Clima

PMA quer apoio para mais vulneráveis ao clima

A casa do agricultor Bishop Mweene em Pemba, em Zâmbia. Foto: Friday Phiri/IPS
A casa do agricultor Bishop Mweene em Pemba, em Zâmbia. Foto: Friday Phiri/IPS

Por Friday Phiri, da IPS – 

Pemba, Zâmbia, 28/1/2016 – O Programa Mundial de Alimentos (PMA) pediu à comunidade internacional que apoie a expansão da tecnologia agrícola resistente às variações climáticas, agora que o fenômeno El Niño se manifesta nos países do sul da África com uma onda de calor.“Temos que nos organizar e não deixar que a situação, que ainda está em nível crítico, degenere para o desastre. Creio que existem oportunidades com técnicas climaticamente inteligentes comprovadas, como a agricultura de conservação”, afirmou a norte-americana Ertharin Cousin, diretora executiva do PMA, em sua recente visita a esse país, um dos maiores produtores de milho da região.

Chegou a hora de o mundo “dar o exemplo” com relação à adaptação à mudança climática, como acordado na 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), realizada em Paris no mês passado, destacou Cousin. “O que vi aqui em Zâmbia demonstra o que dizia na cúpula climática, que os mais atrasados são os mais vulneráveis, portanto, fazer com que sejam resistentes deve ser o objetivo final de todos nós. E me refiro à adaptação mediante tecnologias climáticas inteligentes e à diversidade dos cultivos”, acrescentou.

Embora o desafio seja enorme, a diretora do PMA pontuou que o futuro deve ser definido com a esperança posta nas coisas que funcionam para melhorar a resiliência dos pequenos produtores.Após destacar o caso de BishopMweene, um agricultor de conservação do distrito de Pemba, cuja colheita de milho sobreviveu a uma seca de 22 dias, Cousin disse acreditar que a agricultura climaticamente inteligente possa determinar o sucesso ou o fracasso no mundo atual.

Se o caso de Mweene“é um exemplo, então temos a solução em nossas mãos. Só o que precisamos é projetar essas tecnologias comprovadas para uma comunidade mais extensa, para que possam colher os benefícios como ele está fazendo”, ressaltou Cousin à IPS.Mweene, de 51 anos, construiu uma casa moderna,de tijolo com chapas de ferro, graças ao aumento da produtividade alcançada com a agricultura de conservação. Essa técnica consiste em um cultivo mínimo para garantir a umidade suficiente para a sobrevivência dos cultivos em períodos de seca severa.

Com o Projeto de Intensificação da Agricultura de Conservação (Casu), da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e do Ministério de Agricultura de Zâmbia, com apoio financeiro da União Europeia, e que agora integra um projeto de resiliência rural do PMA,mediante seguros por índice meteorológico, Mweene viu uma mudança positiva em seu nível de vida.“Antes desse programa, com frequência a escola mandava meus filhos de volta para casa por falta de pagamento da mensalidade, mas isso acabou. Com maior produtividade, ganho mais dinheiro e inclusive construí uma casa”, contou o agricultor, que tem 23 filhos e filhas, a maioria deles em zonas urbanas.

O coordenador agrícola da Província do Sul, Maxwell Choombe, apontou que a introdução de seguros para os pequenos agricultores poderia ser a chave para os jovens participarem ativamente da agricultura comercial. “Os jovens vêm a agricultura como um negócio arriscado, mas agora, com o seguro, podem se sentir atraídos”, disse.Stanley Ndhlovu, da Iniciativa de Resiliência Rural de Zâmbia (R4) do PMA, concordou e observou que o principal desafio é o risco maior associado com a agricultura que depende principalmente da chuva e sem a qual se garante o fracasso.

“A R4 se refere ao risco de desastres. Com o passar dos anos, nos demos conta de que o risco na agricultura de Zâmbia está em expansão especialmente com as alterações do clima, e isso está expulsando os jovens do setor, que tem muito potencial para tirá-los da pobreza”, afirmou.O funcionário explicou que a R4, implantada em 2015, tem a ver com desenvolver a transferência do risco, não só para mitigar os impactos climáticos como também para ajudar os agricultores a se adaptarem à mudança climática.

“A transferência do risco é basicamente um seguro, em nosso caso. Sabemos que existe o seguro tradicional, mas está fora do alcance dos pequenos produtores por ser muito caro e a maioria dos corretores considerarem que é muito arriscado apoiá-los. Assim, a intervenção do PMA se baseia no seguro por índice meteorológico, que assegura a falta de chuva e não a colheita”, explicou Ndhlovu.Para ele, o componente do seguro por índice meteorológico foi desenvolvido de tal maneira que utiliza informação via satélite para ativar um pagamento aos agricultores segundo a precipitação recebida, especialmente nos períodos críticos do calendário de chuvas.

Junto com créditos para apoiar o investimento e reservas ou economias para o risco, o PMA priorizou o índice meteorológico coma criação de uma estação meteorológica automática na comunidade e estações manuais que medem a chuva em áreas selecionadas, para que os agricultores tomem as decisões oportunas. Já são 500 agricultores assegurados por um valor superior a US$ 77 mil.“No último ano, vi os efeitos positivos do seguro para os pequenos produtores. Além da melhora de seu nível de vida, agora têm a confiança de obter crédito e creio que esse projeto é o melhor que poderia ter acontecido para os agricultores”, enfatizou Angela Mushasho, funcionária de extensão agrícola na área do projeto-piloto. Envolverde/IPS