O manejo florestal sustentável e a energia eólica dominam o uso de recursos. Nova análise de mercado de títulos de dívida e mudanças climáticas prevê crescimento no setor de agricultura e transporte de baixa emissão de carbono.
O mercado brasileiro de títulos verdes já ultrapassou 11 bilhões de reais emitidos por empresas nacionais, de acordo com a segunda edição da Análise de Mercado de Títulos de Dívida e Mudanças Climáticas. Desde junho de 2015 (quando a BRF inaugurou este mercado) até setembro de 2017, foram emitidos 9 títulos verdes brasileiros, cinco deles no mercado internacional.
O relatório global de Análise de Mercado de Títulos de Dívida e Mudanças Climáticas é a publicação anual da Climate Bonds Initiative, encomendada pelo HSBC. O capítulo brasileiro foi escrito em parceria com a SITAWI, especialista em finanças sustentáveis do Brasil, e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. O relatório será lançado no Brasil no dia 4 de outubro, quarta-feira, com transmissão ao vivo (via webinar), na sede paulista do escritório de advocacia Mattos Filho.
De acordo com A Análise de Mercado de Títulos de Dívida e Mudanças Climáticas, a emissão de títulos brasileiros no primeiro e segundo trimestres de 2017 atingiu um total de $288,4 bilhões, com títulos verdes representando 0,2% desse total (em comparação com o mercado global de títulos, títulos verdes representaram 4% da emissão no mesmo período). Uma análise profunda do mercado também descreve as orientações de investimento necessárias para financiar agricultura de baixa emissão de carbono, energia renovável e desenvolvimento do setor de transporte urbano, além de outros projetos de infraestrutura inteligente.
Os títulos verdes foram criados para financiar projetos e ativos que tenham benefícios ambientais e/ou climáticos. Embora não haja uma regulamentação específica, os emissores devem obter uma certificação internacional ou contratar uma avaliação independente das credenciais verdes dos ativos para ganhar credibilidade junto aos investidores. No Brasil, por exemplo, 4 dos títulos nacionais foram avaliados pela SITAWI e 3 deles também foram certificados de acordo com o Climate Bonds Standard and Certification.
O estudo mostra também que os títulos verdes domésticos estão financiando uma ampla gama de segmentos, com projetos de Energia Renovável representando a maior proporção, em 42%. Agricultura e Floresta, o segundo maior, em 24%, seguido de Água, em 13%, Edifícios e Indústria, com 9%, e Prevenção de Resíduos e Poluição, em 8%. Transporte e Adaptação ao Clima compõem apenas 2% cada, um indicador da margem significativa para o investimento nessas áreas.
O desenvolvimento mais notável é o nível de demanda aumentada de produtos de investimento verde do Brasil por investidores internacionais, ressaltados na resposta a títulos verdes recentes emitidos pela Klabin ($500 milhões) e BNDES ($1 bilhão), nos quais tiveram demanda muito além da esperada. Este e outros resultados semelhantes são uma indicação de que o apetite por títulos verdes é grande e as recentes iniciativas de desenvolvimento de mercado no Brasil contribuíram para melhorar a compreensão do mercado e dos investidores em relação aos títulos verdes e seus benefícios.
Entre as outras descobertas do relatório, há evidências de que existe uma oportunidade real para financiar a expansão da agricultura com baixas emissões de carbono em escala, aumentar a diversificação de fontes de energia renováveis e desenvolver infraestrutura resiliente para atender a um novo padrão econômico no país.
Justine Leigh-Bell, Diretora de Desenvolvimento de Mercado para a Iniciativa de Ligações Climáticas:“O Brasil tem uma extraordinária oportunidade de ser o motor global da agricultura com baixa emissão de carbono e do crescimento sustentável. Para atingir esse objetivo, os bancos, corporações e governos devem trabalhar em parceria, políticas e orientações do mercado, desenvolver oportunidades de financiamento verde e explorar novas fontes de investimento”.
Gustavo Pimentel, Diretor Gerente da SITAWI:“O mercado brasileiro de títulos verdes agora deve crescer e se diversificar em setores. A energia eólica e o manejo florestal sustentável foram apenas o começo. Estamos ansiosos para ver emissões para de infraestrutura, bancos e agronegócio.”
Juan Ketterer, Chefe de Conectividade, Finanças e Mercados do Banco Interamericano de Desenvolvimento:“Para alavancar investimentos privados e conectar infraestrutura às lacunas de produtividade no Brasil, é fundamental apoiar o desenvolvimento dos mercados financeiro e de capitais, atraindo organizações nacionais e internacionais para investimentos em projetos de baixa emissão de carbono e alto impacto social.”
(BID/Envolverde)