Por Frederico Brandão, do WWF Brasil –
Como parte das atividades de um projeto de manejo de pesca, a limpeza dos sangradouros, canal que permite acesso do rio até o lago e por onde os peixes saem e entram na época da cheia, é uma atividade de suma importância e de grande responsabilidade. Sem isso, a vegetação nativa cresce e os lagos se tornam serrados, dificultando o trabalho dos pescadores.
Pensando em solucionar esse problema, no final de 2016, um grupo de manejadores do Projeto Pesca Sustentável, em conjunto com comunidade s ribeirinhas do Acre, realizaram uma expedição para limpar sangradouros de seis lagos nos municípios de Tarauacá e Feijó (AC). No total, os 15 participantes percorreram 230 km pelo rio Envira e cerca de 150 km pelo rio Tarauacá, retirando árvores caídas, cipós e demais tipos de cobertura vegetal em estágio avançado de crescimento.
De acordo com Edvilson Cardoso Gomes, técnico da Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof/AC), parceiro do projeto, a atividade deve ser feita de forma mais constante, pois, com o rápido crescimento da vegetação, é inevitável que os lagos fiquem serrados. “A falta da limpeza prejudica a contagem, a captura dos pirarucus e o alcance da meta da cota autorizada pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC), órgão ambiental responsável. Com os lagos sujos, os pirarucus se escondem de forma muito mais fácil”, explica.
Para Moacyr Silva, gestor do projeto Pesca Sustentável no WWF-Brasil, dados de 2016 do projeto mostraram uma expressiva queda do número de pirarucus contados nos lagos que são trabalhados pelo grupo de manejo de pirarucu da Colônia de Pescadores de Feijó, causando preocupação nos pescadores. “Dentre as possíveis causas estão a presença massiva de vegetação aquática em grandes áreas dos lagos, que dificultaram a contagem dos peixes; a migração dos pirarucus para lagos mais isolados e com menos pressão de pesca; além da possível pesca clandestina, por parte de algumas comunidades e de pescadores urbanos, e de divergências em relação à área dos lagos que foram consideradas no cálculo da densidade populacional dos pirarucus (número de peixes por hectare)”, avalia.
Segundo ele, a limpeza dos lagos é apenas uma das ações previstas para tentar evitar a redução dos estoques de pirarucu, e assim favorecer a reprodução das demais espécies de peixes e das condições para a pesca de subsistência pelas comunidades ribeirinhas. “De forma a preservar o pirarucu, está sendo cogitada a suspensão da pesca nos lagos do projeto em 2017. Neste caso, a pescaria seria substituída por atividades de limpeza dos lagos e sangradouros, capacitações e ampliação das contagens de pirarucus para avaliar as populações existentes em outros lagos da área de atuação do projeto. Mas isso ainda está em discussão entre os parceiros da iniciativa”, afirma.
O projeto Pesca Sustentável é uma parceria do WWF-Brasil e do Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Tem o objetivo de capacitar pescadores para o desenvolvimento de sistemas de manejo sustentável do pirarucu, e de outras espécies de importância econômica, nos municípios de Manoel Urbano, Feijó e Tarauacá, no Acre. Para mais informações acesse o site do projeto. (WWF Brasil/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site WWF Brasil.