Montevidéu, Uruguai, 24 de março de 2014 (Terramérica).- Substituir pouco a pouco o petróleo pela energia elétrica no transporte público é a aposta do Uruguai, que atualmente avalia o rendimento e os custos de incorporar essa tecnologia. Os testes mostram que o ônibus elétrico pode reduzir entre seis e oito vezes o custo de funcionamento de um modelo a diesel.
No final de 2013, foram feitas provas de rendimento e autonomia de um automóvel modelo E6 e de um ônibus K9 da empresa chinesa BYD. E no dia 13 deste mês os resultados foram divulgados. A análise econômica do rendimento dos veículos elétricos, realizada pela prefeitura de Montevidéu, deu resultados positivos. Mas alerta-se que é preciso projetar mecanismos para enfrentar o investimento inicial e redefinir o alcance de subsídios e impostos.
O benefício econômico geral de um ônibus elétrico é de 1,7 ponto frente a um motor a diesel, segundo esse estudo que levou em conta custos de aquisição, manutenção e funcionamento dos diferentes tipos de veículos no atual cenário fiscal e de subsídios. Nos táxis, a diferença é de 1,8 para um entre os elétricos e os movidos à gasolina, e de 1,4 para um com relação aos que usam diesel.
Quanto ao gasto energético, é seis vezes menor no motor elétrico com relação ao diesel. Mas 65% do gasto dos ônibus com este combustível fóssil é subsidiado pelo Estado, por isso para os empresários não é rentável mudar para a eletricidade, se não forem modificados os subsídios.
A iniciativa faz parte da política energética uruguaia, que pretende que, a partir do próximo ano, metade de sua matriz energética seja composta por fontes renováveis, com grande presença da eólica. O Grupo Mobilidade Elétrica, integrado por vários organismos nacionais e da prefeitura da capital, trabalha desde 2012 para implantar essa tecnologia, que permite, por exemplo, zero emissão de gases-estufa.
Esses veículos funcionam com um banco de baterias de lítio e fosfato de ferro, uma tecnologia biodegradável que não inclui metais pesados. O carro e o ônibus têm autonomia de 300 e 250 quilômetros por carga, respectivamente. São carregados em uma rede elétrica que deve ter potência de dez quilowatts/hora, quando a das casas uruguaias oscila entre dois e seis quilowatts/hora.
O preço é cinco vezes superior ao dos veículos movidos a combustíveis fósseis no Uruguai. Um ônibus custa US$ 500 mil e um carro US$ 60 mil, mas os gastos de funcionamento e manutenção representam apenas 10% dos com motor a diesel.
O diretor nacional de Energia, Ramón Méndez, explicou ao Terramérica que uma carga completa da bateria de um automóvel, com tarifa padrão uruguaia, custaria cerca de US$ 10. Além disso, acrescentou, o país poderia assumir o consumo energético, porque em 2015 se converterá em exportador de energia. Desde 2005, o “Uruguai está instalando tanta quantidade de geração elétrica nova quanto foi feito nos cem anos anteriores da história elétrica de nosso país”, destacou.
O transporte absorve um terço da energia que se consome. “Anualmente, são gastos mais de US$ 2 bilhões em combustível”, afirmou Méndez. Por isso, o que se fizer “no setor poderá significar centenas de milhões de dólares de economia a cada ano para o país”, acrescentou, ressaltando que “o veículo elétrico é o caminho para onde o mundo em geral, e o Uruguai em particular, irão”.
Com veículos elétricos, o transporte, que agora depende de derivados de petróleo, passaria a funcionar a partir de fontes como eólica, biomassa e fotovoltaica. “Isso significa redução de custos e mais soberania”, destacou o chefe da Direção Nacional de Energia. Ele acrescentou que, “enquanto não encontrarmos petróleo em nosso país, em lugar de depender do que temos que importar a preço elevado e totalmente incerto, podemos ter a garantia de que instalamos mais parques eólicos e podemos também atender as necessidades do transporte”.
Mas são necessários ajustes. O Uruguai gasta US$ 100 milhões anuais com subsídio para o diesel no transporte público, explicou ao Terramérica o diretor de Mobilidade da Prefeitura, Néstor Campal. “Se esse dinheiro for usado de outra forma, melhorando a infraestrutura para os veículos elétricos, cujo custo operacional é menor, ganharemos uma tecnologia com muitíssimos benefícios ambientais e de outras naturezas”, afirmou. A seu ver, deve-se modificar a legislação “para que o subsídio opere equilibrando os dois sistemas”.
O ministro dos Transportes, Enrique Pintado, declarou que o “subsídio recebido pelo transporte não pode ter o contrassenso de ‘quanto mais gastar mais subsídio terá’. É preciso ter prêmios para a redução do consumo”. Ele também afirmou que o preço da passagem “tem de baixar não por força de subsídios, mas em função de um preço menor na realidade. Isso significa ser muito mais eficiente na gestão das empresas e na baixa dos custos energéticos, de insumos e das unidades”.
“Estamos assentando as bases para os próximos governos departamental e nacional serem capazes de concretizar o que hoje estamos lançando”, afirmou Pintado durante a apresentação da avaliação dos veículos elétricos. O custo tributário é outro aspecto que deve ser revisto para promover a mobilidade elétrica. A tarifa de importação dos ônibus elétricos é de 23% e para os movidos a diesel é de 6%, e estes estão isentos do imposto específico interno (Imesi). Já os táxis elétricos importados têm um Imesi preferencial de 5,75%, contra ao de 11,5% para os movidos a motor diesel.
Para definir benefícios fiscais a fim de promover essa tecnologia, o Ministério da Economia e das Finanças se integrará ao Grupo Mobilidade Elétrica.
Táxis primeiro
Este ano começarão a circular na capital uruguaia os primeiros 50 táxis elétricos. Também nas frotas de Bogotá e Londres estão sendo incorporados veículos elétricos, destacou Campal. Já circulam em Hong Kong e na cidade chinesa de Shenzhen, onde são fabricados.
Porém, ainda não está definido como serão implantados os pontos de carga das baterias para táxis e ônibus, pontuou Méndez. Além disso, a empresa estatal de eletricidade adquiriu 30 caminhonetes elétricas Kangoo Maxi Z.E., da empresa francesa Renault, para sua frota de trabalho. Envolverde/Terramérica
* A autora é correspondente da IPS.
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Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação apoiado pelo Banco Mundial Latin America and Caribbean, realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.