Internacional

Sudão do Sul lidera Índice de Estados Frágeis

Cadetes da polícia do Sudão do Sul prestam juramento durante a cerimônia de formatura, em 17 de setembro de 2012. Foto: Isaac Billy Gedeón Lu’b/ONU
Cadetes da polícia do Sudão do Sul prestam juramento durante a cerimônia de formatura, em 17 de setembro de 2012. Foto: Isaac Billy Gedeón Lu’b/ONU

Por Beatrice Paez, da IPS – 

Saint John, Canadá, 29/7/2015 – Pelo segundo ano consecutivo, o Sudão do Sul ocupa o primeiro lugar na lista dos países mais frágeis do mundo, em razão da guerra civil que obrigou mais de dois milhões, de seus 11,5 milhões, de habitantes a abandonarem suas casas. Fatos que despertaram o interesse dos meios de comunicação em 2014 geraram grande parte do movimento, para o bem ou para o mal, dos países no Índice de Estados Frágeis (FSI).

O informe é publicado anualmente, desde 2005, pela revista Foreign Policy e pelo centro de pesquisa Fundo para a Paz (FFP), ambos com sede nos Estados Unidos, e analisa o progresso de 178 países em sua última edição, divulgada em junho.

A região da África subsaariana lidera a lista, com sete de seus países entre os dez mais frágeis do Índice. O avanço do grupo extremista Estado Islâmico influiu para que Iraque, Líbia, Síria e Iêmen façam parte da dezena de Estados cuja situação se agravou mais no último ano.

Cuba se destacou como o país que melhorou mais na última década, devido ao degelo de suas relações com os Estados Unidos e a gradual abertura de sua economia ao investimento estrangeiro. Embora as tendências sugiram que o Estado caribenho está no caminho para melhorar sua situação, ainda resta o desafio do acesso de sua população aos serviços públicos e a defesa dos direitos humanos.

Para medir a fragilidade de um Estado, o Índice considera 12 indicadores sociais, econômicos e políticos para determinar como as guerras, os acordos de paz, as calamidades ambientais e os movimentos políticos contribuem com sua estabilidade ou instabilidade. Entre esses indicadores estão a legitimidade do Estado, as pressões demográficas, o desempenho da economia, a intervenção de atores estatais ou não estatais, a prestação de serviços públicos e o deslocamento da população.

A cada indicador é atribuído o mesmo peso e os países recebem uma pontuação numérica que vai de um a dez, na qual um equivale ao melhor rendimento e dez ao pior. As autoridades podem utilizar o índice para preparar suas perguntas em pesquisas a fim de ajudar a definir a assistência humanitária. “Na parte superior do Índice, os países tendem a se deslocar minimamente, mas no centro tende-se a ver muito mais movimento. Em parte isso se deve ao fato de a fragilidade engendrar fragilidade e a estabilidade engendrar estabilidade”, afirmou Nate Haken, do FFP.

Entretanto, o informe diz que há casos que desafiam a categorização, como o da Nigéria, cujos indicadores políticos, sociais e econômicos indicariam um país à beira do conflito. “Para mim, a Nigéria foi uma das histórias mais interessantes do ano. Todos os indicadores mostraram pressões intensas em todas as frentes. Os preços do petróleo baixaram, houve mais assassinatos no ano passado”, apontou Haken à IPS. Mas, em uma virada inesperada, a oposição política liderada por Muhammadu Buhari surgiu como uma ameaça crível para o então presidente Goodluck Jonathan, a quem finalmente venceu, nas eleições de março de 2015.

Haken afirmou que muitos esperavam que o resultado eleitoral, independente de quem ganhasse, polarizaria o norte contra o sul do país. “Creio que a maioria dos observadores pensava que isso estava destinado a ser um desastre. Todas as medições empíricas mostravam um alto grau de risco e, no entanto, as pessoas foram capazes de se manifestar seriamente em níveis nacional e local”, acrescentou.

Geórgia e Portugal, junto com Cuba, são os países com maiores melhoras devido aos seus avanços econômicos. Embora alguns países permaneçam no mesmo lugar, um olhar mais atento pode ser revelador, pontuou Haken. Ano após ano, a pontuação dos Estados Unidos, que figura em 158º lugar, se mantém igual, mas as tensões entre grupos raciais e sociais aumentaram desde 2007, especialmente em relação à imigração de crianças da América Central e aos protestos contra o suposto racismo policial.

Longe de ser uma ferramenta de previsão, o Índice funciona como um diagnóstico para que as autoridades que trabalham com direitos humanos e desenvolvimento econômico identifiquem as áreas de prioridade, explicou Haken. Além disso, serve para chamar a atenção sobre aqueles países que ocupam um lugar marginal no interesse da comunidade internacional.

No caso da crise provocada pelo vírus ebola na África ocidental, países como Guiné, Libéria e Serra Leoa não receberam muitas manchetes, mas o “efeito dominó em toda a região” também repercutiu na comunidade internacional, já que o mundo reagiu para conter o foco, segundo Haken. As pressões demográficas, a forte migração da área rural para a urbana, junto com a deficiência da infraestrutura viária ajudaram a propagar a enfermidade.

“Uma coisa que surgiu do Índice é a importância que tem a infraestrutura para a segurança humana sustentável”, afirmou Haken. “Uma vez que o ebola começou a se espalhar, houve dificuldades para que o pessoal médico e os suprimentos chegassem às zonas rurais”, acrescentou.

Segundo o informe, essa crise regional, em particular, serviu para lembrar que as nações “pós-conflito no caminho da recuperação” ainda sofrem vulnerabilidades. Até 2014, o Índice se referia a países “falidos”, mas desde então emprega o termo “frágil”, como forma de reconhecer que, em alguns casos, as pressões que um Estado recebe podem transcender seu controle, explicou Haken. Como exemplo, mencionou as crises de refugiados nas quais governos, preparados ou não, recebem uma grande quantidade de pessoas. Envolverde/IPS