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Terramérica - El Salvador restaura sua biodiversidade

Guardas florestais do Ministério do Meio Ambiente percorrem um dos canais que abrem passagem na floresta do mangue de Barra de Santiago, na costa do departamento de Ahuachapán, no oeste de El Salvador. Foto: Edgardo Ayala/IPS
Guardas florestais do Ministério do Meio Ambiente percorrem um dos canais que abrem passagem na floresta do mangue de Barra de Santiago, na costa do departamento de Ahuachapán, no oeste de El Salvador. Foto: Edgardo Ayala/IPS

Barra de Santiago, El Salvador, 3 de novembro de 2014 (Terramérica).- Carlos Menjívar, piloto de lancha que há 20 anos transporta pessoas neste povoado costeiro do oeste de El Salvador, rodeado por mar, mangues e charcos, sofre os efeitos da degradação ambiental da área. O assoreamento do principal canal que leva ao povoado afetou sua renda, porque a mistura de obstrução e acúmulo de sedimentos diminuiu a sua profundidade e em certas ocasiões fica inavegável.

“Antes, este canal era fundo, mas agora não. No fundo está todo o lodo que vem de cima, das zonas altas, e às vezes não podemos trabalhar”, contou Menjívar ao Terramérica, em seu barco ancorado no embarcadouro do povoado. A Barra de Santiago, com três mil habitantes, localizado no departamento de Ahuachapán e cerca de 98 quilômetros a oeste de São Salvador, pode-se chegar de carro por um caminho de terra, mas alguns turistas preferem fazê-lo em lancha através do charco, rodeado por exuberante floresta de mangue.

Apesar de sua beleza, o mangue corre risco de secar em alguns trechos, porque o assoreamento impede a necessária irrigação de água salobra. No mangue de Barra de Santiago, de 20 quilômetros quadrados, existem 256 espécies de animais, boa parte deles em perigo de extinção, afirmou José Antonio Villedas, chefe dos guardas florestais do lugar. Os efeitos econômicos já golpeiam os moradores do local, “pois 99% dos homens se dedicam à pesca”, explicou ao Terramérica, embora também tenha crescido há dois anos o turismo ecológico, vinculado ao mangue.

“A perda de profundidade do charco afetou a pesca e a extração de moluscos, porque estamos perdendo o ecossistema”, apontou Villedas. A sedimentação do charco é um dos problemas ambientais que esta região costeira enfrenta, e está conectado com a degradação do ecossistema na zona norte do departamento, afetada pela erosão e pelo avanço da agricultura não sustentável.

Por isso, organizações locais e o Ministério de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Marn) iniciaram um plano com o qual pretendem atender o problema integralmente. O Programa de Restauração de Ecossistemas e Paisagens (Prep) busca restabelecer ecossistemas, como florestas e mangues, e preservar a biodiversidade, o que seus promotores definem como “um ambicioso esforço nacional para adaptar-se à mudança climática”, cujos impactos são cada vez mais notórios nesse pequeno país de 6,2 milhões de habitantes.

Um exemplo das alterações climáticas ocorreram este ano. Em julho, em plena estação de chuvas, El Salvador sofreu uma grave seca que causou prejuízo de US$ 70 milhões à agricultura, segundo dados oficiais, sobretudo na produção de milho e feijão, básicos na dieta salvadorenha. Em outubro, o problema não foi a falta, mas o excesso de água. Chuvas moderadas mas constantes provocaram inundações e deslizamentos de terra em várias regiões do país, deixando três mortos e residentes de várias comunidades deslocados.

O enfoque do Prep é atender a problemática por regiões e atualmente se concentra na Microrregião Ahuachapán Sul, de 592 quilômetros quadrados e 98 mil habitantes. A região compreende quatro municípios do departamento: San Francisco Menéndez, Guaymango, San Pedro Puxtla e Jujutla, ao qual pertence Barra de Santiago. Isso permite atender os problemas ambientais da costa, mas conectando-os com o que ocorre nas terras do norte de Ahuachapán.

