Por Stella Paul, da IPS –
Paris, França. 9/12/2015 – Aleta Baun, da Indonésia, é uma guerreira climática. Esta mulher de 53 anos liderou, entre 1995 e 2005, um movimento social que conseguiu fechar quatro empresas mineradoras de mármore que contaminavam o ecossistema de uma montanha que sua comunidade, na província de Timor Ocidental, considera sagrada.
Após o fechamento das quatro empresas, em 2006, Baun se converteu em conservacionista e recuperou 15 hectares de terras montanhosas degradadas, reativou dezenas de mananciais secos e conseguiu o reassentamento de seis mil habitantes deslocados pela mineração.
No dia 7, véspera do Dia de Gênero na 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), que acontece em Paris até o dia 11, Baun, mais conhecida em Timor Ocidental como Mama Aleta, levou uma forte mensagem aos negociadores do novo tratado climático universal.
Para que o acordo seja eficaz, também deve incluir a igualdade de gênero e reconhecer a liderança feminina.
A realização de um projeto de recuperação da paisagem custa muito. Até o momento Baun gastou US$ 50 mil, reunidos por membros da comunidade e organizações não governamentais locais. O projeto necessita de muito mais para sua conclusão, o que é um desafio, já que não conta com financiamento oficial.Essa situação decepciona Baun, que sente que, apesar de as mulheres protagonizarem excelentes exemplos de liderança climática, estes não são reconhecidos oficialmente pelos governos e pelas autoridades políticas internacionais.
Por exemplo, na COP 21 não houve comunicação oficial entre a delegação de negociadores da Indonésia e as mulheres ativistas como ela. “Não sabemos quem são os negociadores e nem o que negociam. Sentimos que nós, mulheres indígenas, estamos sozinhas nessa luta contra a mudança climática”, pontuou.
A decepção de Baun é compartilhada por outras ativistas que expressaram sua opinião sobre o tratado negociado em Paris. O projeto, apresentado ao final da primeira semana de negociações formais, “está muito longe de ser ideal porque tem muitos parênteses que complicam o texto”, afirmou uma ativista.
“O propósito das numerosas sessões não está claro e faltam alguns elementos cruciais. Por exemplo, a igualdade de gênero está, mas os indígenas não. Uma coisa muito importante é a equidade entre gerações. Para nós é um tema central, e não está muito claro” no texto, apontou Sabina Bok, da organização Mulheres na Europa por um Futuro Comum.
Farah Kabir, diretora da organização ActionAid em Bangladesh, concorda com essa postura. Seu país sofreu fenômenos meteorológicos extremos, como inundações e catástrofes marinhas, que afetaram milhões de mulheres de localidades afundadas na pobreza. “Falta ao rascunho do tratado climático clareza em vários pontos”, afirmou.
Entre as principais reclamações das dirigentes ativistas na COP 21 está o compromisso de todos os governos no sentido de manter o aquecimento global abaixo de 1,5 grau Celsius para evitar uma mudança climática catastrófica.Para isso, as medidas climáticas que forem tomadas devem incluir o reconhecimento dos direitos humanos, a igualdade de gênero, os direitos dos povos indígenas e a igualdade entre gerações, além de oferecer fundos públicos adicionais e previsíveis com perspectiva de gênero.
Porém, os negociadores parecem estar divididos sobre a meta do aquecimento global, o que assusta Kabir. “Não está claro se o acordo vai deter o aquecimento global em 1,5 grau ou em dois graus. O segundo seria catastrófico, pois significaria mais desastres e sofrimentos para as mulheres, que já são as pessoas mais vulneráveis”, ressaltou.
A CMNUCC estima que as mulheres são uma das populações mais vulneráveis diante das variações do clima. Na medida em que se agrava o impacto da mudança climática, a vulnerabilidade da população feminina cresce e se acentua a necessidade de permitir às mulheres maior acesso às tecnologias renováveis, afirmaram muitas das ativistas presentes em Paris.
No entanto, essas tecnologias também devem ser seguras e sensíveis ao gênero, de modo a responderem às necessidades diárias e às diversas prioridades das mulheres. Também é preciso investir na formação no uso dessas tecnologias.Outra necessidade é o investimento que facilite a liderança feminina nas medidas de mitigação e adaptação, apontouNeemaNamadamu, fundadora da Mama Shuja, uma organização da República Democrática do Congo que forma as mulheres desse país em ação climática e na luta contra a violência de gênero utilizando ferramentas de meios digitais.
“Na Republica Democrática do Congo, as mulheres estão ocupadas com a plantação de árvores para ajudar a reflorestar nossas florestas. Primeiramente, necessitamos de investimentos garantidos para iniciativas como esta, que são o combate direto contra a mudança climática. As negociações bizantinas podem continuar depois disso”, destacou Namadamu.
Entretanto, para garantir maior acesso das mulheres aos fundos climáticos, às tecnologias renováveis e à capacidade de adaptação, o tratado de Paris deverá ter um enfoque de gênero mais preciso, afirmou Mary Robinson, ex-primeira-ministra da Irlanda. “Haverá um acordo climático em Paris. Não será um grande acordo, mas será bastante ambicioso”, opinou.
Segundo Robinson, “é extremamente importante contar com um acordo climático que seja ambicioso, justo e também equitativo em questões de gênero. Na verdade, precisamos de um acordo que fomente a liderança de mais mulheres”, concluiu. Envolverde/IPS