Por Amanda Lelis, do Instituto Mamirauá –
Uma fêmea de iaçá, espécie de tartaruga fluvial amazônica, foi recapturada por pesquisadores dois anos depois do primeiro registro. O encontro foi durante expedição de campo realizada entre os meses de julho e agosto deste ano, parte da pesquisa de monitoramento populacional de quelônios do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Com a fêmea, 125 animais tiveram suas informações individuais registradas e, após o procedimento, foram devolvidos ao ambiente natural pela equipe. As informações compõem o banco de dados da pesquisa, que é realizada há cerca de 20 anos pelo Instituto.
De acordo com a pesquisadora do Instituto Mamirauá, Ana Júlia Lenz, o principal objetivo do monitoramento é acompanhar e comparar as variações na população ao longo do tempo na região. “Com a análise de uma série histórica de dados, podemos avaliar, por exemplo, qual a tendência populacional, qual a influência do nível da água na abundância dos animais, quais os locais mais propícios para os quelônios, se a população está composta por mais jovens ou mais adultos”, disse. Desde o início do monitoramento pelo Instituto Mamirauá, já foram registradas informações de cerca de 6.500 animais.
A surpresa da expedição foi a recaptura de uma fêmea de iaçá (Podocnemis sextuberculata), principal espécie contemplada pela pesquisa, que pode medir até 32 cm de comprimento do casco e está ameaçada de extinção. Esse animal foi encontrado pela primeira vez em 2014, medindo 17cm e pesando 650g. Durante os dois anos, a fêmea cresceu mais de 5cm e 430g. Com os dados de recaptura, os pesquisadores conseguem avaliar as taxas de crescimento e de deslocamento desses animais. “O fato de recapturarmos um animal no mesmo local indica que é uma área importante para o desenvolvimento dele e que ele retorna para essa área periodicamente”, comentou Ana Júlia.
A pesquisadora destaca que os quelônios são um importante recurso alimentar para as populações ribeirinhas na Amazônia e conhecer os parâmetros populacionais das espécies contribui para uma possível avaliação do impacto dessa exploração e para a elaboração de estratégias de conservação para as espécies.
A expedição de campo durou mais de vinte dias e foi realizada em oito pontos nos rios Solimões, Japurá e em lagos da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Esse monitoramento é feito anualmente nessas áreas, onde há grande concentração dos animais no período de vazante dos rios. “Neste período, os quelônios estão saindo dos lagos e se dirigindo para os rios, onde ficam as praias de desova durante a estação seca”, comentou Ana Júlia.
Em campo, os pesquisadores registram as informações individuais dos animais, como peso e medidas. E, além disso, também são coletados sangue e parasitas, como pequenas sanguessugas que se instalam nesses animais. De acordo com Ana Júlia, a análise dessas amostras pode contribuir para uma avaliação da saúde dos animais e também para identificar possíveis doenças, às quais podem estar expostos. Após o procedimento, os animais recebem uma marca individual que ajuda a identifica-los posteriormente no caso de uma recaptura e são devolvidos ao mesmo local do encontro.
Apoio local
A pesquisa conta com as comunidades ribeirinhas para a proteção dos ninhos de desova durante a temporada reprodutiva dessas espécies, que acontece no período da seca. A previsão dos pesquisadores é que, neste ano, sejam 11 áreas de desova protegidas nos rios Solimões, Japurá e em lagos da Reserva Mamirauá. Moradores de 14 comunidades ribeirinhas estão empenhados na proteção dessas áreas. Durante a expedição, também foi realizado o planejamento e mobilização nessas comunidades para a conservação das praias, atividade prevista para acontecer entre agosto e dezembro deste ano.
Esse projeto conta com recursos do Prêmio iGUi Ambiental para a expedição de campo e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) para o pagamento de bolsas de estudo. (Instituto Mamirauá/ #Envolverde)