Muito da contaminação dos mangues provém do uso extensivo de agroquímicos nos cultivos de milho e feijão, nas zonas médias, e nos cafezais, nas altas. O uso inadequado do solo dedicado à agricultura produz a erosão que arrasta os contaminantes para os rios, os quais, por sua vez, os levam para a costa. “No mangue de Barra desembocam 12 rios, e toda essa contaminação vem para nós na parte baixa”, explicou Villedas.

Mas as comunidades não ficam de braços cruzados. Há vários anos trabalham ali organizações comunitárias que buscam criar consciência entre a população sobre a importância de preservar o ambiente e já manejam projetos de conservação.

O piloto de lancha Carlos Menjívar, à margem do charco da Barra de Santiago, na costa do Oceano Pacífico de El Salvador, lamenta que devido à sedimentação nos canais pelos quais navega com sua embarcação La Princesa estes já não sejam tão fundos como antes. Foto: Edgardo Ayala/IPS
O piloto de lancha Carlos Menjívar, à margem do charco da Barra de Santiago, na costa do Oceano Pacífico de El Salvador, lamenta que devido à sedimentação nos canais pelos quais navega com sua embarcação La Princesa estes já não sejam tão fundos como antes. Foto: Edgardo Ayala/IPS

Rosa Lobato, diretora da Associação de Desenvolvimento das Mulheres de Barra de Santiago (Ambas), explicou ao Terramérica que atualmente trabalham com um programa do Marn para aproveitamento sustentável do mangue para madeira, pelo qual para cada unidade extraída se planta 200 árvores dessa espécie. Também cuidam da conservação da tartaruga marinha e montaram um criadouro de caranguejo azul. “Procuramos conscientizar as pessoas sobre a importância de não atentar contra nosso entorno natural”, afirmou.

Barra de Santiago se converteu em julho no sétimo sítio Ramsar de El Salvador e o primeiro costeiro, dentro da Convenção Internacional sobre Mangues de Importância Internacional, em um reconhecimento que compromete as autoridades a intensificarem sua conservação. Esses esforços se integram com os realizados no vizinho Parque Nacional El Impossible, uma das florestas tropicais mais importantes deste país.

El Impossible, de 50 quilômetros quadrados, conserva a maior densidade de flora e fauna de El Salvador, segundo a fundação ecológica Salvanatura. Abriga 500 espécies de borboletas, 13 de peixes, 19 de lagartixas e 244 de serpentes, além de 984 de plantas, 400 de árvores, 279 de aves e cem de mamíferos.

Nas áreas de altura intermediária de Ahuachapán se desenvolvem de forma piloto pequenas parcelas agrícolas com um enfoque de produção ambientalmente amigável, que não envolve a queima da terra, o método tradicional dos camponeses prepararem a terra para semear. Além disso, estão sendo aproveitados resíduos, restos de galhos e folhas que sobram das colheitas, para evitar a erosão dos solos e que o sedimento desça até a costa.

Nas zonas altas, onde predominam os cultivos de café, também há esforços para que as propriedades utilizem a menor quantidade possível de agroquímicos até que paulatinamente deixem de utilizá-los completamente. “Está claro que não podemos continuar fazendo as coisas como fazemos, já não podemos seguir carregando essa degradação ambiental e nem o impacto que estamos tendo na mudança climática”, ressaltou a ministra de Meio Ambiente, Lina Pohl, aos jornalistas que a acompanharam em uma visita à área, entre eles o do Terramérica.

O Prep terá duração de três anos e conta com US$ 2 milhões de financiamento da Agência Alemã de Cooperação. Na microrregião de Ahuachapán, que é parte do projeto, se pretende restaurar 280 quilômetros quadrados de florestas e mangues nesse período, mas a meta de longo prazo é alcançar dez mil quilômetros quadrados. Envolverde/Terramérica

* O autor é correspondente da IPS.

 

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Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.