Essimi Menye, sobre o fracasso das sementes modernas, durante uma sessão no mês de junho.
Julbert Konango, delegado da região de Litoral na Câmara da Agricultura, explicou que o fracasso da iniciativa se deveu ao fato de as sementes serem velhas “por falta de fundos para que existam organizações dedicadas à pesquisa agrícola em Camarões, bem como escassez de engenheiros no setor”. Esse é, a seu ver, um sinal de que o país não está preparado para uma agricultura de segunda geração.
Segundo Abel, esse problema não afetará as pessoas que usam sementes e adubos naturais. “Além da possibilidade de fracasso dos fertilizantes químicos, também há o problema de contaminarem o solo”. A ecoaldeia de Ndanifor, que procura se converter em um modelo para Camarões e a África ocidental, faz parte da Rede Global de Ecoaldeias. Envolverde/IPS