Por Baher Kamal, da IPS –
Roma, Itália, 24/11/2016 – Problemas com a desertificação, degradação do solo, secas, mudança climática, insegurança alimentar, pobreza, perda de biodiversidade, migração forçada e conflitos afetam a África, o enorme continente onde vivem 1,2 bilhão de pessoas em 54 países. São grandes desafios, em particular para as zonas áridas do norte da África, o Sahel e o Chifre da África, aproximadamente 1,6 bilhão de hectares onde vivem 500 milhões de pessoas, pouco menos da metade de toda a população do continente.
A rápida deterioração da situação, exacerbada pela mudança climática, mobilizou mais de 20 países que rodeiam o deserto do Saara, organizações internacionais, institutos de pesquisa e organizações da sociedade civil para colaborar na Grande Muralha Verde para o Saara e a Iniciativa Sahel, conhecida simplesmente como a Grande Muralha Verde da África (GMV).
A oficial de florestas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Nora Berrahmouni, explicou à IPS que a área central de intervenção inclui cerca de 780 milhões de hectares. “A GMV é uma iniciativa pan-africana criada e avalizada pela União Africana (UA) em 2007 para combater os efeitos da mudança climática, a desertificação, a insegurança alimentar e a pobreza”, pontuou.
Berrahmouni acrescentou “que não se trata de uma linha ou de uma muralha de árvores no deserto. É uma metáfora para expressar a solidariedade entre os países e seus sócios e um mosaico de intervenções de recuperação e de gestão sustentável da terra”. Independentemente de seu nome, o plano procura promover:
– soluções de longo prazo para problemas graves como desertificação, degradação do solo, seca e mudança climática;
– intervenções integradas que façam frente a múltiplos desafios que afetam a vida de milhões de pessoas no Sahel e no Saara, como o restabelecimento dos sistemas de produção, desenvolvimento da produção rural e centros de desenvolvimento sustentável;
– um chamado urgente a dirigentes e atores do desenvolvimento para que invistam mais em soluções de longo prazo para o desenvolvimento sustentável das zonas áridas no Sahel e no Saara.
Além disso, afirmou que se trata da “gestão sustentável de recursos naturais, como solo, água, florestas, pastagens, bem como da promoção de sistemas de produção rural na agricultura, o pastoreio e a silvicultura, além de uma produção sustentável, do processamento e da comercialização da produção agrária e dos bens e serviços das florestas”.
Outros exemplos incluem a diversificação das atividades econômicas por intermédio de centros de produção rural que estimulam a criação de empregos e oferecem atividades geradoras de renda para jovens e mulheres, e propagam o intercâmbio de conhecimento sobre as causas da desertificação e das melhores formas de combatê-la e preveni-la.
A FAO é uma sócia fundamental da UA e de seus Estados membros na implantação desta iniciativa. Na verdade, é “chave para a erradicação da pobreza e da fome e para impulsionar a segurança alimentar e nutricional no continente”, destacou Berrahmouni. Entre 2010 e 2013, a FAO se concentrou em ajudar a Comissão da UA e seus 13 membros na implantação de um entorno preparatório para implantar a GMV.
Os países que receberam ajuda dessa agência são Argélia, Burkina Faso, Chade, Djibuti, Egito, Etiópia, Gâmbia, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal e Sudão. Com fundos do Programa de Cooperação Técnica da FAO e da União Europeia (UE), a agência conseguiu implementar com êxito dois projetos complementares.
As iniciativas permitiram preparar e validar estratégias e planos de ação nacionais para implantar a GMV nos 13 países: desenvolver e validar a Estratégia Regional Harmonizada, que garanta que todos os participantes trabalhem para objetivos, visão e resultados comuns e compartilhados, e coloquem em comum uma série de práticas para conseguir a efetiva implantação da Grande Muralha.
Berrahmouni disse à IPS que, desde julho de 2014, e com apoio da UE e da secretaria das ex-colônias europeias na África, no Caribe e no Pacífico, conhecidos como países ACP, a FAO implementa o projeto Ação Contra a Desertificação, como forma de apoiar a Muralha Verde em seis países (Burkina Faso, Etiópia, Gâmbia, Níger, Nigéria, Senegal), bem como a cooperação Sul-Sul nos Estados ACP.
Além disso, a FAO apresentou, no dia 16, na 22ª Conferência das Partes (COP 22) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, realizada entre os dias 7 e 18 deste mês em Marrakesh, no Marrocos, um novo mapa com as oportunidades de recuperação no contexto da Grande Muralha Verde.
Assim, informou que é preciso recuperar cerca de dez milhões de hectares por ano e que, para isso, pela primeira vez foram identificadas e quantificadas as necessidades de recuperação da cobertura vegetal. O mapa foi feito com base na informação obtida e analisada sobre o uso da terra com a finalidade de promover a ação no contexto da GMV para aumentar a resiliência das populações e das paisagens à mudança climática. Envolverde/IPS