Internacional

Prospera a pesca climaticamente inteligente no Caribe

Vendedores em um mercado de pescado em Belize. Foto: Cortesia do Departamento de Pesca da cidade de Belize
Vendedores em um mercado de pescado em Belize. Foto: Cortesia do Departamento de Pesca da cidade de Belize

 

Kingston, Jamaica, 23/3/2015 – Os países do Caribe começaram a trabalhar em um plano para praticar uma pesca climaticamente inteligente dentro de seus esforços para garantir a segurança alimentar. O conceito, seguindo os planos do Centro Técnico para a Cooperação Agrícola e Rural (CTA), se refere à melhoria da “integração entre a agricultura e a preparação”, na medida em que a região se prepara para lidar com os impactos da mudança climática e a crescente demanda por alimentos.

Olu Ajayi, coordenador de programa do CTA, afirmou à IPS, por e-mail, que preparar os recursos aquáticos para fazer um uso climaticamente inteligente “permitirá que o setor continue contribuindo para o desenvolvimento sustentável, ao mesmo tempo em que se reduz a vulnerabilidade associada aos impactos negativos da mudança climática”. E acrescentou que “a pesca climaticamente inteligente exige melhorar a eficiência no uso dos recursos naturais para produzir pescados, manter a resiliência dos sistemas aquáticos e das comunidades que deles dependem”.

A pesca na Comunidade do Caribe (Caricom) é uma importante fonte de renda para cerca de 182 mil pessoas. Nos últimos anos, pescadores da região denunciam uma queda na captura de peixes, e os cientistas acreditam que é um sinal dos tempos, não apenas o resultado da superexploração e da degradação de seu habitat.

“Acreditamos que a mudança climática já afeta nosso vital setor pesqueiro com o aumento de algas, que impedem o acesso a zonas de pesca, e da frequência do embranquecimento de corais”, apontou Peter A. Murray, gerente de programa da secretaria do Mecanismo de Pesca Regional do Caribe (CRFM), a organização da Caricom encarregada de promover um uso responsável dessa atividade.

Também se prevê que a mudança climática tenha impacto nas espécies tradicionais e contribua para a erosão costeira devido ao aumento da frequência de furacões mais devastadores, acrescentou Murray. Dentro da Semana da Agricultura do Caribe, realizada em novembro de 2014, a subdiretora-executiva da secretaria, Susan Singh Renton, declarou à imprensa que o aumento da temperatura no mar poderia empurrar as espécies maiores para o norte, o que diminuiria as possibilidades de captura na região.

Duas semanas depois de lançar o projeto Agricultura Climaticamente Inteligente por ocasião da 13ª Semana da Agricultura, que aconteceu em Paramaribo, no Suriname, o CTA começou a desenvolver várias iniciativas. O projeto está vinculado ao anúncio de uma Política de Pesca Comum à Caricom e do Plano de Ação para a Mudança Climática do CRFM, duas iniciativas das organizações para monitorar e regular a captura, bem como para implantar objetivos e normas comuns sobre adaptação, gestão e conservação de recursos.

Ajayi pontuou que, desde 2010, o CTA trabalha com agências regionais, como o Centro para a Mudança Climática da Caricom e o CRFM, para implantar o Marco Regional para o Desenvolvimento Regional de Resiliência à Mudança Climática a tempo, porque algumas das espécies mais pescadas e vendidas pelos pescadores da região já sofrem a pressão da superexploração, da degradação de seus habitats e da contaminação.

“O apoio procura criar políticas regionais comuns e defender iniciativas políticas em fóruns regionais e globais, fortalecer as capacidades nacionais mediante capacitação e outras formas de ajuda, bem como realizar análise comparativa de diferentes assuntos sobre uma base regional e sub-regional”, explicou Ajayi.

O responsável técnico da Divisão de Mudança Climática da Jamaica, Orville Grey, afirmou que, “devido às projeções, esperamos perder todos os nossos corais. Para nós, no Caribe, os arrecifes são importantes, não de um ponto de vista turístico, mas como modo de subsistência quando se considera a pesca”.

Murray ressaltou que, como os recursos marinhos são compartilhados, é importante que a Caricom trabalhe em conjunto para implantar acordos e políticas de apoio. Também há esforços para empoderar os pescadores para que possam ter acesso e compartilhar informação que lhes permita participar do desenvolvimento de políticas em escala local e regional.

Mitchell Lay, coordenador da Rede de Organizações de Pescadores do Caribe, afirmou que o conceito de climaticamente inteligente já está na agenda do grupo para este ano. Os governos e as organizações aumentaram suas atividades para proteger os recursos. Mas, enquanto os primeiros atuam com lentidão, em escala local e regional, os ambientalistas redobraram a aposta buscando proteger várias espécies.

Há dois anos, a organização WildEarth Guardian, com sede nos Estados Unidos, pediu a inclusão da concha-rainha (Lobatus gigas) na lista de espécies ameaçadas e em perigo no contexto da legislação norte-americana. Entretanto, para muitos países caribenhos que dependem economicamente de espécies como essa, a capacidade de vendê-las é fundamental para as economias locais.

No dia 3 de novembro de 2014, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica lhes negou o pedido, mas muitos especialistas acreditam que resta pouco tempo para o comércio regional dessa e de outras espécies, especialmente na medida em que aumentam os efeitos da mudança climática.

“O Plano de Ação do CRFM busca trabalhar para uma sociedade e economia regional resilientes à mudança climática e melhorá-las graças à gestão de desastres e ao uso sustentável dos recursos aquáticos”, destacou Murray. Também citou cinco objetivos do plano, entre eles ações para colocar a adaptação à mudança climática na agenda de desenvolvimento sustentável dos Estados membros e promover ações para reduzir os gases-estufa e o uso de fontes de energias limpas e renováveis, embora historicamente a região atue com lentidão na hora de aprovar leis.

Para o sucesso das práticas climaticamente inteligentes, é essencial a participação dos pescadores, que são os beneficiários dos programas patrocinados pelo CTA destinados a ajudá-los a terem acesso à informação, a serem mais eficientes e a permitir que participem do desenvolvimento de políticas em escala local e regional. Os próximos passos dependerão da implantação de políticas relevantes e necessárias e do fortalecimento das leis. Até então, os pescadores e as instituições que os apoiam continuarão esperando. Envolverde/IPS