Internacional

Quênia já utiliza energia geotérmica

Cinco bocas de poços geotérmicos em Olkaria, no Vale do Rift no Quênia. Foto: Isaiah Esipisu/IPS
Cinco bocas de poços geotérmicos em Olkaria, no Vale do Rift no Quênia. Foto: Isaiah Esipisu/IPS

Por Isaiah Esipisu, da IPS – 

Olkaria, Quênia, 22/10/2015 – O Quênia se converteu no primeiro país do mundo a usar bocas temporárias de poços geotérmicos, que fornecem 56 megawatts (MW) adicionais à rede nacional de energia. Segundo o engenheiro da empresa nacional de energia elétrica, a Kenya Electricity Generation Company (KenGen), a construção de uma usina geotérmica exige vários anos, porque funciona com o vapor de vários poços, que costumam ser perfurados e ficar abertos durante anos, à espera do final da construção da usina principal.

“Aproveitamos esses poços individuais para gerar energia mediante o vapor, que de outro modo seria desperdiçado enquanto se constrói a usina principal”, explicou Johnson Ndege, engenheiro encarregado das bocas de poços na KenGen. A energia geotérmica é gerada quando se utiliza o vapor extremamente quente da crosta terrestre para fazer girar as turbinas dos geradores de energia. O vapor é expulso através de poços perfurados na terra, que em determinadas ocasiões chegam a ter mais de três quilômetros de profundidade.

Idealmente, as bocas de poços têm a forma de uma usina de energia geotérmnica normal, mas em uma versão menor. Enquanto a usina de energia funciona com o vapor de dezenas de poços, a boca de poço utiliza o vapor de um único poço. Uma vez que a unidade principal esteja construída, as bocas de poço são retiradas e trasladadas para outras estações, já que o vapor pode ser canalizado para a unidade central.

“A técnica de boca de poço foi só uma experiência, e resultou ser uma maneira muito boa de gerar energia a partir dos poços que, de outra maneira, teriam permanecido ociosos durante anos”, afirmou Ndege. Desta forma, o Quênia é o primeiro país do mundo a gerar energia geotérmica diretamente de bocas de poço.

Até o momento, a KenGen instalou 11 bocas de poço, que fornecem 56,1 MW à produção de energia do Quênia, enquanto constrói a sexta e a sétima unidades de energia geotérmica na localidade austral de Olkaria, na região do Vale do Rift, que estarão prontas em 2018. A empresa tem quatro bocas de poço em construção, que nos próximos meses chegarão a produzir 20 MW de energia, segundo especialistas.

O investimento na geração de energia geotérmica mudou a tendência do mercado energético no Quênia, que até 2014 era importador de eletricidade de Uganda e agora já exporta energia para esse país vizinho. “Não queremos deixar nada ao acaso, por isso começamos a gerar energia com as bocas de poços enquanto continuamos desenvolvendo cada vez mais usinas geotérmicas”, afirmou Albert Mugo, diretor-geral da KenGen. Assim, este país se converteu no oitavo maior provedor mundial de energia geotérmica, com capacidade total instalada de 585 MW, o que equivale a 5% da produção mundial, segundo o Conselho de Recursos Geotérmicos.

Mugo assegurou que esse tipo de energia superou a hidrelétrica no Quênia, já que as usinas de Olkaria IV e V têm capacidade combinada de 280 MW. Ambas foram inauguradas pelo presidente Uhuru Kenyatta, em outubro do ano passado. Atualmente, a energia geotérmica representa 51% da rede do Quênia, enquanto a hidrelétrica, que foi a principal fonte até poucos meses atrás, caiu para 40%. A energia solar e a eólica cobrem os restantes 9%.

“A melhor coisa é que as usinas geotérmicas muitas vezes chegam a mais de 90% de eficiência, o que é muito melhor do que as fontes hidrelétricas, que operam com 70% de eficiência na melhor”, destacou Mugo. A outra vantagem é que a geração de energia geotérmica não é afetada pelas condições climáticas e não polui o ambiente. “É energia limpa”, enfatizou o engenheiro. Mas o país não pode abandonar totalmente a eletricidade gerada a diesel, devido à crescente demanda, aos casos de emergência e à manutenção da rotina de outras centrais elétricas, esclareceu.

“Faremos o possível para apoiar os esforços voltados ao aproveitamento das energias renováveis como uma forma de adaptação e mitigação dos impactos da mudança climática”, ressaltou Wilbur Ottichilo, legislador e fundador da Rede Parlamentar sobre Energias Renováveis e Mudança Climática.

Segundo o Ministério de Petróleo e Energia, a zona do Vale do Rift no Quênia tem por si só um potencial estimado em mais de 10 mil MW de eletricidade a partir de fontes geotérmicas. “Até 2018, prevemos desenvolver outros 460 MW de energia geotérmica”, disse Mugo à IPS. Se isso for conseguido, o volume de energia gerada a partir da hidrelétrica poderia diminuir cerca de 28% na matriz total. Envolverde/IPS