Por Ashfaq Yusufzai, da IPS –
Peshawar, Paquistão, 29/10/2015 – Mushtari Bibi, de 12 anos, é uma das mais de duas mil pessoas feridas em razão do devastador terremoto que sacudiu o Paquistão e países vizinhos no dia 26. “Minha avó entrou correndo no quarto para me salvar. De repente, o teto caiu e ela morreu. Nossa casa foi construída com barro, e não suportou o forte terremoto. Foi como um inferno. Mais tarde, estava no hospital”, contou Bibi.
Jyber Pajtunjwa (JP) foi a mais afetada das quatro províncias do Paquistão pelo tremor de 8,1 na escala Richter, que matou cerca de 400 pessoas em todo o país, destruiu cinco mil casas e paralisou a vida nas grandes cidades e nos povoados. O desastre tirou a vida de 200 moradores de JP, sobretudo nas áreas montanhosas, devido aos deslizamentos de terra.
O ministro de Informação da província, Mushtaq Ahmed Ghani, informou à IPS que o governo declarou estado de emergência para lidar com a situação. Foi o segundo maior terremoto registrado no país nos últimos dez anos. Em 2005, outro tremor matou mais de 70 mil pessoas e deixou três milhões sem moradia. “Estamos em pânico e passamos noites sem dormir por medo das réplicas e do que pode acontecer com os grandes edifícios”, contou Muhammad Wali, de 44 anos, que perdeu um filho no desastre. Algumas pessoas preferem ficar na intempérie por medo das réplicas.
O ministro em chefe de JP, Pervez Khattak, informou à IPS que o governo declarou emergência nos hospitais e alertou os departamentos pertinentes para enfrentar a calamidade. Especial atenção é dada aos distritos de Chitral, Shangla e Bajo Dir, ao norte, os mais afetados. “Esses distritos representam metade das perdas humanas”, acrescentou.
Muhammad Akram, comerciante em Shangla e que foi levado para Peshawar, capital de JP, para ter seus ferimentos tratados, disse que nunca viu algo tão terrível. “O tremor sacudiu todos os prédios e nos assustou. As crianças que sobreviveram ao caos continuam em estado de choque”, afirmou. Esse vendedor ambulante contou que saiu correndo em busca de abrigo e que metade de seu corpo ficou soterrada quando um muro caiu.
“As pessoas choravam sem parar. As crianças soluçavam. As mulheres saíam das casas e corriam para espaços abertos”, contou Akram. Por sorte, o tremor aconteceu no meio da tarde, o que provavelmente reduziu a perda de vidas porque a população estava ocupada fora de suas casas em seus lugares de trabalho e nos mercados, acrescentou. Ele também contou que “alguns prédios mais altos balançavam e tínhamos muito medo de que caíssem e matassem todos nós”.
O chefe do Estado Maior, general Raheel Sharif, chegou a Peshawar e ordenou que as tropas dessem assistência aos afetados nas zonas mais remotas. Sanaullah Shah, morador em Swat, disse à IPS que a situação foi terrível. “Nunca presenciei um tremor tão grave, já que no começo houve uma ligeira vibração, seguida por um terremoto de altíssima intensidade. Tudo estava em movimento”, acrescentou.
Ghulam Subkhani, diretor médico do hospital Lady Reading, para onde foi a maioria dos feridos, informou que várias mulheres sofreram desmaio passageiro e tiveram alta após receberem os primeiros cuidados. “Em muitos lugares, houve feridos pela debandada humana em prédios de apartamentos”, acrescentou. O sismo causou grandes rachaduras em vários edifícios e derrubou muros.
Aslam Khan, professor da Universidade de Peshawar, estava dando aula quando sentiu o tremor e de repente viu como alunos aterrorizados saíam da sala. Alguns recitavam versículos do Corão, pontuou. O comparecimento à universidade foi escasso depois da tragédia, por medo das réplicas, destacou.
O chefe do partido Pakistan Tehreek Insaf (Movimento pela Justiça), Imran Khan, que governa JP, também visitou Peshawar e outras partes da província para supervisionar as atividades de socorro. “É motivo de grande preocupação as pessoas não aplicarem os códigos de construção, o que gera problemas quando há tremores”, ressaltou aos jornalistas em Peshawar. No futuro, o governo aplicará medidas rígidas para garantir que os construtores apliquem os códigos correspondentes, enfatizou.
O diretor-geral de Saúde da província, Pervez Kamal, disse que a situação está sob controle. “Equipes médicas foram enviadas às regiões mais prejudicadas da província para atender os feridos”, afirmou. Cerca de 300 pacientes deram entrada nos hospitais por lesões na cabeça ou fraturas, acrescentou. Envolverde/IPS