Por Kenton X. Chance, da IPS –
Saint John’s, Antiga, 9/12/2015 – Verónica Yearwood já não entra em pânico quando ouve que o prognóstico para a próxima temporada seca nesta pequena ilha do Caribe indica que as precipitações estarão abaixo da média, pois é especialista em hidrologia no departamento de água da Autoridade de Serviços Públicos de Antiga.“Já superamos essa etapa. Entrávamos em pânico, mas já nos acostumamos à realidade de que a seca será realmente muito dura, não terminará amanhã,”explicou à IPS. “Decidimos buscar formas de mitigar os efeitos, usar o que temos de forma adequada”, acrescentou.
Antiga é uma ilha caribenha de 280 quilômetros quadrados, com 80 mil habitantes e que há dois anos sofre severa seca. As pessoas não acreditam, mesmo agora que veem a evidência física. “Toda área de captação da água de superfície está totalmente seca. Nossos aquíferos mostram uma queda no nível de água, e passamos de dessalinizar 60% da água usada para 90%”, apontouYearwood.
“Implantamos cronogramas de racionamento”, e algumas pessoas inclusive guardam água de chuva,pontuou a especialista,que há mais de 30 anos trabalha como hidróloga. “Os agricultores choram. Alguns que nunca tiveram água municipal, agora solicitam o serviço. Nunca viram uma situação tão má, e é a pior já vista”, confirmou. As perspectivas climáticas para a região nos próximos meses não são nada animadoras, especialmente para sua população.
No Fórum sobre Perspectiva Climática do Caribe (CariCOF), realizado nos dias 26 e 27 de novembro, antes da estação seca, que costuma o ocorrer de dezembro a maio, o prognóstico foi de que a região receberia menos chuva do que a média. CariCOF reúne meteorologistas, gerentes de recursos hídricos e outros atores do setor agrícola, entre outros profissionais.
“Para a próxima temporada seca esperamos temperaturas acima do normal em toda a região”, afirmou à IPS Elmo Burke, meteorologista da Autoridade de Aeroportos e Portos de São Cristóvão e Neves. que são esperadas precipitações abaixo da média em todas as ilhas do norte das Antilhas Menores até Trinidad, nas costas da América do Sul, acrescentou.
Porém, as nações caribenhas a oeste de Porto Rico podem receber chuvas superiores à média nos próximos três meses. “Mas, como se relaciona com as condições de seca regionais, a maioria da cadeia insular estará sob alerta”, destacou Burke. Algumas partes de Porto Rico ficarão nessa situação. Este ano, opaís recebeu 55% da média das precipitações.
“Em um momento em que na Federação de São Cristóvão e Neves prevíamos chuvas significativas, por outro lado enfrentamos uma crise hídrica por causa das precipitações inferiores à média”, afirmou à IPS Brenda Boncamper, secretária permanente do Ministério de Infraestrutura Pública. “Nosso departamento de serviços de água teve um ano muito difícil, uma realidade que não temos na Federação há mais de 30 anos”, acrescentou.
Burke alertou que “as pessoas experimentarão mais racionamento na estação seca. A agricultura também sofrerá o impacto, e inclusive poderá aumentar o custo de alguns alimentos devido à escassez ou à menor produção”.Toda a região sofre a seca, incluindo Dominica, onde em agosto o ciclone tropical Erika deixou danos e causou perdas de 95% do produto interno bruto, segundo estimativas oficiais.
“Claramente se vê a mudança climática em ação com seus eventos extremos. Só podemos esperar mais desse tipo de clima em 2016”, observouBoncamper à IPS.“A mudança climática é real chegou para ficar e não irá embora”, destacou Lester Arnold, coordenador do projeto Redução de Riscos para os Recursos Humanos e Naturais Derivados da Mudança Climática (RRACC), da Organização de Estados do Caribe Oriental (OECO).
“A variabilidade climática também cria algum caos em determinados Estados insulares, como vimos este ano com a seca”, afirmou Arnold à IPS. “Esta é a segunda vez na história que a represa Potworks em Antiga (a maior da ilha) ficou seca. Também registramos a maior temperatura dos últimos 50 anos. Definitivamente, posso afirmar que a variabilidade climática causa problemas”, ressaltou.
Os negociadores e governantes caribenhos se basearão em experiências da vida real, como as de Antiga, São Cristóvão e Dominica, para pressionar a comunidade internacional a chegar a um acordo na 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), que terminará no dia 11, em Paris, a fim de evitar uma elevação da temperatura maior do que 1,5 grau Celsius.
Numerosos especialistas coincidem que, para evitar as consequências mais catastróficas do aquecimento global, deve-se evitar uma elevação da temperatura média do planeta maior do que dois graus em relação aos níveis registrados na época pré-industrial.
O primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, opinou que o acordo que surgir da COP 21 não poderá ser “algo que os Estados possam escolher”. E ressaltou que “não é discricional, mas vinculante”, e que o acordo deve incluir “dinheiro obrigatório para a adaptação e mitigação da mudança climática”. Para ele, “os objetivos fixados deverão ser legalmente vinculantes e contar com mecanismo de verificação”.
Gonsalves deverá enfrentar as eleições gerais hoje em seu país, mas como as negociações climáticas são tão importantes para seu país e a região, se for reeleito viajará amanhã, dia 10, para a capital francesa, um dia antes do encerramento da COP 21.Qualquer que seja o resultado das negociações em Paris, que segundo os governantes caribenhos são muito importantes para fracassarem, os meteorologistas estimam que haverá mais dias secos para a região.
“Sempre tivemos secas, e as pesquisas mostram que sempre ocorreram em um determinado momento. Mas agora são severas e vêm em um intervalo menor do que estávamos acostumados, digamos desde a década de 1950 até agora”, enfatizouYearwood à IPS. Envolverde/IPS