Por Maria Emília Peres*
Em 2024, emerge diante de nós um cenário crucial, em que as mudanças climáticas se solidificam como uma urgência global. Nesse contexto, a responsabilidade recai não apenas sobre governos, mas sobre toda a sociedade – sobretudo as organizações, que desempenham um papel fundamental na condução de transformações significativas. As práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança) contribuem diretamente para mitigar o impacto das atividades humanas no clima. A governança eficaz assegura que as instituições adotem políticas responsáveis, promovendo a transparência e prestação de contas em relação às suas ações climáticas. Além disso, as práticas sociais, incluindo a promoção da inclusão e diversidade, são cruciais para criar soluções mais abrangentes e equitativas para enfrentar desafios climáticos. Por isso, alguns pontos se destacam como as principais tendências de ESG para 2024, que devem ser priorizadas pelas organizações.
Emissões de carbono
Com o aumento do foco em reduzir as emissões de carbono, espera-se um crescimento significativo em tecnologias como energia solar, eólica, hidrelétrica e de biomassa. Isso pode incluir investimentos em novas instalações de geração de energia, melhorias na eficiência energética e pesquisa em tecnologias emergentes como o hidrogênio verde e o Armazenamento de Energia de Longa Duração (LDES, sigla em inglês para Long Duration Energy Storage). Empresas de energia renovável podem adotar práticas de governança mais robustas, como relatórios de sustentabilidade detalhados com metas de redução de emissões, impactos ambientais de seus projetos e iniciativas de responsabilidade social. Essas organizações podem implementar políticas para promover a diversidade e inclusão no local de trabalho, além de investir em comunidades locais, através de programas de formação e emprego para populações sub-representadas.
A indústria pode se beneficiar do aumento do interesse em finanças sustentáveis, com mais fundos de investimento e instituições financeiras buscando investir em projetos de energia renovável. Isso também inclui a emissão de títulos verdes para financiar novos projetos ou expandir capacidades existentes. Princípios de economia circular, como reciclagem de componentes de turbinas eólicas ou painéis solares no final de sua vida útil também são medidas que podem ser adotadas. Quando se fala em adaptação e resiliência climática, as companhias poderão incorporar considerações no design e na localização de novas instalações, garantindo que sejam capazes de suportar eventos climáticos extremos.
Tecnologias para ESG
Outro ponto importante são as tecnologias digitais para ESG. Em 2024, será ainda maior o volume de organizações que podem adotar Inteligência Artificial (AI) e big data para otimizar a operação e manutenção de instalações de energia renovável. Além de melhorar a eficiência, essas iniciativas podem ajudar na redução de custos operacionais e facilitar o monitoramento e relatório de indicadores de ESG. A colaboração e a formação de novas parcerias também é um caminho. Empresas do setor podem formar parcerias com governos, ONGs e outras indústrias para promover a transição energética. Isso pode incluir projetos conjuntos de pesquisa e desenvolvimento, acordos de compra de energia renovável e iniciativas de educação e sensibilização pública.
As tendências regulatórias no âmbito ESG também desempenham um papel crucial na moldagem do cenário empresarial global, afetando diretamente a forma como as organizações abordam questões ambientais, sociais e de governança. No contexto específico das regulações ambientais, a conformidade com padrões internacionais torna-se imperativa, promovendo a sustentabilidade e a responsabilidade corporativa. No Brasil, a Reforma Tributária atua como uma peça-chave nesse quebra-cabeça regulatório. Alterações nas políticas fiscais não apenas redefinem as estratégias econômicas das empresas, mas também influenciam profundamente a dinâmica empresarial, moldando o comportamento e as práticas corporativas. Esse impacto transcende o âmbito financeiro, reverberando na economia como um todo.
Reformas tributárias
Ao alinhar as regulamentações ESG, incluindo aquelas relacionadas ao meio ambiente, com as reformas tributárias, cria-se um ambiente propício para a promoção da sustentabilidade e eficiência econômica. Essas mudanças não apenas incentivam práticas empresariais socialmente responsáveis, mas também impulsionam a competitividade global, à medida que as empresas se adaptam e prosperam em um cenário regulatório dinâmico e alinhado com padrões internacionais. A conscientização e engajamento da sociedade também são impulsionados por empresas com fortes práticas ESG, criando uma pressão positiva por mudanças comportamentais e políticas mais amplas. Em conjunto, esses elementos formam a base necessária para segurar as mudanças climáticas, garantindo a sustentabilidade a longo prazo. Juntos, eles moldarão o curso das próximas décadas e determinarão o legado que deixaremos para as gerações futuras.
À medida que avançamos em 2024, emerge uma oportunidade singular que transcende as regulamentações e entra no domínio da inovação empresarial e da responsabilidade social. Este ano representa um momento decisivo para as empresas repensarem radicalmente seus modelos de negócio. A adaptação a um ambiente de mercado em rápida evolução, marcado por uma consciência ambiental crescente e expectativas éticas elevadas, é mais do que uma necessidade regulatória – é uma questão de sobrevivência e sucesso a longo prazo. As tendências sinalizam: empresas que integram a sustentabilidade em suas operações não apenas melhoram sua imagem pública, mas também veem um aumento na eficiência operacional e uma abertura para novos mercados.
Comportamento do consumidor
Além disso, há uma mudança notável no comportamento do consumidor. A consciência sobre os impactos ambientais de produtos e serviços nunca foi tão alta, com uma crescente parcela da população priorizando marcas sustentáveis e responsáveis. Este cenário implica uma virada significativa para as empresas, pois aquelas que se adaptam e inovam, não apenas alinham-se com as regulamentações e expectativas sociais, mas também se colocam na vanguarda de uma economia emergente. O ano, portanto, não é apenas um período de cumprimento regulatório, mas um ponto de inflexão estratégico para empresas e consumidores repensarem e remodelarem o futuro de nossos negócios e hábitos de consumo, pavimentando o caminho para um futuro mais sustentável e próspero.
*Maria Emília Peres é líder das Ofertas Integradas da Deloitte Brasil para Clima, Sustentabilidade & Equidade.