Ambiente

Liderança e Inspiração face à mudança do clima

Papa plantou uma árvore simbolizando seu compromisso com o meio ambiente, no Escritório das Nações Unidas em Nairóbi (UNON). Foto: PNUMA
Papa plantou uma árvore simbolizando seu compromisso com o meio ambiente, no Escritório das Nações Unidas em Nairóbi (UNON). Foto: PNUMA

Por Achim Steiner*

A visita do Papa Francisco à sede do Programa da ONU para o Meio Ambiente em Nairóbi, Quênia, essa semana, acontece apenas alguns dias antes da Conferência do Clima, em Paris. Falando do coração da África com o resto do mundo, ele vai mais uma vez se pronunciar a respeito da mudança do clima, um problema central do seu breve mandato como Pontífice até agora.

O Papa está em uma posição única. Como chefe do menor país do mundo, a habilidade de legislar sobre a mudança do clima terá impacto limitado. Mas a autoridade religiosa fala com 1,2 bilhão de católicos pelo mundo, e muitos o veem como um líder moral. Ele tem mergulhado no debate sobre esse assunto com um elemento ético que liga as questões ambientais com a visão de uma sociedade justa e igual. A liderança do Papa sobre esse assunto tem, portanto, enorme impacto.

Outros líderes mundiais estão na posição inversa. Podem ter menos autoridade moral, mas possuem uma habilidade legislativa diferente para abordar concretamente a mudança do clima.

Até agora, os governos nacionais apresentaram generosos compromissos das mais variadas ambições para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Uma análise das atuais contribuições pretendidas pelos países no Relatório do PNUMA sobre a Lacuna de Emissões (Emissions Gap Report) mostrou que o aumento previsto da temperatura global ainda vai ficar acima de 3ºC com esses compromissos, um aumento com severas consequências para o planeta.

Um certo nível de timidez infectou os procedimentos. Quando chegarmos a Paris, vamos precisar de uma liderança vigorosa e segura.

Afinal de contas, o consenso de que a mudança do clima foi causada pelo homem em todos os cantos da sociedade é uma unanimidade sem precedentes na história. Ciência e religião concordam. O setor privado, o mundo financeiro e os consumidores continuam uma única voz pela sustentabilidade. Cidadãos dos mais ricos aos mais oprimidos estão ansiosos sobre os impactos de um meio ambiente em transformação. E muitos governos locais e regionais registraram essas preocupações.

Desde 1986, a comunidade científica tem fornecido cada vez mais informações sobre os impactos da ação do homem sobre o clima. Modelos científicos atuais preveem um futuro de devastação se a mudança do clima ficar descontrolada.

Onde os cientistas abordaram a mudança climática com dados, líderes religiosos a transformam em um problema ético. O Papa Francisco disse sobre a mudança do clima que “uma mitigação determinante é um imperativo moral e religioso para a humanidade.”

A declaração do Papa ecoou pelos líderes islâmicos em agosto, quando signatários da Declaração Islâmica sobre Mudança do Clima apelou a todos os países que acabassem com as emissões de gases de efeito estufa o quanto antes. Líderes budistas e hindus fizeram apelos semelhantes.

Lendo a declaração, investidores institucionais começaram a vender suas carteiras de ativos intensivos em carbono. Assim, o grupo de investidores Portfolio Decarbonization Coalition se comprometeu a desinvestir 100 bilhões de dólares desses ativos até o final do ano. (ONU Brasil/ #Envolverde)