Nova Délhi, Índia, 17/4/2015 – Entre a quantidade esmagadora de informação sobre a mudança climática, seja de origem científica ou as teorias conspirativas que nunca faltam, destaca-se uma avaliação exaustiva realizada por um centro de estudos da Índia sobre os avanços em matéria de mitigação e adaptação ao fenômeno.
O informe do Instituto de Recursos e Energia (Teri), com sede em Nova Délhi, oferece um prognóstico detalhado sobre o que cada país pode esperar nos próximos anos, e constitui, de fato, um plano para a ação em um momento em que numerosos cientistas temem que se esgote o tempo para frear o ritmo com que avança o aquecimento global.
O Informe Global sobre Sustentabilidade 2015, divulgado no começo deste mês na Cúpula de Desenvolvimento Sustentável de Nova Délhi, apresenta uma lista dos 20 países, entre 193, que correm mais riscos com a mudança climática, segundo o impacto real de eventos extremos documentados os últimos 34 anos, concretamente de 1980 a 2013.
O informe do Teri cita dados reunidos pelo Centro de Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres (Cred), da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, que tem uma base de dados sobre desastres naturais dos últimos cem anos. O estudo concluiu que em 2002 multiplicou por dez o número de desastres naturais, em relação aos 50 registrados em 1975. Em 2011, 75% das mortes em razão dessa consistente tendência ao aumento de desastres ambientais ocorreram nos países em desenvolvimento.
Moçambique foi o país com maior risco do mundo, seguido do Sudão e da Coreia do Norte. Nos dois primeiros, os eventos climáticos extremos deixaram mais de seis mortos em cada cem mil pessoas, a maior proporção entre todos os países, enquanto a nação asiática sofreu as maiores perdas econômicas ao ano, cerca de 1,65% do produto interno bruto (PIB).
Em 2011, foram registrados os maiores danos em termos econômicos, cerca de US$ 350 bilhões, a maior cifra desde 1975.
A situação é especialmente grave na Ásia, onde países como Birmânia, Bangladesh e Filipinas, com cerca de 300 milhões de habitantes no total, estão em uma situação particularmente vulnerável diante dos desastres climáticos. A China, apesar de seu crescimento econômico, não pôde reduzir o risco de desastres para sua população, que, se prevê, chegará a 1,4 bilhão de pessoas no final deste ano, e ficou em sexto lugar entre os países asiáticos mais vulneráveis à mudança climática.
Os esforços sustentados de Bangladesh permitiram ao país fortalecer suas defesas contra o aumento do nível do mar, seu maior desafio em matéria de mudança climática, mas o risco é grande e segue no terceiro lugar. A Índia, segundo país mais populoso do mundo e que poderá chegar a 1,26 bilhão de habitantes até o final deste ano, ficou em décimo lugar, seguida do Sri Lanka, em 14º, e do Nepal, em 15º lugar.
Na África, Etiópia e Somália também são considerados extremamente vulneráveis, enquanto, na Europa, Albânia, Moldávia, Espanha e França são os primeiros da lista, seguidos da Rússia, em sexto lugar. No continente americano, o Estado insular Santa Lúcia está em primeiro lugar, seguido de Granada e Honduras. O país mais populoso da região, o Brasil, com 200 milhões de habitantes, ficou em 20ª lugar.
Nos 110 anos entre 1900 e 2009, os desastres hidrometeorológicos aumentaram de 25 para 3.526. Os eventos desse tipo, geológicos e biológicos em conjunto aumentaram de 72 para 11.571 no mesmo período, afirma o estudo.
Nos 60 anos entre 1970 e 2030, a Ásia sofrerá a pior parte das inundações, dos ciclones e do aumento do nível do mar. Projeta-se que este último fenômeno afetará 83 milhões de pessoas ao ano, comparado com os 16,5 milhões na Europa, nove milhões na América do Norte e seis milhões na África.
O Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres estima que as perdas econômicas globais até o final deste século chegarão a US$ 25 trilhões, a menos que imediatamente sejam tomadas medidas de mitigação e adaptação à mudança climática e de redução do risco de desastres. Os custos de adaptação ultrapassam as previsões iniciais na medida em que se passa da teoria para a prática.
As nações em desenvolvimento, por exemplo, precisam do dobro, ou triplo, do que se havia estimado, entre US$ 70 bilhões e US$ 100 bilhões ao ano até 2050, com uma escassez de fundos significativa depois de 2020, segundo o informe Brecha na Adaptação, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgado em dezembro de 2014.
Foi avaliada a capacidade de adaptação de cada país mediante indicadores como acesso a água, segurança alimentar, saúde e capacidades socioeconômicas. Nesse item, a Libéria ficou na pior colocação, pois um quarto de seus habitantes não tem água potável, 56% da população urbana mora em favelas e há grande incidência de malária, agravada pela falta de médicos, um para cada 70 mil pessoas.
No outro extremo da capacidade de adaptação, Mônaco tem 100% de acesso a água potável, nenhum assentamento irregular, zero má nutrição, 100% de alfabetização, 71 médicos para cada cem mil habitantes e nem uma pessoa que viva com menos de US$ 1 por dia. Cuba, Noruega, Suíça e Holanda estão entre os cinco países com melhor capacidade de adaptação. Por sua vez, os Estados Unidos estão em 8º lugar, a Grã-Bretanha em 25º, China em 98º e Índia em 146º.
O estudo também classifica os países segundo sua responsabilidade no aquecimento da Terra. A Grã-Bretanha é a maior responsável histórica, com 940 toneladas de dióxido de carbono por habitante, emitidas durante o auge da industrialização (1850-1989). A China foi a maior emissora de gases contaminantes em 2011, com 10,26 bilhões de toneladas, e a Índia a terceira, com 2,358 bilhões de toneladas. Envolverde/IPS